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Maarten Janssen, 2014-

CARDS0138

1823. Carta de António Simões Machado, capelão, para Estêvão Ferreira da Cruz, corregedor.

Autor(es)

António Simões Machado      

Destinatario(s)

Estevão Ferreira da Cruz                        

Resumen

António Simões Machado, vítima de roubo, conta ao corregedor o que sabe acerca dos ladrões da Carapinheira.
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Ilmo Snr Dr Corregedor

Constando-me que VSa se ache encarregado de conhecer 1 dos Ladroins da Carapinheira, e seus socios: como cidadão interessado no bem, e socego publico, assentei de meu dever dizer tambem o q seei, e me consta, acerca deste objecto Sendo sem duvida estes, com outros alliados em numero de 17 ou 18 os que arrombando-me a janella do meu quarto, achando-me a dormir, me faquearão, maltratarão, querendo matar-me e roubar-me, como constará do exame, que se fez ex officio, pelo Juiz de Fora, ou crime de Coimbra: pois q elles forão vistos passar pa , por mtas Pessoas, q ajuizarão empreza; Vendo q o Ministro inquiriu com rigor, e que ficavão alguns culpados, assentando impulsos meus quizerão ultimar a obra q havião começado, matar-me, e roubar-me; pa q hu Franciscâno Fr Miguel, capataz destes ladroins, que rezide em casa de hua Luiza Rama, sua concubina, no cazal do Meco, perto da carapinheira, convidou a Antonio Coutinho, da Villa de Tentugal; o qual, escandalizado de hu tal convite feito em dezonra da sua Pessoa, e familia, me veio avizar; e pedindo-lhe eu q aceitasse, e viesse na sucia, dezignando o lugar onde elle aqui havia de portar-se, emquanto os ladroins entravão em minha casa, não vierão, ou porq sentissem Auxiliares de q estava goarnecido o Passal, em volta da Rezida ou porq nessa noite se armou na rua hu descante à viola, q durou até pela manhaã sendo certo q passarão na vespera, por cantanhede, até cuja entrada os acompanhou o do Antonio Coutinho, que pretextou ficar atraz, por se envergonhar de passar por aquella Villa, com tão escandalosa, conhecida, e publica companhia: mas mediante o convite, até o dia ajustado, lhe escreveo o do Fr Miguel esses dois escritos q envio, q forão 2o e 3o sendo pr sentir ter-se descaminhado o pro em q lhe dizia trouxesse comsigo mais dois, se os achasse; trez alfinetes do peito , facas , e armas curtas. Naquella Devaça ex oficio, ficarão culpados trez, a saber, hu Vicente Ferra aqui assistente, q se acha na Rellassão do Porto, pela fortuna q teve, em o fazer prender: hu Martinho Jose Fontoura, organeiro, aqui assistente, o qual tirou seguro, e lho concederão no Porto, onde corre o seu livramto não obstante ser o crime de faca; ao do Fr Miguel, a qm ninguem prende. Extraindo eu ordem de prizão contra elle, e pedindo a Jose Maria, comandante de Milicias do Regimto da Figra pa pelos seus officiais de Tentugal, ou Montemor, o fazer prender; promettendo-me aquelle digno chefe, nada se tem effectuado, nem tentado. Seei que ordens do Serenissimo Infante, o Snr D Miguel, dadas positivamte aos Regimtos de Coimbra, Figueira, e Aveiro, pa prenderem os ladroins da Carapinheira, ou do campo de Coimbra. Seei q o actual Snr corregedor de Coimbra, supponho q por Ordem superior, tirou Devaça destes ladroins, e particularmte do do Frade; e passou Ordem pa ser prezo, e a da Luiza Rama, sua concubina; mas elles estão em descanço por ora. seei porem tambem a Razão por q o não prendem, e a ella, e vem a ser por ter ella em caza mtas armas, e estar a casa estrumada de chumbo, q se apanha ás mãos cheias, como fez hu; q o trouxe ao Pe Jose da Costa, cura da Povoa, perto de Tentugal, q me disse querello pa atirar aos patos, por ser grosso. Talvez por virtude daquella Real Ordem, os Meliciannos do Regimto de Coimbra, fizerão montaria no choupal, e talvez em outras ptes q não sei; mas isto servio pa os ladroins se pôrem ao largo, por outo dias, se tanto, como por aqui andarão alguns. Nada se faz, a meu ver, emto não for cõmettida a deliga juntamte com Tropa paga, a Menistro desocupado; e me lembro do Dr Jose Joaquim de Moura Machado, da Va de Montemór o velho, por ter sido cooperador de D Franco de Almada, e seu confidente, em 9 annos q este Menistro esteve em PennaFiel. O meio mais obvio pa se vir no conhecimto da maior parte destes ladroins, he fa-zer prender a da Luiza Rama, porq como o seu Barraco Frade, he o capataz, em sua casa se ajuntão mtas e frequentes noites, companheiros; ali fazem comezanas de chibos, galinhas br ali vem ter as bestas furtadas, e outras couzas; e ella mesma, qdo elles sahem, lhes recomenda q não venhão sem nada, esta os declara; e dipois na prizão, e segredo, hus descobrem os outros, à força de ferros, necessarios, pelo segredo q elles se compromettem. A vista desta minha informassão, e de outras q terá, Rogo mui at-tenciosamte a VSa queira promover, qto lhe for possivel, pa o nosso socigo; pois independe de tudo, o do Frade, diante de mais de doze Pessoas, deste lugr protestou, em dois dias successivos, que me havia de tirar a vida, antes de outo mezes; e q qdo ordinariamte o não pudesse fazer, mesmo ao Al-tar me vinha matar; por cuja cauza, tracto de sahir da ma Igra por hu Breve de non residendo O do Franciscanno, ladrão desde piqueno , he natural daqui , tendo, como agora andado apostata, amancebado aqui perto, roubando por mtos modos, praticando outras couzas até indignas de christão, e por isso sido prezo, annos, e remettido ao seu convto ultimamte vindo pa o convto de Sta Cristina, perto de Tentugal, extraviando-se dahi, pa caza da da Rama, foi, com dois outros companheiros, ao convto deu hua facada na cara do seu Guardião, pa q lhe dissesse onde tinha o dinheiro, e o roubou: isto haverá trez mezes. Todos estes factos merecem hũa attenção mui particular do Nosso Soberano, q pa isso Envia aos seus Menistros, q julga dignos do cumprimto da sua Real Vontade. Ds guarde a VSa ms annos.

Rezida de Murtede 9 de dezembro de 1823 De VSa O mais fiel, e attento servidor Antonio Simoens Machado

Aquelle Martinho Jose Fontoura tem, alem do crime q se me fez, outro em Bragança, de roubo, e morte Mandando-se vir Ordem de prizão, não apareceo no corro dezendo-se ter vindo, mandou-se repetir, não tem chegado, sendo dois Lentes de Coimbra os q a pedem.


Leyenda:

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