PT | EN | ES

Menu principal


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

Visualização das frases

1561. Carta do padre Matias Bicudo Furtado para Lourenço Pires de Távora, embaixador em Roma.

ResumoO autor, residente no Cairo, dá cabais informações ao embaixador português em Roma: refere-se longamente a assuntos de política, viagens, comércio e relações pessoais.
Autor(es) Matias Bicudo Furtado
Destinatário(s) Lourenço Pires de Távora            
De Egipto, Cairo
Para Itália, Roma
Contexto

Esta carta integra o Corpo Cronológico, fundo documental à guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Trata-se de uma coleção principalmente composta por documentação de cariz judicial e administrativo, que abarca o período entre 1161 e 1696, à qual foi acrescentado um vasto conjunto de material disperso na sequência do terramoto de 1755. A datação dos documentos é critério principal de organização do Corpo Cronológico, assim chamado pela mesma razão.

Um apontamento no fólio [4]v indica que esta carta chegou a Roma, por via de Messina, a 3 de junho 1561, sendo seu portador um Giovani Lomellino. A carta foi anteriormente publicada, em edição de 1975.

Bibliografia:

Documentos sobre os portugueses em Moçambique e na África Central, 1497-1840, Vol. VIII, Lisboa, National Archives of Rhodesia / Centro de Estudos Históricos Ultramarinos da Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1975, pp. 152-155.

Suporte duas folhas de papel dobradas, escritas em todas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Corpo Cronológico
Fundo Parte I
Cota arquivística Maço 104, Documento 97
Fólios [1]r-[4]v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=3768334
Transcrição Tiago Machado de Castro
Revisão principal Raïssa Gillier
Contextualização Tiago Machado de Castro
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2016

