Reverendissimo
Senhor
Antonio Borges de
Fonseca e Souza
Meu Tyo, amigo e
Senhor do meu coração
Dezejo a
vmce az mayores
felliçidades, e fico
affectuozamente a sseu dispor,
Com grande reComendação açeitte vmce
a minha
saudade, e hua vezitta de sua
sobrinha
Vou darlhe parte do mesmo Cazo
que meu
Reverendo
o Padre
Caetano de Souza lhe ha tãobem de dar.
Sucçedeo padeçer minha
mulher
malles, e a
minha caza; e desconfiando foçe Mellefiçio Uvimos
nopticcia
de
que avia hũa mulher no
Lugar das Carvas freguesia de Murça
o pe
de MasCanho
que aplicava remedios para o
ttal mal, e que
muita gente a buscava, a coal
mulher dizẽ ela he do
Alentejo
tem barba na Cara, ja esteve preza no
Santo offiçio por
mezinhar, e veyo com degredo
para o Bispado de Miranda
que
diz o tem aCabado, e esteve nas Paredes o pe da
Senhora de Saude
e preza ja em
vila real, e
que queria deixar de Curar. veyo
de
Eyriz a esta Caza, e estava de pe com as maos erguidas
rezando muito e dezia se era, ou não
Malefiçio, e a quanto tempo
se fizera, maz não
dezia quem e que a
responçava dezia boas
pallavras, e oraçois, e diz hua com os pez juntos, á
Senhora da
graça, e se o
que se quer saber
hé, assim que se vira para o
lado
direito, senão ao esquerdo o que
quer saber. e poem a cruz
do
Rozario e dis oraçois na gente
que pareçe boas. deita
agoa benta
renunçia o pacto, e dis aBrenuçio e que tivera com
hum
Tyo serurgião que a ensinara a fazer
enplastos, e remedios, faz fumos
a gente e as cazas, e loges com inçenço,
imxofre, alecrim e loureiro
salva ruda,
artemige, açintro, sal, e sera e que se ponha de
cada lado das portas principais das cazas sua silva macha. e vai
hua noute de sabado das des
para as onze horas ao Campo tocar hua
canpainha
e leva as tranças das pernas, e a fita dos calçois dos homens, e das
mulheres o
cordão, e attilhos das saias, e prende isto o
vadallo da Campainha quando
a toca, e dahi corta
tudo com hua tizoura muito miudo, e o enterra ali
em hua buraca, e dis então que as Bruxas as amofina
nisso e hão de hir
para o inferno que nisso
desfazia os feittiços. e na noute de
mesmo sabado vai á
segunda pouza do
gallo a duas ou tres inCruzilhadas, com as pessoas
que tem mal, cemeada hua dizem huas oraçoes, e leva
para cada
pessoa hũ arco de hua
silva macha com os picos cortados, e meteo pella
cabeça, ate o chao, e dahi se
tira a inpia delle saltando para deante, e
fazem
tres cousas com elle na terra, e vaiçe pello meyo dellas
para
deante. e diçe boas pallavras e
que fiquem naquellas emCruzilhadas
bruxas,
e feiticeiras etc e que sem olhar
para tras se vai a gente por outro
caminho.
e diçe que se arnega o Demonio, e Renunçia o Pacto, e
aBrenuçio arnego o demonio Jezus cristo. e atiraçe na ultima o
Arco da silva para tras das costas, e
que assim ficavão desfeittos os feitiços
e
dezia tinha medo de ir o santo offiçio outra ves não
queria que
a denunçiaçe e diçe lhe chamavão caterina Margarida
natural
do Alentejo. e
lançava enplastos para a espinhela da botica
mandava vir os remédios, e para tudo dezia era
intendida, e todas
as Pessoas se achavão logo milhor e
minha
mulher se achou logo bem
e sua
criada chamada Luiza
natural de Campo, mas hũ
Criado
Clemente
não se achou bom. eu sempre não estava bem inteirádo de
que
tinha obrigação de dar
parte, maz Lá desconfiava da
mulher inda que
pareçia boa mezinheira, e
com o caco dos fumos fazia cruzes, e
dezia oraçois, e os fezia deitar
as Pessoas quando se defumavão e pareçião
sempre soube de certo tinha obrigação de
dar parte em 30 dias assim a dou
a
vmce de minha
parte, e de minha
mulher e dos ditos criados
que assim lho diçe a
elles. a
ella vai muita gente, e não a deixão parar. veyo
para esta
caza da de Felipe Jozé de
Eyriz, e dizem se achão bem com ella.
tãobem esteve algum tempo em
Rendufe
freguezia de
Santa
maria de
Emeres
termo de chaves. e como a
vmce conheço lhe dou esta
parte
para
vmce cumprir com a sua obrigação. e aqui me tem vindo
muitas
pessoas a saber da tal
mulher
para Lá hir. ella hé muito
velha, acabada
vai, e mostra hũa crus que tem no
çeo da boca, obra da natureza.
He quanto se me
offereçe dizer a vmce e não ei de cahir
em outra; maz eu cuidava, e
estava em duvida, porque sempre
desconfiáva algũa
cousa della que não seria boa. maz
ouvialhe boas cousas pareçiame seria sabedoria. etc
Vamos cudando na
função da
Semana Santa, vmce faça o mesmo; e deme as suas
estimaveis
ordens a que estou por effecto, e obrigação.
Deos
me guarde
a vmce Como
dezejo
Vila pouca de Aguiar
2 de Fevereiro d 1766
De vmce
Sobrinho amantissimo, e
Sobrinho
obrigadissimo
Lourenco Guedes de Souza
Pinto Mourão