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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1679. Carta de António Osório da Fonseca, padre, para Manuel de Mira Borralho, comissário.

ResumoO autor denuncia a bigamia de Inácio de Medeiros.
Autor(es) António Osório da Fonseca
Destinatário(s) Manuel de Mira Borralho            
De Portugal, Setúbal, Alcácer do Sal, São Romão
Para
Contexto

Este processo diz respeito a Inácio de Medeiros, natural da cidade de Beja e morador na vila de Ferreira, barbeiro, filho de Tomás Camacho e de Maria Luís. O réu era acusado de bigamia. Estando ainda viva a sua primeira mulher, Ana dos Reis, casou-se com Brites Nunes, na Ribeira do Sado, freguesia de São Romão. A dita primeira mulher, que prestava assistência em casa do seu amo, Jerónimo Pimenta, soldado reformado, na rua da Amendoeira, em Lisboa, mudou então o seu nome para Maria Soares.

Uma vez que não constavam dos livros dos casados nenhum dos dois casamentos do réu, foram inquiridas várias testemunhas que, na sua grande maioria, confirmavam que o réu tinha vivido maritalmente com Ana dos Reis, agora conhecida como Maria Soares, e outras que confirmavam o segundo casamento com Brites Nunes.

Em interrogatório a 7 de novembro de 1681, em Lisboa, Ana dos Reis disse que mudou o seu nome para Maria Soares quando foi para Lisboa, porque tinha medo que o marido a encontrasse e a matasse. Quanto à sua relação com o Hospital de Todos os Santos, disse que nunca lá tinha estado doente e que só lá tinha ido uma manhã para acompanhar Maria da Nóbrega, sua amiga: por esta estar doente e ser muito pobre, Ana dos Reis apadrinhou-a, juntamente com Dona Ana, filha do médico do dito hospital, Hipólito Gido. Disse ainda que soube que o marido se tinha casado uma segunda vez, por ter sido disso informada pelo seu genro, Manuel de Andrade (casado com Isabel Dias, sua filha), havia na altura cerca de quatro anos.

Também sob interrogatório, o réu Inácio de Medeiros confirmou o primeiro casamento, mas disse que depois da sua mulher se ter ausentado chegaram-lhe notícias de que esta tinha morrido, tendo até comprovado o mesmo com uma certidão do seu falecimento no hospital, passada por Matias Correia e Domingos de Mesquita Teixeira. A partir desse momento, tinha-se considerado viúvo e voltou a casar com Brites Nunes, com a qual fez vida marital. Segundo ele, foi depois preso por denúncia do seu sogro, pai de Brites, mas nunca chegou a ter notícia de que a sua primeira mulher estava viva, pelo que pedia perdão.

A Inquisição achou que o réu agiu de má fé e que tudo o que disse era falso. Inácio de Medeiros foi então condenado a fazer abjuração de leve de suspeito na fé, a ser açoitado pelas ruas públicas da cidade e degredado para as Galés por 7 anos, onde devia servir ao remo sem soldo. Devia ainda ter cárcere a arbítrio dos inquisidores, penitências espirituais e instrução ordinária. Pagaria também as custas. Durante o degredo, o réu adoeceu fortemente do estômago, o que fez com que cumprisse o resto que lhe faltava já no Algarve.

Suporte meia de folha de papel dobrada escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Évora
Cota arquivística Processo 1482
Fólios 77r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Clara Pinto
Modernização Clara Pinto
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2010

Page 77r

[1]
Sor Mel de Mira Borralho

Nesta freguezia de S Romão

[2]
termo de Alcacere se recebeu In fa
[3]
cie Eclezia, prosedendo todas as
[4]
delligensias do estillo Ignasio
[5]
de Medeiros, o qual não esta no Livro dos cazados o q seria por
[6]
esquesimto do prior Luis Lobo
[7]
de figueiredo q Ds tem, cotudo
[8]
a sinco annos q esta resebido
[9]
e fazendo vida marital, Bri
[10]
tes Nunes, e agora veyo nova
[11]
q a pra molher esta em Beja
[12]
e elle estando sangrado mtas
[13]
veses estava ja fugindo, o sogro
[14]
me recreo o prendese pa q não
[15]
ficasse sem castigo, e eu dis
[16]
cursando, a delligensia q se me
[17]
fes por parte do tribunal do
[18]
sto oficio, por Vm; o pren
[19]
di, e dou conta a Vm, q como comissario deve acudir a isto, e ordenar o q
[20]
ei de fazer S Romão e de fevreiro 19 de 679 annos

[21]
Cura de S Romão
[22]
O Pe Anto Osorio da Fonca

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