Texto: -


[1]
sor
[2]
Em xbiij de março passado tive hũa de vs do primro de fevereiro da qual entendo aver reçebido quatro minhas por via de thomas de carnoça po o qual as eu avia enderesçado mas não de maneira q vs me dis porq a copia da de xxij de julho e a de xxix d outubro cria eu lhe serião mandadas por via d Arrauza mas paresçe que frco biffoli ou não teve nesta parte o cuidado q cumpria ou ellas lhe não forão a mão a tempo q o podesse fazer/
[3]
todavia folgo serẽlhe dadas porq servirão ao menos de mostrarlhe o cuidado q tenho do q me manda/
[4]
nas derradras não escrevi a vs algũs queixumes dos meus olhos por ao tempo (louvores ao senhor) me achar algũ tanto milhor delles
[5]
e assi não avendo este empedimẽto escrevi por todas as naos q pera meçina partirão e sou çerto serão minhas cartas dadas a joão lomelino por o bom cuidado q frco biffoli me escreve aver tido em lhas enderesçar
[6]
por via de veneza lhe não tenho escrito por não aver pera ali outra nao q a que a copia desta levará/
[7]
e vs pode crer e estar satisfeito não faltarei de por todas vias o avisar de tudo o q qua passa/
[8]
As cousas do suez tenho escrito a vs estarem em calma e ter jafar capitão mãdado a corte e cresse mãdar pedir dez gales somte pa ellas fazer prezos na costa de melinde ou da india/
[9]
A reposta e resolução desta sua petição se espera cada dia e crese sera a q elle deseja poq alem de aver mãdado grosso presente aos barõs he feito deste cairo o q nas minhas passadas escrevi a vs ser do zebir mto grande amigo seu/
[10]
Assi q elle esperança e eu cuidado grandissimo d entender tudo o q for possivel seus desenhos e de tudo o q socceder avisar a vs/
[11]
e açerqua das cousas de suez não q de novo lhe (como digo) tudo ali está em calma/
[12]
aqui no cairo faz e tenho entendido avera pera se poderem armar xxb galés/
[13]
A madra de q avisado tenho ser vindo em quatro naos toda vinda d Alexandria aqui e os nossos portuguezes passarão os dias passados o tempo em trazer as costas da borda do nillo a hũa terraçena q perto está onde se poem em pilha, he antre elle remos mais de mill/
[14]
Tanto q Anrrique da gama aqui chegou compeçou logo a mostrarse a toda sorte d homẽ crendo q po esta via lhe viria a salvação/
[15]
e foi isto tão desordenadamte q vendo eu os dãnos q daqui lhe poderião vir lhe fiz por portuguez desses cativos amigo meu entender quã errado caminho levava pa poder alcãsar o q tanto mostrava desejar e q soubesse çerto q nesta terã avia homẽ mto particular servidor de vs e que por sua liberdade faria tudo o q fosse possivel/ a qual cousa seria mto façil se elle de sua parte puzesse hũa pouca de paçiençia somte e q çedo por carta de vs veria a çerteza do q lhe dezia/
[16]
ficou elle algũ tanto acquietado com esta esperança e ao seu servidor escreveo hũa carta e nella me dava conta de suas cousas e me rogava quisesse verme elle/
[17]
não quis eu nesta parte fazerlhe serviço vendo quã rota a fama de sua fugida entre judeus andava mas não deixei de o fazer cõçolar o milhor q pude dandolhe a causa por q ao tempo se não podia por em obra o q eu po elle desejava fazer/
[18]
passou algũs dias esta esperança e vendo q o q eu lhe dezia se dillatava mais do q elle qria tornou de novo a matarme com recados vão e recados vẽ,
[19]
e poderão tanto os descõçertos q nesta partida fez q temẽdo eu mais grave quis cair em não peqeno erro e determinei verme elle
[20]
e antre as mais cousas q elle passei lhe pedi se lembrasse de quẽ era e q pois nosso señor o avia trazido a tal estado soubesse elle averse como homẽ prudente e maduro e não como mãcebo na qual cõta o tinhão os q de seus descõcertos sabião prometendolhe por sua liberdade fazer o q por minha propia pessoa deveria outras pallavras q elle devera ficar satisfeito,
[21]
mas não quis minha vẽtura e triste sorte q isto lhe podesse persuadir mas queria (sem ponderar o perigo em q todos encorriamos) se puzesem logo em execução çertos conçeptos (ou por milhor dizer) sonhos seus/
[22]
mas como nosso señor nos maiores trabalhos se ache quis por sua bondade infinita socorrernos a carta de vs mais q po outra de mỹ mto contentamto reçebida
[23]
entendendo elle o officio q eu avia feito em avisar delle a vs e o q me mãda por sua liberdade aja de fazer se acquietou e esta çerto da liberdade q nosso señor po sua misericordia lhe dará/
[24]
