16 de Julho 1657 Irmã minha.
E da minha alma
Não lhe encaresso o gosto, que recebo cõ novas suas, E saber que cõ esta idade pas
sa,sẽ achaques, sustentamdoa Deos, para emparo desse dezemparo, porque
por ssi o yulgara, delhe nosso senhor Vida para que minhas sobrinhas cõ Vm passem
cõ mais alivio seus trabalhos, E lhes sirva Vm de bordão, ou palmatoria, que ain
da, que não dé temece. De mĩ não sei, que relate mais que viver ja morrendo E como
o Perdigão sẽ pena quatro para sinco mezes pacei agora eu hũa viva dezen
quietassão, da ilha para a cidade, E da cidade para a ilha sẽ pareyar de dores cõ a ca
za toda revolta, tal que os medicos me dezempararão, porque não obedecia nada
o mal. mandei chamar hũ negro Ervolario, que me deu hũas ayudas de tanta
Virtude para o mal, que tinha cõ que deitei couzas pessonhentas E me acho a hũ mes para
ca muito aliviado enquanto se não torna a encher o saco, de todo o modo, para a encomen
dar a Deos. Izabel da costa dalhe Deos saude, para poder soportar a carga que co
mo Deos da a chaga logo acode cõ a mezinha, passa cõ saude E suas filhas E fi
lhos sobrinhos de Vm E tiverão grande alegria de ver a de Vm E suas primas
conhecendo seu amor gratifacandolhe seu bom dezejo de sse comunicarem
de hoje por diante. pois que até agora o não poderão fazer. rendẽlhe as grassas
dos mimos que vierão na boceta cõ tanta perfeissão, como de quẽ vierão, tão
bem escrevemos ao Padre frei adyunto agradecendolhe o cudado, que tẽ dessa
caza, E dandolhe de tudo mill Louvores. Minha filha mais velha Maria da fonseca
aqui a tenho en caza, que seu marido esta em Angola de todo esquecido de sua
caza, E perdido de rremate, milhor me fora levalo Deos, para tratar de a tor
nar a emparar, que estar, nẽ cazada nẽ solteira E minha neta molherzinha, E hũ
menino a outra filha Anna da costa, ja nos comunicamos cõ seu marido
ainda que não sei se durara muito porque he hũa Bestafera tẽ ja hũ menino, E
lhe morreu hũa menina , seu tio o Padre Thomas Ribeiro acabou cõ elle
que viesse ella a ver a may a ilha que avia mais de seis annos a não tinha visto
E a mandou en companhia de seu tio a ver a may/ dos Machos o mais velho mor
reo como ja lho mandei dizer Antonio da mata ha cete annos que se meteo no
Colegio, E estava na Bahia no curso adoeceo, E não quizerão con
tinuace por não vir a dar en hũa tissica estamos esperando por elle
que outros tantos annos ha que não o vimos. João ainda se nõ meteo
Capucho que não tẽ idade E cuido que ja muda o parecer, dizendo quer
ser tãobẽ da Companhia se o asseitarẽ, Paulo menor, E o neto insina
seu tio aqui na ilha. todos se encomendão a Vm E a suas primas Meu
primo lhes manda a todos sem mill saudades, pezaroso de não poder ser
o portador. a rrespeito da pouca melhoria de seus achaques receandosse
meterse no mar, trata de tomar segunda cura que so dos brassos se queixa
juntamente não pode cobrar os annos, que ha que serve nesta capella E com
mo o Cabedal não he muito não quer deixar seu remedio. Esta muito agradecido assosterẽ Vms a cauza, sendo que o sobrinho não lhe escreveo
sobre isso nada, sendo que lhe mandou dizer o Padre mill reprehensiois E a sua may, não lhe deferirão ainda/ A minhas irmãs reprehendo de
seu mau modo de irmandade, porque cõ suas parvoisses dizẽ que dezabafão commigo, dezabafei eu desta ves cõ ellas, E me parece não
me tornarão a escrever tolisses, poucos dias ha soube de tudo, que venderão fazenda retolos cazas, E negro, o qual mandarão dizer que lhe
morrera, E venderão a hũ Clerigo, agora se me mandarão chorar, que pagam aluguéis de caza hũ filho de Vicente lobato me contou
tudo isto E assi lho mando dizer, que ja que minhas sobrinhas são tão trabalhadeiras, fassão o mesmo. Da esmola que mandava cui
dando eu seria como o lima ficavame devendo o mestre seis mill reis de nossas contas, E porque tomei hũa sua divida de sento
E tantos mill reis para ca os cobrar por elle me disse daria a Vms La outros seis mill reis, que erão doze, para eu ca os pagar na vinda
enganoume, nẽ deu os seis que promoteo, nẽ os que lhe ficarão na mão mais que os dois mill. E tantos reis, a confiansa me enganou
Novas deste Brazill são hirse consumindo o estado cõ esta negra
bolsa, quãtdo achão assuquar de dous annos para o levarẽ pello preço
que elles querẽ, andava os annos atras a quatro patacas E mais, E
agora o levão por sinco tostois E menos arroba, E como he fazenda
que se não pode guardar he forsa largala, não trazẽ fazendas
