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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2026

1766. Carta de Lourenço Guedes de Sousa Pinto Mourão para o seu tio António Borges de Fonseca e Sousa.

Author(s)

Lourenço Guedes de Sousa Pinto Mourão      

Addressee(s)

António Borges de Fonseca e Sousa                        

Summary

Lourenço Mourão escreve ao seu tio a denunciar umas curas que Catarina Margarida andou a fazer em sua mulher e criados.

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Reverendissimo Senhor Antonio Borges de Fonseca e Souza

Meu Tyo, amigo e Senhor do meu coração Dezejo a vmce az mayores felliçidades, e fico affectuozamente a sseu dispor, Com grande reComendação açeitte vmce a minha saudade, e hua vezitta de sua sobrinha Vou darlhe parte do mesmo Cazo que meu Reverendo o Padre Caetano de Souza lhe ha tãobem de dar. Sucçedeo padeçer minha mulher malles, e a minha caza; e desconfiando foçe Mellefiçio Uvimos nopticcia de que avia hũa mulher no Lugar das Carvas freguesia de Murça o pe de MasCanho que aplicava remedios para o ttal mal, e que muita gente a buscava, a coal mulher dizẽ ela he do Alentejo tem barba na Cara, ja esteve preza no Santo offiçio por mezinhar, e veyo com degredo para o Bispado de Miranda que diz o tem aCabado, e esteve nas Paredes o pe da Senhora de Saude e preza ja em vila real, e que queria deixar de Curar. veyo de Eyriz a esta Caza, e estava de pe com as maos erguidas rezando muito e dezia se era, ou não Malefiçio, e a quanto tempo se fizera, maz não dezia quem e que a responçava dezia boas pallavras, e oraçois, e diz hua com os pez juntos, á Senhora da graça, e se o que se quer saber , assim que se vira para o lado direito, senão ao esquerdo o que quer saber. e poem a cruz do Rozario e dis oraçois na gente que pareçe boas. deita agoa benta renunçia o pacto, e dis aBrenuçio e que tivera com hum

Tyo serurgião que a ensinara a fazer enplastos, e remedios, faz fumos a gente e as cazas, e loges com inçenço, imxofre, alecrim e loureiro salva ruda, artemige, açintro, sal, e sera e que se ponha de cada lado das portas principais das cazas sua silva macha. e vai hua noute de sabado das des para as onze horas ao Campo tocar hua canpainha e leva as tranças das pernas, e a fita dos calçois dos homens, e das mulheres o cordão, e attilhos das saias, e prende isto o vadallo da Campainha quando a toca, e dahi corta tudo com hua tizoura muito miudo, e o enterra ali em hua buraca, e dis então que as Bruxas as amofina nisso e hão de hir para o inferno que nisso desfazia os feittiços. e na noute de mesmo sabado vai á segunda pouza do gallo a duas ou tres inCruzilhadas, com as pessoas que tem mal, cemeada hua dizem huas oraçoes, e leva para cada pessoa arco de hua silva macha com os picos cortados, e meteo pella cabeça, ate o chao, e dahi se tira a inpia delle saltando para deante, e fazem tres cousas com elle na terra, e vaiçe pello meyo dellas para deante. e diçe boas pallavras e que fiquem naquellas emCruzilhadas bruxas, e feiticeiras etc e que sem olhar para tras se vai a gente por outro caminho. e diçe que se arnega o Demonio, e Renunçia o Pacto, e aBrenuçio arnego o demonio Jezus cristo. e atiraçe na ultima o Arco da silva para tras das costas, e que assim ficavão desfeittos os feitiços e dezia tinha medo de ir o santo offiçio outra ves não queria que a denunçiaçe e diçe lhe chamavão caterina Margarida natural do Alentejo. e lançava enplastos para a espinhela da botica mandava vir os remédios, e para tudo dezia era intendida, e todas as Pessoas se achavão logo milhor e minha mulher se achou logo bem e sua criada chamada Luiza natural de Campo, mas Criado Clemente não se achou bom. eu sempre não estava bem inteirádo de que tinha obrigação de dar parte, maz desconfiava da mulher inda que pareçia boa mezinheira, e com o caco dos fumos fazia cruzes, e dezia oraçois, e os fezia deitar as Pessoas quando se defumavão e pareçião sempre soube de certo tinha obrigação de dar parte em 30 dias assim a dou a vmce de minha parte, e de minha mulher e dos ditos criados que assim lho diçe a elles. a ella vai muita gente, e não a deixão parar. veyo para esta caza da de Felipe Jozé de Eyriz, e dizem se achão bem com ella. tãobem esteve algum tempo em Rendufe freguezia de Santa maria de Emeres termo de chaves. e como a vmce conheço lhe dou esta parte para vmce cumprir com a sua obrigação. e aqui me tem vindo muitas pessoas a saber da tal mulher para hir. ella muito velha, acabada vai, e mostra hũa crus que tem no çeo da boca, obra da natureza. He quanto se me offereçe dizer a vmce e não ei de cahir em outra; maz eu cuidava, e estava em duvida, porque sempre desconfiáva algũa cousa della que não seria boa. maz ouvialhe boas cousas pareçiame seria sabedoria. etc Vamos cudando na função da Semana Santa, vmce faça o mesmo; e deme as suas estimaveis ordens a que estou por effecto, e obrigação. Deos me guarde a vmce Como dezejo

Vila pouca de Aguiar 2 de Fevereiro d 1766 De vmce Sobrinho amantissimo, e Sobrinho obrigadissimo Lourenco Guedes de Souza Pinto Mourão

Legenda:

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