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Maarten Janssen, 2014-

Visualização das frases

[1795]. Rascunho de carta de Dom João de Almeida de Melo e Castro, diplomata, para Cipriano Ribeiro Freire, ministro plenipotenciário.

ResumoO autor responde à manifestação de pêsames que recebeu do destinatário e comenta notícias de vária ordem, das mais banais às mais sérias, sobretudo, no caso das sérias, as relacionadas com as invasões francesas.
Autor(es) João de Almeida de Melo e Castro
Destinatário(s) Cipriano Ribeiro Freire            
De Inglaterra, Londres
Para Estados Unidos da América, Filadélfia
Contexto

João de Almeida de Melo e Castro (1756-1814), o 5º Conde das Galveias, foi um dos diplomatas portugueses que, dada a natureza pluricontinental da monarquia, tinham de usar de toda a habilidade para gerir, junto dos governos das potências que se relacionavam com o gabinete português, a “ambiguidade” resultante. Este membro da Casa Galveias (fundada no século XVII por Dinis de Melo e Castro) foi ministro de Portugal em Londres, no que sucedeu a Cipriano Ribeiro Freire, e também em Haia e Roma. Foi embaixador em Viena de Áustria e, em 1801, ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo do qual foi demitido em 1803. Em 1812 foi para o Rio de Janeiro, tendo sido ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, e, interinamente, da Marinha e Ultramar. Foi oficial-mor da Casa Real, couteiro-mor da Casa de Bragança, conselheiro de Estado, membro do Conselho da Fazenda, presidente da Junta da Fazenda dos Arsenais do Exército, comendador de São Pedro de Alhadas, da Ordem de Cristo. Casou com D. Isabel José de Meneses, mas deste casamento "não houve geração". Em consequência disso, o 6º Conde das Galveias seria o seu irmão, Francisco (1758-1819).

Fontes:

Schedel, Madalena Serrão Franco. 2010. Guerra na Europa e interesses de Portugal: as colónias e o comércio ultramarino. A acção política e diplomática de D. João de Melo e Castro, V Conde das Galveias (1792 -1814). Tese de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo (http://digitarq.arquivos.pt/details?id=3910101)

Suporte duas meias folhas de papel dobradas, escritas em todas as faces menos na última.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Arquivos de Família
Fundo Casa dos Condes de Galveias
Cota arquivística Maço 9, 3, 7, Ribeiro Freire
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Rita Marquilhas
Anotação POS POS automático
Data da transcrição2009