nenhumas algũa vara de pano que apareceo de geito pedẽ a cruza
do E pataca e mea, E o demais da mesma maneira apenas chegão
os assuqueres a sse poder vistir a caza quer Deos, que nos não custa
o trigo dinheiro o peixe tãobẽ, não falta carne tambẽ barata
mas se com o trabalho dos negros, se não comprão outros en lugar
dos que morrẽ acabace tudo o que não tẽ as fazendas dellla. novas
de Julião não ha Caminho, para as saber, deve estar bem esquecido
que tẽ irmãs no mundo, a Angola vão navios de boinos ayres, mas
tambẽ aqui vierão os annos atras, E peçoas la da terra dentro
onde o deixarão, E Conhecerão sabendo vinhão para ca, sẽ trazerẽ
carta sua, mas darẽme novas como estava muito de assento, capellão
de hũa Confraria das almas, E todos os seus sinais, E o que me disse isto
he natural dahi bẽ perto pello zezere assima. disseme yu
gara E perdera hum dia e parte da noite dinheiro cõ que se po
dia comprar meo punhete. quando hia de Angola para boinos ayres
chegou o navio a ilha grande que sera daqui, como dessa terra a Lis
boa, E levando hũa encomenda, que lhe tinha mandado, nẽ isso qu
is deixar a peçoa, que me conhecia, E a levou consigo E totalmente
não veo a este rio ou a Bahia, por não fazer algũ bem a seus
sobrinhos, E irmãos, que o chegarão a sser gente! Poucos dias ha
que procurando eu por João Vicente ou peçoa que lhe levasse hũas
cartas que muito depois das outras recebi que dizião no sobre escri
to a meu cunhado Diogo de morais me derão huas novas, tais
merecião meus peccados bem se parece Vm commigo nesta parte
sabera Vm que sẽ temer a Deos, se cazou cõ hua viuva
que tẽ pai E parentes todos os moradores na ilha grande onde vive
o irmão, deitando fama que tambẽ era viuvo. Levei as car
tas ao Vigario geral minhas, En que me encomendava minha sobri
nha o fizece embarcar, E as duas da mesma fechadas para que
as abrisse, E visse, E fizesse como pastor seu officio fi
cou espantado E detriminado a o mandar vir prezo
Eu hei de fazer minha obrigassão ainda que a justiças desta terra são da parte de quẽ mais da, assi seculares como Eclezi
asticas. E tudo abafam mas não lhe rendo o ganho porque em o sabendo os parentes da molher, não sei se escapara cõ vida
Leve minha irmã iste trago cõ paciencia Pois que Deos assi o premite do que nisto rezultar farei avizo na primeira ocazião
Leva nosso amigo Lima hũa caixa de assuquar branco remetido o que der a Vm, cõ seu conhecimento elle fara o officio
de amigo, en segundo lugar a Manuel Rodrigues Cabral cõ quẽ correrei daqui por diante, que o lima não tornara ca Vm par
tira a metade do que render a caixa cõ suas irmãs Maria tristoa E Catherina lopes, E perdoẽ a pouquidade que a von
tade he grande encomendẽme a Deos que he maior mimo que espero que enquanto elle me der vida cõ o que puder não faltarei a mi
nhas sobrinhas escrevo 4 regras em recompensa das Largas relassõis que recebi a quẽ mandão sua tia E primas
Infinitas lembransas E saudades rendendolhe as graças pe
llos mimos, que estimarão en primeiro lugar as linhas, que são ca caras, E po
dres, E as agulhas que são prefetas de que tudo ouve logo geral repar
tissão, não tẽ cõ que poder fazer dela outro tanto, que he esta
terra mui seca de mimos, Vindo o nosso padre da Companhia que estam
os esperando da Bahia todas as horas algũs rozarios de
contas ha de trazer, E hũs rozarios de lagrimas, que o Padre frei
adyunto nos pedio, que tudo mandaremos na primeira ocazião se
Poderẽ por ordẽ do mesmo lima, ou Manuel cabral mandar hum
par de toalhas finas de rengo, a sua irmã sera grande merce E
algũs botõis das maõs de minhas sobrinhas brancos E aDeos
que não ha tempo, para mais nosso senhor nos de a ttodos huma
boa hora en que acabemos en santo santo serviço E no entanto
espero sempre boas novas de minha Irmã d alma, E sobri
nhas do Coração para que cõ ellas de algũ alivio a minhas penas
cuyas peçoas Deos guarde Etc
Antonio
fernandiz da mata
Do seu Irmão d alma
leva o lima farinhas e beiyus para partir
cõ Vms E saberẽ do pão cõ que ca nos sosten
tamos
O lima nos comprou ca hũas caixas de assuquar minhas E de meu primo
E dara como lhe ordeno a quẽ Vm mandar seis mill reis para sapatos de
minhas sobrinhas E algũs beijus que lhe dei para partir cõ Vm a nossa irmãs o mesmo E perdoem a pouquidade que temos ca muita
falta de tudo, sua irmã lhe pede alẽ das toalhas, se suas sobrinhas fa
zem coizas de seda lhe mandẽ tambẽ hũ par dellas para baixo das
toalhas. E aDeos