O autor conta a um membro do Santo Ofício, seu amigo, que está injustamente preso. Pede-lhe que verifique como as suas razões são verdadeiras.
[1] | João cajado pellos mtos encarecimentos q o Pe
Vgro escreveo o qual
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[2] | uzou comigo nesta prisão
como Vil e baixo inimigo do infimo
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[3] | animo porq não perdoou a todo genero e especia de crueldade, e rigor
e
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[4] | tirania a 10. de Marco me prenderão o capam da Cidade meu inimigo capl
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[5] | por causa de D Ph
e me disse que me prendia por ordem especial que
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[6] | Vinha de Vm e do sr inquisidor João de Barros por causas
da santa fee
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[7] | pasmei e repasmei e ainda estive pasmado e Bpo me disse q elle me mandara
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[8] | prender e joão alvres me disse
q por culpas do Reino o Vigario geral
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[9] | me mandou meter no Aljube q he hũa enxouvia de terra e mandou
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[10] | tapar
hũa genella de barro e a porta e na genella e porta pos sesenta
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[11] | e quatro grades com o que ficou hũ
puro inferno e so ficou hũ buraco
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[12] | por onde entrava a comida Não permitio q Eu nem pecoa algũa
estivesse
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[13] | presente ao faser do inventario de meus bens tomoume todos os papeis
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[14] | cartas escritos provisois devacas portarias q erão
mtos porq cada dia D Ph
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[15] | me passava portarias. Andou publicando e lendo as minhas cartas
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[16] | q
eu escrevi ao sr V Rei a Relacão e a s mgde e mostrando os escritos
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[17] | de Dom Phel q
erão sem conto q foi o q mais este fidalgo e Eu
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[18] | sintimos e q merece castigo desse tribunal Lancou fama pa
q o povo
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[19] | q estava todo da minha Pe me não favoresese q eu matara em Lxa
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[20] | o coleitor e
q hũ irmão meu queimarão em Lxa e q Eu ja saira com
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[21] | sambenito e q meu pai fora queimado q
por culpas do Reino me
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[22] | prendera q eu aprendera em salamanca e q hera feitiseiro et
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similia. Pello q si posibile est e se a justisa o permite ordene Vm
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[24] | q antes q Eu va
a esse Tribunal se possa saber a verdade e se faltar
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[25] | hũ ponto de tudo o q aqui digo Eu quero q Vm me mandem
queimar
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[26] | vivo sem me ouvirem e se for verdade como he o q digo resão e mta
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[27] | justisa sera mandarme daqui donde estou
restituir ao meu officio
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[28] | e bens q não sera boa resão de estado disimular com hũa turbillã
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[29] | çea tão desatinada e tão notavel
escandalo e quando não possa
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[30] | ser isto com esta brevidade q Eu creio q se puder ser Vm o fara
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[31] | permita Vm
q nessa Cidade esteja preso em hũ dos conventos della
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[32] | ate ser ouvido e mercendo ser recolhido nos caseres não foge o tempo
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[33] | porq
meu snor isto se custuma hoje mto no Reino a pecoas conhesidas
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[34] | q o rigor grande
dos caseres se ordenarão pa judeos daquelle tempo
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[35] | todos judeos inteiros e pebleios como Vm milhor sabe.
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[37] | Não
sei se me durara tanto esta triste e aborecida Vida pello q
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[38] | por amor de Ds q Vm loguo a
minha custa me mande hũ patamar
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[39] | Com expresa ordem q o Bpo e frei fco não tenhão poder nẽ jurisdi
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[40] | cão
algũa em mi aqui ha prelados de S frco e da compa q esta
aqui
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[41] | o Pe Gaspar de avilar grande Letrado da compa q he meu confesor
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[42] | e
o captam q he fidalgo e mande Vm mto declarada e expecificada
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[43] | a ordem com q me
hão de tratar e dar de comer e tirar estes crueis
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[44] | ferros e sendo nesesario merecendoo minhas culpas hũa corrente
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[45] | em hũ so pe bem basta
pa seguransa. Foi tão Cruel o Pe frei fco
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[46] | q me entregou a hũ Negro seu Crioulo hũ Cachoro sem piedade
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[47] | e ao
meirinho dos clerigos e ao aljubeiro q a ambos prendi antes
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Ceuta
hoje 4 de
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[49] | junho. 642.
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