PSCR0108
1556. Carta de João Velho Galvão para Maria Fernandes, sua irmã.
Author(s)
João Velho Galvão
Addressee(s)
Maria Fernandes
Summary
O autor dá conta à sua irmã da sua vida no Brasil e pede que lhe envie seu o sobrinho para cuidar dele.
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A mto Vtuosa sora
ma frz no toram ha sora
mynha yrmãa
do brazyll de jom velho seu
yrmão
[fig1]
senhora yrmãa
despois que estou nesta tera tenho esprito per tres ou quatro vezes a
senhora mynha may sem nũca de la nẽ de nehũa de vm ter Reposta nẽ
novas se sam vyvos se mortos he tambẽ lhe tenho espryto depoys de casado dyzẽdo lhe que me esprevesem he que mãodasẽ as cartas ha hũa
mynha cunhada yrmãa de mynha molher que esta ẽ lysboa freyra no mosteyro das penetẽtes muyto onrada he vertuosa he muyto mynha hamyga e que follgara muito de me mãodar quallquer Recado
e novas que lhe mãodardes da senhora mynha may como de vm he dos
senhores meus yrmãos he ja que ysto esta tam serto não devyã
de deyxar de o fazer poys que eu sey que nesa tera ha muytos omẽs
que vam he vem a lysboa cada dya he poys que ho senhor deus foy servydo de me hasemtar tam auzẽte da senhora mynha may e yrmãos
he tamto desejo saber novas deles he delas façam me tamta
merce que não sejam escasas nẽ escasos de hũa folha de
papell he de se hacuparẽ hũ dya ou duas oras pera que me esprevam muytas novas de todos ẽ jerall he de cada hũ he cada hũa
ẽ espysyall muyto largamente porque cõ quaesquer novas que me
mãodarẽ follgarey muyto he cuydarey que me faz deus muyta merçe ẽ ter
he saber ho que tamto desejo a tamto tẽpo he crea que se não
vyr ha Reposta desta nos prymeyros navyos que am de partyr
do Reyno ẽ oytubro este que vem ẽ que ha de vyr governador que
cuydarey que ja não tenho may nẽ yrmãas nẽ yrmãos porque dos
parẽtes não faço mays cõta da que elles fazẽ de mÿ he cuydarey que
ẽ portugall não tenho senão cunhada he
allgũas pesoas omradas que de mÿ tẽ conhycymento/
Ó portador destas cartas he novas que me mãodarẽ lhe peço muyto
que seja seu filho he meu sobrynho nuno
porque ja agora sey que tẽ
hydade pera poder vyr he pasar o mar he a pomto vos mete
porque quãodo la fuy ha ver ha mynha senhora mynha may he a vms vy
ha senhora mynha may querer lhe muyto he dyzer me que lhe mãodara por ho nome de meu avo nuno martyns gallvam he tambẽ porque
me alembra que quãodo me despedy da senhora mynha may
e de vms que se veo choramdo depos mÿ lhe porque me alembra este amor follgaRey de lhe dar vyda cõ ha ajuda de noso senhor he de o hajudar he favoreser ẽ tudo que eu poder porque ja gora deus seja louvado tenho ẽcamynhado amtonio he posto
ẽ ordẽs d avamjelho pera ser crelego he serve na se desta
cydade hũa capelanya que lhe Rende oyto myll reis he agora esprevo ao bispo que me faça merçe de hũa conyzya que ora esta vaga he espero ẽ noso senhor que me fara merçe dela he asym faRey cõ ajuda de deus ha meu sobrynho se quyser ser crerego ou frade na ordẽ da cõpanhya de jehsus que tambẽ ca esta
mosteyro da ordẽ he se não quyzer nenhũ destes mãodaloey
ẽsynar ha ler he esprever he ordenar lhe ey vyda como
a meu fylho hysto peço tambem ao senhor meu cunhado que mo
queyra mãodar porque me parese que la lhe fyquarão outros
que lhe dẽ ẽ que ẽtenda porque ja sey que cousa he trabalho de
fylhos he peço lhe que aja esta tambẽ per sua/ he se detrymynar