Texto: -


[1]
Meu Amigo do Coração. Com a carta que recebi de VSa em data de 14 de agosto se desvanceo a aprehensão em q me achava de q VSa me tivesse perdido de todo o Amor, visto q me recusava a continuação das suas noticias que procurei por varias vezes,
[2]
e conhecendo agora o motivo desta privação, bem longe de articular a menor queixa, devo pelo contrario significar a VSa quanto lhe fico obrigado pela nova Demonstração de amizà-de que VSa me repete dignandose certificar-me certificandome da parte q toma no meu justo sentimento pela falta de meu Tio, as expressoens de que VSa se serve pa assim mo partecipar tão bem proprias do seu Patriotismo e da destincão do seu modo de pensar,
[3]
meu tio devia merecia certamte a VSa esse a sua magoada lembrança, e ninguem pode attestar melhor do q eu o particular apreço que elle fazia do talento e merecimento de VSa de q não huma tenue mas muitas vezes ouvi fazer o devido elogio!
[4]
Não se tem athe agora inovado cousa alguma a respeito nomeado successor pa a Secretaria dos Negocios da Marinha
[5]
o Snr Luis Pinto achase com a carta, e o novo Almirantado principia a aplicarse a Expedição do Expediente da ribeira que agora não he mto laboroso achandose desarmados os Navios.
[6]
Seguro a VSa pela minha honra q jamais dezejei ser menos lembrado do q o dezejo ser na occasião em que se tra-tar de occupar aquele lugar,
[7]
e quando, em qualidade de phenomeno viesse a suceder que lembrase ao meu individuo mostrará certamte a minha resolução q não pesuo como a raposa!
[8]
tem havido, segdo me escrevem de Lisboa, quem se valesse da proteção da corte de Madrid de huma corte pa obter o lugar vago, mas não se tem valido defferido athe agora à formal requesição q se tem feito,
[9]
arrufouse o pertendente e ameaçou com a sua demissão q segundo me consta não haveria deficuldade em se lhe conceder,
[10]
mas tomando por modelo a Aristide sacreficou o seu ressentimto particular ao bem da Estado Patria
[11]
e pa que a Rep não perigase falta de Piloto que encaminhase o Navio do estado ao Porto tornou a lançar mão ao leme prometendo não o desampararar emqto não passase a burrasca e se restablecesse a bonança.
[12]
O sucesso esboço da sua carta do seu logbook foi-me remetido por copia, e a clareza e engenho e vegetancia e elegancia de decão excede certamte o da campanha passada que aqui mostrei a VSa
[13]
e se tivesse tempo de sobejo tornaria a passalo pelos olhos pa informar a VSa do huma altura em q aparecerão ou se fes menção encontro de huma galinha com Arros q apareceo não sei em q altura, e de hum correio extraordinario q chegou não sei de donde, e q trazia não sei o que.
[14]
O nosso Ministro em Suecia saio de Stokolm por ordem da nossa corte como por congé expediente que se adoptou pa satisfazer o ressentimto de S M Sueca que não pode degerir a doze de café que o corpo deplomatico pertendia engolir de hum jacto,
[15]
tive ultimamte cartas delle escritas de Hambourg,
[16]
presumo q vai viajar, e estimarei q se devirta com-tanto q me não venha causticar a Londres;
[17]
supus que VSa estaria informado dos effeitos que resultarão desta bebida e por isso lhos referi tão concisamte
[18]
o cer-to he q não poderia jamais esperar que huma semelhante droga posto q se lhe conheca huma virtude qualidade erritante agitasse tão vivamte a todos os cabinetes da e particularmte o de Londres
[19]
e determinadamte a lord Spencer Ministro desta corte ou de Stockolm pelo Extracto de hum dos meus officios que remeto a VSa incluzo vera a pra partecipação q fui obrigado a fazer à nossa corte,
[20]
não lhe envio a continuação do q se passou depois por me parecer assas secante,
[21]
e limito-me a referirlhe que o resultado da pendencia foi o apreçar esta corte a partida de seu Ministro Lord Spencer q se achava em Stockolm pa a de Berlin pa onde antecipadamte se achava nomeado,
[22]
e na occazião da despedida houve por bem S M Sueca dar huma nova demonstração do seu ressentimto a este Ministro do oferecendolhe huma Miniatura desonesta em lugar do presente ordinario q consiste em hum retrato de S M circulado de brilhantes, equi-valente que Lord Spencer não quiz aceitar e q recambiou com huma conveniente resposta.
[23]
O Car Cavalheiro Engrestroom que sucedeo ao Barão Nolken tem pago as custas, mas fica no fim do seu purgatorio deven-do partir no fim deste mez pa Viena pa desalojar o outro Nolken q la está.
[24]
Tem sido hum terrivel furão da Familia Nolken,
[25]
creio que elle sente dever figurar nestas caçadas
[26]
e na verdade pareceme ser hum excellente homem e muito bom companheiro
[27]
Aqui tem a Espanha o seu Tratado em Basilea e assinouse aos 22 de Julho,
[28]
