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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1281

[1600]. Carta de Álvaro Vaz para a Inquisição de Lisboa.

Autor(es)

Álvaro Vaz      

Destinatário(s)

Mesa da Inquisição de Lisboa                        

Resumo

O autor dirige-se à Inquisição de Lisboa, dando conta das injustiças que dizia ter sofrido perante a própria Inquisição e, pedindo, por isso, intervenção na restituição da sua honra e bom nome.

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Ao Sõr Inquisidor Mor de Lisboa ou aos Snres Inquisidores de Evora ou de Lisboa. Senhores

Deus seja servido de vos mandar por por obra, en exsequucão a obrigação que tendes de restituirdes a honra de Deus, e meu estado, e os males que occasionastes os pecados de testimunhos falsos de que vos fostes a causa Senhores Inquisidores, que vos certifico que se não cõtenta o demonio vinte testimunhos falsos cada dia, mas usa de vos como de instrumentos pera enlassar as almas tantos testimunhos falsos como Eu sei de certa sciencia per permissão de juisos de Deus scondidos, no qual vos cuidais que faseis obsequio, a Xpõ mas Deus sera o juis de nossas obras. quatro vezes vos escrevi per mandado de meus cõfessores retratandome, e disdisendome dos testimunhos falsos que me fisestes faser, e tanto o ei de faser ainda a adiante quero diser cõtinuar esta retratação, ate saber onde quer que eu estiver ser plenissimamete feita a restituição publica a que sois obrigados pera o qual vos requeiro da parte de Deus obrigando vos sub poena de maldicão de Deus se ho não fiserdes, perque tudo falsamẽte me fisestes diser e fasei medo que podia cair hum varão mui cõstante pera ho qual bastão ameassos de hũa desestrada morte e daqui fica claro que a sentença foi falsa, e de nenhũ vigor ou força. e que injustamẽte me tomastes o patrimonio de meu sacerdosio, e vos obrigo que não somẽte Portugal todos os bispados mandeis publicar esta restauração a que Deus vos obriga, mas en todas as partes, terras e regioens aonde chegou a fama das tais falsidades per vos causadas. prova do qual dou a Deus e a todo o mundo a cõversão de almas que precuro, e troco todos os trabalhos pola redução de duas pesoas as quais Eu mediante a graça de Jesũ Xpõ negocei, instrui, e trabalhei

per provas, e doctrina, e instrucão que Eu lhe alcancei, e dei per ser iso licença de certo superior que tinha jurisdicão pera isso pera que fossem absolutos de de suas heresias; e aprendo diferentes linguoas pera nelas servir e a meu senhor Jesu Xpõ conversão de almas, pois que hũa lingua portuguesa me fisestes offender a meu senhor Jesu Xpõ, cuja vestidura vos espadacais e rompeis, escadalisando seus menbros, e catholicos, e dando lhe ocasião de pecados mortais e testimunhos falsos, e perdisão de almas per vos causada; que são ou servẽ sem falta as casas da Inquisisão de Portugal de escolas de heresias, e judaismos, e entrando catholicos tornão hereticos, ho qual sei de certa sciencia, como quẽ sua cõversão e reducão ao gremio da Igreja Romana, e a Jesu Xpõ deseja trabalhar per todas as partes do mundo, e ja comecou de ser isto, ainda que a risco grande, e Deus fara que as almas que a inquisão de Portugal apartou de Jesu Xpõ por mim ainda que a custa da vida sejão a seu amor restituidas. E assi vos declaro que legitimamẽte tive intencão de ser ordenado todas as ordens que recebi, e legitimamẽte exercitei, fis, e celebrei todos os sacramẽtos que celebrei, e divida intensão sempre, e assi seja eu absoluto de meus pecados a hora da morte e alcance a misericordia de meu senhor Jesu Xpõ como eu tive sempre intencão de absolver os penitẽtes que a mim se cõfessavão, e tanto que algũas vezes escrupulo repetia a forma da absolvição, e vos certifico que polos serviços que o demonio via que Eu fasia a Jesu Xpõ meu senhor nas cõfissões, precurou testimunhos falsos cõtra mim por meio dos mesmos Inquisidores, perque cõfissões de muitos annos invalidas me vinhão a mão, e principalmẽte ocasião da pregação que Eu fasia no sermão do demonio mudo na quaresma. E não esta Pero de navais o padre da cõpanhia livre de grande culpa que elle seus cõselhos perveteo meu espiritu disendo lhe Eu que mim nũqua ouvera culpas obrigadas a Inquisisão, mais que pensamẽtos interiores dos quais me cõfessava, e per vẽtura que muitas veses na resistẽtia, que Eu fasia, avia merecimẽto, todavia de tal modo me ẽbaracou, junto isto aos ameassos dos Inquisidores, que ja eu desia mais falsidades do que elles querião. de modo que servẽ as Inquisisões de Portugal de Alfandegas do inferno, e de tributo de peccados mortais e juramẽtos falsos ao diabo. ho que tudo a sentença injusta cõtra mim se deu, e falsidades que passão portugal, e testimunhos falsos, e minha injusta deshonra Eu ei de publicar per todo o mũdo, e per escrito se a de divulgar. donde fica claro que injustamẽte fisestes mal a pesoas per causa de minha saida, a aqual per direito natural todos podião mais ajudar, que por obedecer a vos, estorvala, e assi o fes o padre Estevão Gil cõfessor a quẽ pedi me encomendasse a são felix. e certificou os que se, depois de muitos serviços de Deus que spero faser, ouver obrigacão de me presentar a vos pera vos reprehender de causa que destes a meus peccados o farei cõselho de cõfessores como Catholico que fui, sou, ei de acabar ajudando me a graça divina, e se não ouver obrigação de assi presentarme, e ser sendo a jornada cõprida e desnecessaria empregarei mais a cõversão das almas a Jesu Xpõ recõpẽsasão das almas que per vossa causa são tiradas do caminho da lei de Xpo Jesu senhor meu, cujo sou e a quẽ desejo servir e nelle acabar. Deus vos de faserdes o que deveis disei ao Arcebispo de Evora que se cõsole que sẽpre fui mais catholico que os seu Corbhuxes e que se glorie de terme por cõversor de almas a Xpo Jesu.

Alvaro Vaz Sacerdote portugues peccador

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