de o mãodarẽ mãodemo logo he avyẽno cõ allgũas camysas he
allgũa caxynha ẽ que as traga he que o mãodem ha mynha cunhada que esta ẽ lysbo no mosteyro das penetẽtes jumto do
castelo he chama se joana da trymdade porque ella mo
mãodara ou se ponha cõ quallquer omẽ que vyer pera ca se não
quyser yr ter cõ mynha cunhada porẽ ho mays serto he yr la
ter cõ ella porque ella buscara quẽ mo traga porque eu lhe
esprevo he peço muyto que for ter cõ ella que mo mão
de he mays ẽquãoto estyver ẽ lysboa ella lhe dara de comer no mosteyro
eu ha este julho pasado tres anos que sam casado como lhe ja la tenho
espryto cõ hũa orfãa das que ellRey mãodou ca casar he que
se chama gyronima de goes e he sobrynha de frutes de
goes que ja ouvystes nomear fylha de hũ seu prymo cõ yrmão
que se chamava mateus de goes he por parte de mynha molher
ouve ja aquy hũ ofyçyo d espryvam dos allmazẽs cõ
trymta myll reis d ordenado por ano que servy hũ
pouco de tẽpo he ora espero por elle ou por outro ẽ que
mynha cunhada amda ẽ Riquyrymento cõ ellRey he que me
tome por cavaleiro de sua casa ou cavaleiro fydallgo
he segũdo as pesoas que me mynha cunhada espreve que amdam
nyso que he o seu vygytador he bispo de sam tome he o mestre dos
moços fydallgos parese me que o avera cõ ajuda do senhor
deus he cõ ho bispo dom pero de ca do brazyll quehora de ca foy que
me casou cõ mynha molher por lhe vyr ẽcomẽdada que
tambem hade falar ha ellRey por mÿy he sempre me
hade favoreser he ajudar ẽ tudo o que elle puder he elle
me pos amtonio no grao ẽ que dygo que esta hasym que pera lẽbrar he Requerer todas mynhas cousas tenho ẽ lysbo mynha cunhada/ he estes navyos que ora foram ẽ que foy
ho bispo mãodey ha mynha cunhada por o bispo vymte he
dous myll reis ẽ dinheiro pera vestydos he joas pera mynha
molher he a de mãodar ysto nos navyos que dygo que an de
partyr ẽ oytubro ẽ que a de vyr governador e ouvydor gerall he
ha quallquer destes ho pode mynha cunhada
he tambẽ oulhara pela caxa ẽ que mynha cunhada
ha de mãodar os vystydos he joas pera mynha molher/ ouve ja duas fylhas de mynha molher hũa mays
velha me levou deus pera sy que se chamava jlena de goes he a outra me tẽ ẽprestado
hate que ele seja servydo faz este oytubro que vem hũ
ano e chama joana de goes ca se chamava se maria amtes que fose freira amda mynha molher pejada demays ha esta
parte amtonio he ja omẽ he fasme ja velho// não tenho mays
que lhe esprever senão que fycamos de saude deus seja
louvado mynha molher he eu lhe beyjamos as mãos
myll vezes e lhe rogamos he pedymos queyram fazer
ho que lhe pedymos he mãode este moço he se seu pay ho
não quyzer mãodar venhase a mynha cunhada he
dyga lhe que he meu sobrynho ou ao bispo de ca do brazyll he
dygalhe que ho meta cõ allgũ omẽ que venha pera ca he que o
syrvyra hate chegar a esta cydade he ẽcomẽday
muyto ha vosos fylhos que trabalhem muyto pola omra he por
serem omẽs omrados he day lhe ẽxempro comygo porque
bẽ sabẽ quãoto cudey de meu patrymonyo he
andamdo pelo mũdo levamdo maos dyas he mas noutes
achegando-me aos bõns he trabalhamdo sẽpre por a onra
he verdade me tẽ feyto deus muytas merçes// desta
cydade do sallvador aos oyto dyas d agosto de myll he quynhẽtos
he çymcoẽta he seys annos
de seu yrmãao
Joam velho gallvam//
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