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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

[1641]. Carta de Frei António Pimentel, capelão, para Dona Joana de Noronha, comendadeira do Mosteiro da Encarnação.

ResumoFrei António Pimentel escreve a Dona Joana de Noronha informando-a sobre uma "peça" e sobre um "homem de Cascais". Referia-se a instrumentos de feitiçaria e ao Marquês de Cascais, alvo de feitiços.
Autor(es) António Pimentel
Destinatário(s) Joana de Noronha            
De Portugal, Lisboa
Para S.l.
Contexto

Processo relativo a Frei António Pimentel, da Ordem de Avis, natural de Évora e morador na vila de Serpa. Foi acusado por feitiçaria. Quem apresentou a denúncia contra o réu foi Dona Joana de Noronha, comendadeira do Mosteiro da Encarnação e irmã de D. Álvaro Pires de Castro, 1.º Marquês de Cascais. Segundo o relato de Dona Joana, Frei António Pimentel foi falar com ela contando-lhe que D. Bárbara Estefânia Lara, Marquesa de Cascais, o contactara por ter sabido dos seus remédios. Queria que o réu "lhe desse Remédio", que ela o usaria em seu marido, que viera de França "enfeitiçado". A marquesa queria que o marido lhe quissesse bem. De acordo com o relato de Dona Joana, transmitido pelo próprio frade, o feitiço consistia em escrever num papel certas palavras, rasgar o papel em pedaços muito pequenos e depois misturá-los na comida do Marquês. O portador deste papel foi um criado do Marquês, Fernão Furtado. O frade teria pedido outras coisas para além do papel, tais como: algo que o Marquês tivesse tocado com as mãos e um lenço de que se tivesse servido. Depois de terem sido tocados pelo Marquês, a Marquesa enviou ao frade "uns bugalhos, e uma fita amarela e negra, e uma peça de fita encarnada partida em dois pedaços" (transcrição normalizada). Com estas peças o frade havia de fazer um remédio em que o Marquês "havia de andar sempre sobressaltado e o sono que dormisse seria muito desasosegado e inquieto, e lhe pareceria que tinha sempre a marquesa ao seu lado". Além disto, a Marquesa mostrou-lhe uma trança com os cabelos do Marquês, tendo dito o réu que com os cabelos se lhe poderia fazer muito mal. A carta escrita a Dona Joana (CARDS1035) é sobre a relação entre o réu e o Marquês (o homem de Cascais). Este escrito foi entregue de imediato pela denunciante à Inquisição. A delatora também entregou ao Tribunal do Santo Oficío a carta que o réu escreveu ao Marquês sob nome falso, bem como a respetiva resposta. O réu foi ter com Dona Joana para lhe contar tudo isto porque o Marquês não deu importância aos escritos do religioso, nem quis marcar encontro com ele, assim que foi ter com a sua irmã para lhe dar conta do que se estava a passar e lhe propor um "Remédio" para que nenhum mal fosse feito contra ao seu irmão. Frei António Pimentel foi suspenso por um ano da sua ordem e teve de realizar penitências espirituais.

Suporte quarto de folha de papel não dobrado, escrito no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 3810
Fólios 8r
Transcrição Ana Rita Guilherme
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Ana Rita Guilherme
Modernização Liliana Romão Teles
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Page 8r

[1]

Ontem fui á Romaria donde disse

[2]
a VSra hera esperado as ave marias
[3]
achei ser façil aver aquella pesa as
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mãos com qualquer fingimento q se
[5]
veja na otra peçoa q de mostras de
[6]
efeito da mesma pessa porq so asi
[7]
nos poderá ficar nas mãos pa sempre tam
[8]
bem achei se espera pelo homem
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de cascais oje ate menhã e andase
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com grande vigilançia sobre a sua
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vinda em rezam de se por em efeito
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o q o otro homem tem a seu carguo quan
[13]
do não obrigãno a hir a cascais asi
[14]
doente como esta e a q queira
[15]
hir com elle a por isto em efeito
[16]
pa o q se me ofereçem grandes parti
[17]
dos
[18]
[19]
asi q estimara eu vir oje de menhã o homem de cascais pa com
[20]
elle se tratar o modo com q se avia de aver em esta materia com q
[21]
ficase livre e sem estrondo, esta tarde me ha de vir a buscar o furta
[22]
do e en tendo trará aquella pesa serrada e lacrada pa ma entregar sem
[23]
saber o q trás q asi se tratou ontem
[24]
gde Ds a VSra mtos annos

[25]
de caza dominguo
[26]
e de VSra umilde capellam
[27]
fr Anto pimentel

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