O autor escreve a Ana Vitória apaziguando as
suas inquietações, já que a destinatária, numa carta enviada ao padre,
se terá demonstrado preocupada com a sua conduta fora do usual. O autor
encoraja-a a pensar que isso são ações do demónio e que a sua atitude é
exemplar, já que recorria sempre à ajuda de alguém da Igreja quando
tinha pensamentos ou ações menos escorreitos.
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J
M
J,
Minha mto amada filha em Jezus Christo este Sr te assista sempre com a sua di-
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[2] | vina graça pa
q em tudo acertes a fazer a sua
ssma
vonte Recebi a tua carta, e no
q Respei-
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[3] | ta á repugnancia,
q sentes pa me
escrever, bem podes supor q he cauzada pello demo-
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[4] | nio, como o era tãobem a repugnancia, q
tinhas pa te hires confessar comigo, deves vencer
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esta repugnancia pa assim triunfares de teu inimigo; e
podes escrever com todo o dezem-
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[6] | baraço,
q eu não me escandalizo de couza alguma,
q tu me dizes. O
q quero he q sejas
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bem amiga de N
Sr e q o sirvas com
cuido e diligencia, e
q não largues mão da obra
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q começastes, e de mais nada faço cazo
especialmte do q
pertence a mim. Eu sempre Res
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[9] | pondo a tudo o
q me parece ser precizo, e conveniente
pa o socego da tua conciencia, e se a
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alguma couza não respondo, será couza de pouca importancia, mas tu dize, e escreve
como
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[11] | quizeres, q eu bem entendo a tua letra, nem
me aborreço das tuas cartas. Essas persuaço
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[12] | ens,
q tens sobre este ponto são desconfianças tuas
atiçadas pello demonio pa ver se deixas
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[13] | de
escrever. Não lhe faças o gosto, e se em escrever tens mortificação, e trabalho,
offereceo a
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[14] |
N
Sr e faze-o pello seu amor,
q sempre nisso tens
mericimto O peyor he andares tu emteada
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[15] | com teas
de aranha, e não estares pello q eu te digo. He certo
q eu te tratei tempo bastan
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[16] | te,
tenho conhecimto da tua conciencia, das tuas
tentaçoens, e dos teus escrupulos, e podes se-
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[17] | guramte estar pello q eu
te disser; pois julgo q agora não fazes outra casta de
peccados, nem
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[18] | tens mais do q então tinhas, e
sendo isto assim q precizão de
tens de te confessar das ten-
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[19] |
taçoens senão em geral, sem explicar couza alguma em
particular? Isto he o q deves fazer
pa
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[20] | teres socego, e não te fazeres pezada aos
Padres, nem te pores em estado de te não poderes
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[21] | confessar,
q isso he o q o
demonio pertende; Cuida em fazer a tua oração, e não faltar
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[22] | a ella sem motivo,
ou cauza mto justa, e supra esta falta,
qdo a tiveres, com a
preza
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[23] | de N
Sr e foge logo pa elle
qdo sentires alguma tentação, e não te ponhas
nunca a exa-
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[24] | minar como esta foi; porq
isto he mto prejudicial a Pessoas escrupulozas, como
tu es. Con-
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[25] | fia em Ds e espera nelle, e
faze actos de amor seu, e entregas do teu Coração; porque
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[26] | o amor de
Ds he q te ha de
illustrar o entendimto
pa
condenares essas parvoices com
que
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[27] | andes enredada. Amor, filha, amor, e humilde
são as virtudes, em q mais te deves exercitar
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[28] | e
conformide com a
vonte de N
Sr E como mtas dessas
couzas, q experimentas são obras
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[29] | do demonio, eu
lhe mando em virtude do ssmo Nome
de Jezus, q de todo se aparte de
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[30] | ti, e te não
persiga de sorte alguma, nem com sono pella manham, nem com moleza, nem
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[31] | com
fastio, nem de outra alguma sorte, mas q desde ja
suspenda toda, e qualquer operação
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[32] |
q em ti tenha, e te deixe de todo Livre
pa poderes servir a N
Sr com todo o dezafogo, e
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[33] | dezembaraço, e tu tem
animo, e fé. Encomendame a No
Sr
q te gde como
mto dezejo, abra
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[34] | ze no
Sto amor.
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[35] |
Faro
vinte e nove de Julho.
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[36] |
Fr
Nicoláo.
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