Illmo Senhor
Dezejando não perder momentos que poderão sér
preciósos para a cauza d' El Rei, e da Patria, que
sempre
servi; fortefico hoje uma idea que apenas hontem
ennunciei: e he a seguinte: N'esta cadeia
se áchão á
tempos presas pessoas que, segundo noções, devem conhecer
o emportante negócio
de que hontem tratamos: estas
pessoas conservarão o segredo não obstante
todos os
apprestos judiciarios por que passarão; se VaSa julgasse
conveniente
pôr-me em livre contacto com os mencio
nados presos, estou quasi certo, que d' elles
obteria confi
dencialmte importantissimas revelações, as quaes conbina
das com as que ja fiz, poderia
priencher o objecto a
que
voluntariamte me havia, proposto, e que tão
solennemente prometi a S M nosso
Soberano.
Tãobem dezejo que VaSa tome em
consideração
que o Brigadeiro Azevedo, poderá muito bem sér a
personagem de quem mysteriósamte
Caetano me fal
lou; pois dous motivos me fazem assim suppór: o
1o he a repugnancia que éste teve de avistar-se comi
go, a qual pode nascer d'uma
nóta inserida n'uma
das folhas do meu Óraculo, na qual digo, "Em Lis
boa se paceão certos figurões, que n'outro tempo fi
zerão altas dilligencias para me extrair morto ou vivo
d' Hespanha, pára o que offerecião sommas immensas"
Estes
figurões entendesse por Azevedo, e Stabres, então
Commandante general do Alentejo: o 1o mora ao ar
co do Bandeira; e
converia observar se Caetano o fre
quenta, pois em tal cazo teriamos dados approxima
tivos
dos quaes
facilmente estabeleceriamos um angulo
probablidades, que nos conduziria a evidencia.
He de
meu dever fazer esta nota VaSa d'ella
fará o uzo que julgue conveniente.
Illmo Senhor,
Sou de
VaSa attento Venerador
Candido Almeida Sandoval.
Lisboa
19 de Septembro de 1823.
Confidencialmente