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Maarten Janssen, 2014-
Resumo | A autora preocupa-se com a sorte do marido, preso pela Inquisição, e descreve-lhe tudo quanto tem sofrido ultimamente. O filho, que serve de escriba, parece intercalar no ditado algum texto de sua autoria. |
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Autor(es) | Catarina Mendes |
Destinatário(s) | Sebastião Rodrigues de Oliveira |
De | Portugal, Elvas |
Para | S.l. |
Contexto | Segundo o depoimento feito perante a Inquisição por Manuel Leitão de Oliveira, de 12 anos, filho de Filipa Grácia, falecida, e do licenciado Sebastião Rodrigues de Oliveira, advogado, preso com os seus irmãos e tios na Inquisição de Évora, três cartas deste processo são apócrifas. Para acalmar a madrasta (e também para receber umas prometidas alvíssaras), resolveu forjar cartas do punho de seu pai, supostamente emitidas da cadeia pública de Elvas. Quase todas as mulheres da casa (a avó, a madrasta e uma tia) acreditaram, e ditaram cartas de resposta, as quais, obviamente, nunca chegaram ao destino. Toda a correspondência foi ficando na mão de Manuel Leitão, que acabou por entregá-la à Inquisição ao ser obrigado a ilibar o pai e os tios da culpa de revelar o segredo do Santo Ofício. No seu depoimento, a madrasta, Catarina Mendes, relatou o seguinte (edição modernizada: «em seis dias do mês de Setembro, seu enteado, vendo-a desconsolada, o qual se chama Manuel Leitão de Oliveira, e que estava chorando, lhe disse que se não desconsolasse, que ele sabia que seu pai e seus tios estavam em sala livre, e ela lhe replicou «Minino, como pode ser isso saber-se? Porque naquela casa há muito segredo...», e ele lhe respondeu que tinha pessoa que lhe levasse cartas a seu pai, e ela respondente, pelo desejo que tinha de saber de seu marido, sem malícia algũa, pela desconsolação em que vivia, creu ao dito seu filho por ser minino inocente. E por ele lhe dizer que não lhe havia de dizer que pessoa era por onde havia de ir o dito escrito, ela com boa fé lhe disse que fizesse a dita carta e a remetesse, já que lhe não queria dizer quem era a pessoa. E o dito Manuel Leitão escreveu o escrito e o cerrou e tomou a carta e se foi de casa [...].» IAN/TT, Inquisição de Évora, livro 225, fl. 372v (audiência de Catarina Mendes, Elvas, 10/11/1656). Quanto a Manuel Leitão, justificou assim a sua conduta (edição modernizada): «disse que vendo ele que sua madrasta estava sempre chorando, desejando saber novas de seu marido, e pai d'ele, respondente, e que prometia muito a quem lhe desse novas de seu marido, ele por sua ignorância lhe disse que escrevesse ela um escrito, que ele tinha per quem o mandar, e que ele mesmo escreveu um escrito, que estava nos que ali oferecia, e que a ele respondeu ele mesmo outro escrito, que é dos primeiros apresentados, e fingiu que vinha de seu pai. E que logo sua madrasta escreveu outro escrito pela mão d'ele, respondente, que ele disse mandava a seu pai, e ele o levou dizendo que o mandava a seu pai. E que assim foram e vieram três escritos e três respostas, que todos ele respondente escreveu, e eram os que ali mostrava.» Id. ibid., fls. 357v-358r. As cartas estão publicadas em Rita Marquilhas (2005) "Una gran sala con la puerta abierta: cartas imaginarias desde la cárcel de la Inquisición (Portugal, siglo XVII)", Castillo Gómez, A. e V. Sierra Blas (eds.), Letras bajo sospecha. Gijón (Asturias), Ediciones TREA: 43-75. Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros. |
Arquivo | Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository | Tribunal do Santo Ofício |
Fundo | Inquisição de Évora, Cadernos do Promotor |
Cota arquivística | Livro 225 |
Fólios | 352r-v |
Transcrição | Rita Marquilhas |
Modernização | Catarina Carvalheiro |
Anotação POS | Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Data da transcrição | 2005 |
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