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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2042

1797. Carta de José António de Carvalho e Almeida, padre, para João Afonso Dias, abade e comissário do Santo Ofício.

Autor(es)

José António de Carvalho e Almeida      

Destinatario(s)

João Afonso Dias                        

Resumen

O autor escreve ao comissário João Afonso Dias para lhe contar o que ouviu em conversa ao boticário Manuel José de Neiva.

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Ao Mto Rmo Sr Joao Afonço Dias gde Deos ms as Dignisimo Abade de seidoens, e comi sario do Sto oficio por favor da Ma Rmo P M Fr Mano el de S Joaquim Muito Reverendisimo Senhor João Afonço Dias

Prezadisimo Senhor dezejo a VMce saude muito perfeita, e que se sirva da que pesuo certa no seu querer. Achandome eu em caza do sargento Mor do Concelho de Ribeira de Pena no dia dois do mez de Fevereiro deste prezente anno d' 1797 com Manoel Joze de Neiva boticario da freguesia e Concelho de São Pedro de cerva comarca de villa Real, e entrando se a falar nos progresos dos Francezes, proferio o dito que no que elles obravavão parece, que Deos os ajudava, e talves apovaria tudo o que elles tem feito: ao que respondi, que poderia ser; mas que certamente não hera do agrado de Deos o ultraje da religião e da sua ley: replicou dizendo: quem sabe que ley será mais do agrado de Deos respondi: aquella que elle deu a Moizés, e Cristo ensinou; respondeu quem sabe o que Deos dice a Moizés, este podia escrever o que quizese, e dizer que Deos lho dicera, que como não havia testemunhas podia dizer o que quizese: respondi, que era certeza de , e quem fose herege duvidaria diso, e que reparase bem o que dizia, que tinha duas testemunhas prezentes, que erão Manoel Joze de Carvalho e seu filho Francisco Xavier da caza do Mato do mesmo Concelho de Ribeira de Penna que ahi se achavão para ouvir misa na capella do dito sargento Mor; e me apartei delle e o deixei ficando a conversar com os dos: depois ao jantar, por eu me mostrarar emfasteado do que lhe ouvira, me dice que aquillo que dicera, fora de graça: mas não pude comprihender, se esta satisfação era sincera, ou timorata: fiquei perplexo muito tempo se a devia, ou não denunciar, e consultando pesoas pias, huns me dizião que sim outros, que não por parecer questão de argumento; mas lembrando-me que o dito se alargou em dogmas de Religião e dizer que tinha certos livros que me não lembra o nome, e que tinha lido outros prohividos, a que eu acudi, dizendo, que os não devia ler, nem ter, e me responder, que sabia escolher o bom, e deixar o mao, que não fazia cazo desas excomunhoens, e acressendo dizerme o dito sargento Mor, que o Vezitador que tinha andado pella sua freguesia no anno d' 1795 i elle tinha chamado Pedro Livre, pella liberdade com que falava, e elle ser tido por instroido em Dogmas, e dizer que não credito a cousa de vizoens, ou revelaçoens e que a nosa Religião tem muitas cousas, que parecem superstiçoens, e que na vontade do Pontifice estava fazer que se venerase este, ou aquelle santo; e na festa do São Braz que se fez no dia seguinte na Igreja do Salva-

Salvador do dito Concelho de Ribeira de Pena fazer nnota publicamente do Pregador, por contar certa vizão que tivera hum santo, dizendo: aquelle ainda cre em vizoens. e tendo emformação que o espirito do tal não he muito catolico, antes bastantemente lebertino nas suas praticas, me diliberei a fazer esta deligencia e a pola na sua determinação por estar capacitado, que asim o devia fazer. Deos guarde a VMce como muito lhe dezeja quem he

de VMce muito venerador O Padre Joze Antonio d Carvalho e Almeida Cabeceiras de Basto Caza de Piellas 12 de Junho d' 1797

Leyenda:

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