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Maarten Janssen, 2014-

CARDS5245

[1830]. Carta de Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro,sob o pseudónimo Constantino Brune de Brito, para Francisco António Ponce de Leão, deputado.

ResumoO autor tenta extorquir dinheiro ao destinatário sob ameaça de denúncia de traição contra o regime de D. Miguel.
Autor(es) Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro
Destinatário(s) Francisco António Ponce de Leão            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Lisboa, Rua dos Fanqueiros
Contexto

Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro, que vivia das suas rendas, foi acusado de roubar a Filipa Inácia um Título de Dívida Pública. Filipa Inácia mandou-o rebater a dívida e ele rebateu-a para si mesmo, através de um rebatedor, João Francisco Borges, com uma casa de câmbio na Ribeira Velha. Do Limoeiro, onde aguardava julgamento, o acusado escreveu inúmeras cartas de extorsão usando nomes falsos ‒ fez-se passar por deputado e escreveu sob vários pseudónimos, nomeadamente o de «António Chuço». Esta forma de extorsão representa uma prática que se tornou característica da cadeia do Limoeiro no primeiro quartel de Oitocentos e cuja amplitude em muito beneficiou da instabilidade política e social associada aos primeiros anos do Liberalismo e da ambiência generalizada de vulnerabilidade e suspeição. Luís Caetano Leirós recorria a pessoas no exterior, que contactava da enxovia daquela prisão, para serem portadores da correspondência. Vendo-se em vias de ser condenado, nas suas cartas anónimas a personalidades com peso político dizia-se partidário dos que estavam no governo e acusava os juízes e escrivães que participavam no seu julgamento de atentarem contra o poder ‒ estando inclusivamente a preparar uma revolta ‒ e de serem corruptos, pedindo a sua prisão ou afastamento dos cargos que exerciam. Foi degredado por cinco anos para Angola, sendo contudo libertado antes disso, em 1827 ou 1828, em virtude de um indulto real. Por essa altura foi de novo preso por um crime do mesmo tipo: escrevera cartas de ameaça a pessoas abastadas com o pretenso intuito de libertar um companheiro preso no Limoeiro e prometendo a devolução do dinheiro poucos dias depois do envio. Uma das formas de pressão utilizadas era a de prometer em troca o silêncio do remetente, que estaria na posse de provas incriminatórias que levariam o destinatário à prisão por traição ao rei, então D. Miguel I. Para chegar ao autor destas cartas, as autoridades recorreram à estratégia de enviar a um dos destinatários uma encomenda que teria de ser levantada nos correios, procedendo assim à detenção de quem ali comparecesse com esse fim. Foi desta forma que, após diversas peripécias, se conseguiu deter pela segunda vez Luís Caetano Leirós. Entretanto, um seu tio, Teotónio de Andrade e Castro, chegou a Lisboa vindo de propósito de Tavira, onde era Guarda Mor da Saúde, e auxiliou as autoridades a deslindarem o caso. Foi Teotónio de Andrade quem informou o juiz da existência de processos anteriores, relativos a várias falsificações de documentação, entre elas a do próprio decreto de amnistia por que o réu conseguira libertar-se do degredo em Angola. Para além disso, o tio mostrou-se conhecedor dos processos anteriores com um grande pormenor, conseguindo relacionar factos entre si e provando que pelo menos uma carta, escrita sob o nome de José Maria de Lemos, fora escrita pelo seu sobrinho. Contudo, as restantes cartas de extorsão, embora apresentem algumas fórmulas que Luís Caetano de Leirós usara anteriormente em missivas que assinava como «Capitão Chuço», não aparentavam ser da sua autoria, ou pelo menos da sua mão: a caligrafia e a tipologia de desvios era completamente diferente. Leirós disse-se acusado injustamente pelo seu tio e o réu acabou absolvido por falta de provas, sendo condenado apenas a custear o processo.

Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra L, Maço 2, Número 13, Caixa 4, Caderno 1
Fólios 12-
Transcrição José Pedro Ferreira
Revisão principal Raïssa Gillier
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2007

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AO Senhor Francisco Antonio Ponçe de Lião etc etc etc Rua dos Fanqueiros N 177. Lisboa.[carimbo: LISBOA] Srn Francisco Antonio Ponse lião

Tendo chegado as minhas maos huma Lista para serem prezos muitos homes pelo enfernal Cistema de serem Contra o nosso Ligitimo subrano o senhor D Miguel primeiro: Entre os nomes destes Vem o seu nome: O seu Carather de Constitucional pararece q ja devia ter acabado Com a prizão em q ja esteve de q parese se devia Lembrar Na minha mão esta riscar o seu nome tanto da Lista q me foi dada Como de outra qualquer por motivo de q não tirando mais fruto do q o piqueno ordenado q temos: Logo q Vce me remeta 30 mil reis em papel dentro em huma Carta debaxo do nome de Constantino Brune de Brito: Logo q Vce tenha remetido esta piquena Contia eu prometo q Vce não tara o menor enComudo dolhe a minha palavra porque estamos determinados todos os q estão encaregados destas prizois: a evitar q alguns sujeitos sejão prezos endeminizandonos elles Com algumas piquenas Contias Eu fasco ver a Vce que sou úmano querendo me endeminizar do q lhe digo pode viver sem susto alias pode estar serto q quando menos o pencar ha de hir estar outro tanto tenpo de prizão como ja esteve i Conte Com isto se no termo de dois correis me não responder com o q lhe digo

PS o sobreiscrito da carta deve ser feito para Lisboa


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