PT | EN | ES

Menu principal


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1729. Carta de José Alves Pereira, cativo dos mouros, para Teotónio de Freitas, boticário e familiar do Santo Ofício.

ResumoO autor, cativo em Argel, pede ao destinatário que o ajude a ser resgatado em troca de um mouro cativo dos portugueses.
Autor(es) José Alves Pereira
Destinatário(s) Teotónio de Freitas            
De África, Argelia, Argel
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Teotónio de Freitas, familiar de um elemento do Santo Ofício, pediu uma audiência ao Inquisidor João Alves Soares para dizer que recebeu uma carta de Argel remetida por José Alves Pereira, que ali se encontrava cativo. Ofereceu ao Tribunal a referida carta (CARDS2052), acompanhada de uma outra, em árabe (CARDS4050), de um "mouro" para o seu irmão, cativo dos portugueses e a servir nas galés. Como Teotónio de Freitas não conseguiu ler o sobrescrito da carta, e não sabia, assim, a quem a devia entregar, socorreu-se de uma Antónia Teresa, solteira, filha de Felícia Nogueira e de André Fernandes, fragateiro, cunhada de José Rebelo, cativo resgatado em troca de um turco de Argel, o qual morava às portas da Ribeira. À mulher, pediu-lhe o Inquisidor que "bem e fielmente interpretasse [a] carta escrita em letra mourisca". Mas perguntou-lhe também por que razão a sabia ler, o que deu lugar ao seguinte testemunho (transcrição modernizada): "E Logo sendo perguntada se sabia ela ler, e entender bem a letra da dita carta, e quem lha ensinara, disse que por ocasião de ter em esta cidade [de Lisboa] amizade particular com uma genovesa chamada Marcelina, já defunta, que sabia a língua turquesca, da qual lhe deu algum ensino, e depois de a mesma falecer, ter ela intérprete um escravo turco chamado Heli Mamette, e se querer aperfeiçoar na língua dos mesmos, com o dito seu escravo acabou de aprender, e juntamente a ler, a língua turquesca" (fls. 354r-354v).

Tratando-se de papéis guardados num Caderno do Promotor, e não num processo inquisitorial, a documentação do caso ficou, como se esperaria, incompleta.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte meia folha não dobrada, escrita apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 293 (Caderno 100)
Fólios 348r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Page 348r

[1]

Meu sr

[2]
depois de ter escripto a vmce huma carta, se me offeresse hum nego nessa
[3]
cide com algumas sombras de comveniencia, e como eu nella não tenho de qm
[4]
me valler, e em vmce reconhesso não amizade, como tanbem prestimo,
[5]
me he precizo recorrer à sua pessoa, pedindo-lhe pro disfarce tanta impertinen
[6]
cia com q o molesto; e vem a ser o cazo q me falla hum mouro q tem nessa
[7]
terra hum Irmão, e pregunta q se tenho qm nessa cide me valha pa q este alcansse
[8]
o ser solto, não terá duvida a tirarme deste captivro, emportunandome que
[9]
faça com brevide esta deliga; eu q me vejo empocebelitado pa este nego, e me vejo pre
[10]
ceguido de seus rogos, lhe pedi hũa carta pa o tal Irmão q remeterei dentro nes
[11]
ta, pa q vmce lha mande emtregar, e veja se tem isto algum caminho, avizeme
[12]
de tudo e o q paçar com o mouro; e no cazo q este lhe pessa a vmce algum dro, ou lhe
[13]
diga q pa me tirar de he necesario dar algumas moedas, se estas não fo
[14]
rem mtas mas sim em tal quantide q nos faça conta, em tal cazo lhas
[15]
pode vmce prometer, porem não dar couza nenhuma, sem pro me avizar do
[16]
q com elle tem paçado, porq qro com seu Irmão ajustar o como isto ha
[17]
de ser; tudo isto ha de ser se com o seu poder e ajuda de algũns amos vmce
[18]
lhe puder alcansar Liberde, o q emtendo será facil, pello pouco cazo q El
[19]
Rey faz em comceder semelhantes mces; q se por desdita lhe sentir algum imco
[20]
modo, ou emtender q daqui se nos pode oreginar alguâ tratada, q ao depois
[21]
nos seja maes costoza, em semelhante cazo não me fas conta q nisto se falle,
[22]
emfim como vmce he em tudo perito, e não ignora estes negos, de vmce espero
[23]
o milhor aserto, e toda a noticia neste par, como tanbem ocazioins em q possa
[24]
ocupar a minha vonte, porq suposto não posso servillo, supre a vonte ao de
[25]
zo, este tenho mto grde de q logre saude, e pesso a Deos o gde como dezo

[26]
Argel 15 de Mayo de 1729 De vmce mto obrigdmo e Criado
[27]
Jozeph Alves Pra

Representação em textoWordcloudRepresentação em facsímilePageflow viewVisualização das frasesSyntactic annotation