e a rateficacão partio de Madrid aos 4 de Agosto, mas athe ao dia 11 do referido mez não 10 11 ocultou o Duque de Mendia a D Diogo q a Paz se achava concluida, mas athe lhe negou pozitivamte,
[29]
a pra noticia do Tratado que se teve em Lisboa do Tratado foi a que d'aqui mandei
[30]
e pela volta do meu Expresso q foi o Abade Ceni soube q se ficava copeando o Tratado o q remeti pa se mandar a D D Diogo,
[31]
e pelas ultimas noticias q se receberão de Espanha que erão as de 4 de 7bro consta q tendose ali publicado a Paz se não havião porem comunicado as condiçoens.
[32]
O Artigo da parte Espanhola da ecrião de S Domingos aos Francezes tem irritado fortemte esse Ministerio B q fica decizivamte resolvido a embaraçar a conclusão execucão delle, pa o q se fi tem tem destinado hum numero assaz consideravel de tropas q ficão a partir ao pro vento de servir
[33]
A reacão deste choque pode tocar nos, e as cousas ficão em huma situação assaz e não a vejo destante,
[34]
dezejaria informalo mais miudamte do q se passa a nosso respto mas a gravidade da materia he tal q não devo arriscar fazelo por huma carta avulsa,
[35]
fico esperando pelo regresso do Abade q tornei a mandar a Lisboa como Expresso, e não lhe tem ido mal com as viagens q tem feito,
[36]
a ultima foi assaz remarcavel pela brevidade porq partio d'aqui aos 14 de Agosto e voltou aos 18 de Setembro ten-dose demorado outo dias em Lisboa
[37]
Não lhe digo nada das noticias do Con-tinente e dos progressos dos francezes depois da passagem do Rhim porq os tera visto nas Gazetas Inglezas,
[38]
nem este Ministerio tem athe ao dia de hoje outra alguma relação alem das q se achão transcritas nos Jornaes da Convenção faltandolhe desde o dia seis de 8bro toda a correspondencia directa com do Quartel general Austriaco q se não sabe onde para, constando somte pela Relação do general Jordan que o exercito Francez de Sambre e Meuse passava pa o Lhan proseguindo Clairfait na sua retirada.
[39]
... passou igualmte o Rhim diante de Manheim q capitulou sem disparar hum so tiro
[40]
e a vista de huma tal defeza não he pa admirar que os francezes sejão tão bem sucedidos nas suas empresas.
[41]
No interior da franca porem he q se concentrão todos os obstaculos q podem contrariar os projectos da convencão,
[42]
e pelos Jornaes das suas ultimas sessoens dos seus ultimos debates observara VSa a oposicão em q se achão as Sessoens de Paris com algumas das Assembleas Primarias tanto a respto da nova Constituicão como principalmte a respto do decreto q prescreve q as duas partes do novo corpo legislativo deverão ser compostas dos actuaes Membros da Convenção,
[43]
e se se effectuar o ameaço que a mesma Convenção va ter de transferise pa chalons sur Marne logo q na capital se fizer o menor insulto aos seus Membros, e se esta Resolu-ção se effectua sera talvez q ella seja o preludio da guerra civil
[44]
O nosso Araujo fica interpelado pela nossa corte pa dar conta de hum comprimento que dizem fizera ao general Pichegru qdo entrou na Itaya,
[45]
esta corte de Londres tomou o cazo em seriedade e mostrose dezejoza de huma explicação que quanto me foi pos-sivel dezejei evetar mas sem sucesso
[46]
Ainda não encontrei Mr Hamond e sinto que chegase a esta corte porq receio q venha suceder ao nosso Aust com quem me achava muito bem,
[47]
ninguem dezeja menos do que eu o fazer conhecimentos novos
[48]
Com grande impaciencia fico esperando pelo Paquete Janver que deve trazer o cão,
[49]
por Mr Hamond recebi huma carta de hum certo Daniel Lyman escrita de Halifax aos 29 de Agosto em que me diz que o cao vem no dito Paquete deregido ao Fox de Falmouth, em consequencia do q escrevi a Fox recomendandolhe o maior cuidado na guarda e remessa da encomenda pela qual rendo a VSa e a Madame de Freire os mais vivos e expressivos agradecimentos que repetirei com egual reconhecimto qdo for entregue do quadrupede ficando sempre com o meu directo salvo pa pedir outro qdo não chegue o prometido.
[50]
Mle Start cazou effectivamte em Lisboa como o Medico Moore e ja fica de esperanças,
[51]
não me pareceo q os Pais estimassem mto o cazamto,
[52]
creio q esperavão por outro Enveado ou cousa que o valha.
[53]
M W pertendia que a cunhada fosse convidada pa as Assembleas do Marques d' Abrantes, e como não o poude conseguir rompeo com aquela familia.
[54]
Basta de matraca, mas não posso acabar esta prolongadissima Epistola feita a troxe moxe sem pedir a VSa com a mor instancia q queira por na Presenca da Mme de F Senhora D Francesca os meus reverentes comprimentos e certificala do muito q sinto q tenha passado com incomodo,
[55]
ninguem dezeja mais do q eu q VSas ambos gozem da mais constante saude e das mais completas pros-peredades porq todas merecem.

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