Illmo Sor
Sempre comfesarei as obrigaçoins em q vivo mto lembrado das mtas
honras, e fa
vores q devo a alma do sor Diogo velho irmão de va
illma q tenho na mes
ma estimação de meu amo, e sor
como delle sempre me amparou das vezes
q andei embarcado com elle, nesta pasajem do
brazil para o Reino, e muito per
di com sua morte
permitta Ds Lembrarse de sua alma, e comservar a
va illma
em sua graça Devina com perfeita saude, e dilatados annos pa
o bom guoverno
e direcção da prizidencia do soberano tribunal do sto officio, e amparo dos
fi
eis, e comservação da nossa sta fee.
Meu sor aos Illmos
Senhores inquizidores do tribunal soberano q va Il-
lma prezide fis
patente na frota passada e ao depois no navio do torrão, q par
tio atras por cartas firmadas por mim,
q na frota do anno de 88 intentava em
barçarme a dar noticia de
serta materia de mto grande pezo e concederação do
serviço de Ds por cauza de me
sobrevir hum achaque nos olhos q me privava a vis
ta não consegui, e na frota seguinte de 89 estando
pa seguir viagem prendeu
me o meu B D Juzeph de barros de
Alarcam, de q tambem dei parte aos dos se
nhores, depois disso se moverão outras
consequencias por me ter reteudo na prizão
sem recurço de me dar livramto, nem deferir minhas
peteçoins, ou remeterme a
S M q Ds
gde de quem publicava era eu prezo pa poder ir dar satisfação de mim e
do
q nesta frota faço menção aos mesmos senhores, e em particular a V
Illma
Dous annos ha q me tem prezo con tanta avexação como he notorio a todos,
e
apurado eu de tam perfiada tirania de me não dar recurço a essas culpas, q me
formou na
vizita desta injustissa, e violencia fis fuga, e não da prizão fui a
buscar o sagrado das Igrejas, como tinha dito
q era prezo da S M pa dali
ir em minha liberdade perante a pessoa
real, e dar parte do avizo q ti-
nha feito aos Illmos Senhores Inquizidores; tanto
q me vio nesta liberdade
mandou publicar excommunhão q era prezo do
sto officio pa q me não va
lese a inmunidade, aos fieis, e com esta
nos atimidou a este povo, e as relijio
ins valendose do brasso sicular, e tiroume do Collejo da compa
e tem me mais
oprimido com ferros sem me querer remeter nesta frota, visto dizer de novo q
sou
prezo do sto officio, dizendo ate agora q era de S M, e
deixame nesta pri
zão dizendo q não he menos juis, e q tem avizado con tenção de
me acabar
a vida nesta prizão tam dilatada pa q não seja ouvido, emqto
me vem re
curço quer dar diante sua informação como lhe pareser pa pervaleser o seu
odio, e
tenção com q me chegou a este estado.
Va Illma he christianissimo
pa me deixar o meu direito rezervado, e ser tam
bem ouvido qdo for; por
emqto dou parte por maior, do motivo, e leve sospeita
q teve de mim, pa
uzar commigo de tanto rigor com poder do cargo. A total
cauza e motivo q tomou pa
me prejudicar na honra, fazenda, credito, e na pri
zão q me tratou pior q a hum bruto;
foi por eu confiar, e ofereser o necessario
ao sindicante Belchior da cunha
broxado pasando pella minha freguezia q
se recolhia pa a Bahia depois de sindicar delle
por ordem de S M sem ser eu
sabedor q rezido desta cidade mais
de cem legoas, daqui nasceu toda
a minha ruina; como he odiozo, e vingativo, asim q chegou com a vizita
tais
diligencias fes por me formar culpas, comvocou a huma conjuração contra mim
Que me causou tais
culpas tam supostas, e falsas, a fim de me destruir, e
imfamar, q fas tremer a terra os meyos
q buscou pa isso, q parese couza
inercimel q hum Princepe,
ecleziastico chegase a fazer tal contra seu
subdito, q não tem offendido, e como elle obrou diãnte de
hum povo
tam publicamte contra mim não se pode emcubrir esta verdade, e mi
nha emformação constrangendo a todos os freguezes com excommu
nhacois q fasem perante elle, e os amotinou de forte, q foi hum
dia de
juizo, dizemdo q era ordem de S M pa me prender,
q por favor de
Ds me não matarão alem de outras mtas acçoins q obrou em
dano
meu, q deixo rezervado pa me queixar perante v Illma
q eu não come
ti crime nenhum, e me acho com a
concientia segura, pois bem con
sta por cartas minhas aos
Illmos senhores inquizidores, o dezejo q
tenho de ir Suposto, q he em
outra materia, e agora com mais rezão
da falcidade, q
me imputão pa q se conheça a minha ignocentia
q Ds me fes m
de limpo sangue, e procedo de huma familia q nella
ouverão mtos grandes Princepes, ecleziasticos
Columnas da Igreja
e meu irmão D Constantino Sardinha Rangel he o Bispo de S
thome de Meliapor na xina, com mto grande fama pello mundo de
seu talento, e procedimto.
V
Illma he o q prezide no soberano tribunal do sto officio, ahi
Sebastião Dias velho, q he o mais pa amparar aos
aflijidos, q se
valem do seu favor, e compaixão: portanto peço a v
Illma me va
lha pellas sinco chagas de
nosso Sor Jesu christo a q venha ou
a
algum commissario, e não ao vo gl João pimenta de carvalho
pa
q me remeta logo a esse sto tribunal con toda a brevidade po
sivel, como he estilo
uzarse com semelhantes prezos ja q o meu
Bispo me quer fazer judeu. e
perdoe v Illma minha confiança
q he nascida da mta
Sem rezão, e excessiva pena, e dilatada pri-
zão a pessoa de V Illma
gde Ds por felecissimos annos.
cadea rio de
janeiro
4 de junho de 1692 annos.
De V Illma mto humilde, e obedientissimo servo
o Pe Vo Franco guomes Sardinha. etc