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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1720. Carta de José Rodrigues Leitão Vieira para António Ribeiro de Abreu, mestre e inquisidor.

ResumoO autor denuncia Manuel Pereira por ter queimado um painel de Nossa Senhora da Conceição na cadeia.
Autor(es) José Rodrigues Leitão Vieira
Destinatário(s) António Ribeiro de Abreu            
De S.l.
Para Portugal, Coimbra
Contexto

Manuel Pereira, de 19 anos, assistente na cadeia do castelo de Lamego, sendo o seu pai (João Pereira da Silva) ali carcereiro, tomou da mão de Manuel Teixeira, preso na mesma cadeia, um painel que tinha estado na cabeceira da cama de Manuel Tavares, varredor da mesma cadeia. O painel tinha a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Do processo consta que tinha uma outra imagem que dobrou nas mãos e lançou ao lume, calcando-a, para que se queimasse. Sendo censurado pelo preso José Rodrigues Leitão Vieira, respondeu Manuel Pereira que era melhor queimá-la do que trazê-la debaixo dos pés. Consta ainda que Manuel Pereira, apesar do sucedido, era moço de perfeito juízo e de bons costumes e que naquela ocasião não estava bêbado, nem costumava estar; antes estava rindo com os presos. Manuel Pereira confessou o que fizera, mas apresentou uma versão diferente. Disse que Manuel Teixeira lhe atirara o painel velho e roto, sugerindo-lhe que tirasse dali uma tomba (remendo) para o sapato. Para evitar desacato e porque o dito painel já estava disforme e roto, Manuel Pereira decidiu atirá-lo para o lume. Afirma que não o fez em desprezo do dito painel, até porque era cristão e temente a Deus. Para provar o estado do painel, apresentou à mesa de confissão um pedaço que ficara pregado na porta. Acusa os presos de serem seus inimigos e inimigos de seu pai, pelo que suspeita ser essa a razão pela qual fizeram queixa ao Santo Tribunal.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte meia folha de papel de carta, escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 341 (Caderno 44)
Fólios 214r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2007

Page 214r

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Sr Inquezidor Nam paressa

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a Vm q por ser Couza de prezos desaCre
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dita o q nesta se delata mas antes tenha Vm
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por mto Verdadro o q abaixo se dis
[5]
[6]
Em 24 de Dezbro de 719 nesta Ca
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deya de Lamo sossedeu hum Cazo q a todos
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ademirou e o esCruplo nos moveu a fazer es-
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ta pedindo, q em nenhû tempo sejamos
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desCobertos por não sermos aperreados: e vem
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a ser q o ffo de Crsro por nome Mel pra quei
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mou no lume hum painel da Senhora da
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Conceição e outra Imagê e esteve sobre o
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Lume mto tempo sem querer arder o q a to
[15]
dos Causou grde esCandallo, e vendo o do Mel
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pra q não queria arder a esfregou nas ma
[17]
ons e fes queimar a força de q ouve mtas
[18]
testas e em par as q abaixo se asinam por
[19]
Criados de Vm a qm Ds gde Lamo 4 de Janro
[20]
de 1720 a

[21]
Joseph Roiz Leitam
[22]
[23]
[24]
de Do Vra
[25]
Mel de Oracio
[26]
Mel Teixra
[27]
Nicolao Justo
[28]
Francisco Bento de Baboza

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