eu folgo em estremo entender os desejos q vs della tem poq quanto sinto serẽ elles maiores, tanto mais me esforçarei a nisso servir,
[25]
e darme o cargo desta obra reçebo po merçe grandissima
[26]
espero servila em causas em q mais por seu serviço se arrisque,
[27]
e o q neste negoçeo dis lhe farei não quero sirva de mais q de meresçer o q diguo elle tenha ordenado entregarse a judeus do qual proposito o eu tirei e tinha determinado dar este cargo a christão amigo meu
[28]
e desta determinação me tenho tambem por bom respeito tirado e tenho outro q mta industria e cuidado e a salvamto de todos faria ajuda de nosso señor tudo o q vs neste caso pode desejar,
[29]
seu amo esta por baxa deste cairo e crese virá mto presto outro em seu luguar porq segũdo a uzança turquesqua não he esse o seu/
[30]
se elle se fosse seria pa nos grãde bém poq em se querendo partir o poderiamos fazer nosso feito e mto a nosso salvo,
[31]
e isto estou esperãdo e terei çerteza po todo maio/
[32]
e sendo caso q o dito baxa aqui fique tenho determinado tanto q esta çerteza tiver metelo em hũa casa q ja pa isso tenho mto secreta e nella estara até a cousa se resfriar e depois darei ordem como passe a essa corte e casa, e isto ajuda de nosso señor seria o fim de setẽbro/
[33]
ora vs deve estar mto satisfeito e cõfiar q neste negoçeo farei tudo o q for neçessario,
[34]
e viva seguro e cõtẽte porq a menor parte desta obra tenho mais a cargo q todas minhas cousas jũtas poq tanto o amor q a suas cousas tenho q quando eu bem fizesse po seu serviço mais daquillo q eu posso não deixaria por isso de ser mto menos do q eu devo e do q eu qria poder po elle fazer/
[35]
e nesta não tenho mais q dizerlhe somte pedirlhe cõsole ao señor Amto da gama e a sora dona isabel da silva encomẽdandolhe q orações seja ajudado nosso proposito e entenção poq isto o de q a mais neçessidade/
[36]
por meçina tenho dado aviso da reçebida das suas de 2 e ulto de novẽbro/
[37]
o dupplicado q dis averme po veneza mãdado não tenho agora avido, mas esperasse cada dia nao po a qual o terei os xxb # q na sua dis por a dita via me mãda/
[38]
o que açerqua dos escravos me mãdo diga aos portuguezes e fiadores / fiz/ e na esperança q em vs tem vivẽ todos mto cõtẽtes/
[39]
Eu tenho escrito a vs os nomes dos q novamte são vindos e esta serão tambẽ escritos por elles mesmos,
[40]
agora morreo aqui tal castanho q era patrão de fusta/
[41]
Terei cuidado de fazer o offiçio q me mãda o mocadão
[42]
creo aceptará de boa võtade a merçe q vs lhe offereçe/
[43]
Dos corrimtos d Anto pinto me não espanto q ja sei serem todos esses homẽs criados na india nessas nossas partes tanganheiros, mas não queria q sua enfermidade fosse tal q causasse algũa tardança e enpedisse sua vida/
[44]
Folgo mto em estremo ser André Ribro cheguado a essa casa,
[45]
fez o q eu lhe rogei, nẽ d homẽ tão honrado esperava eu menos/
[46]
Com o visorei ser tal devemos todos estar cõtentes,
[47]
queira nosso señor faça de manra como estes imigos não gozẽ tanto de nos como, te aqui fizerão/ ainda q passado o cabo de boa esperãça dizem cursarẽ logo outros vẽtos
[48]
Eu escrevi a vs ser surrate tomado por Ilerei de cambaia por assi mo affirmarẽ da parte d sequeira q aqui está cativo/ mas depois soube não aver mais q pagar o capitão daqlla fortaleza tributo a Ilerei nosso senor/
[49]
aviso a vs da mta quantidade d espeçias q aos o estreito os dous anos passados veo e se espera ainda este,
[50]
e quero crér q tanta copia como aquí vejo vir não podera passar sem consentimto dos que aqllas partes governão/
[51]
e crea ser mto mais do que nas passadas tenho dito poq cada dia entrão neste cairo caravanas do tór e cóçer e não trazẽ outra cousa que espeçias
[52]
e tenho sabido serem entradas d anno a esta parte neste cairo çínquoenta mil quintães d espeçias de toda sorte e o mais pimẽta, cousa q não sei eu se a vs parescera fabulosa/ mas pode sér que o q direi lhe dará algũa cór de verdade/
[53]
A renda desta speçia estava agora faz tres annos em cem saccos (tem cada sacco seiçentos e vinta çinquo cruzados) e de dous anos a esta parte arribou a duzentos e çinquoenta saccos em tres anos/
[54]
e assi A renda d Alexandria estava em trezentos saccos e po causa da mta quantidade de pimẽta q na terra arribou a quinhentos saccos em tres annos/
[55]
ora veja vs esta puia a qual não seria se a mta copia d espeçias não fosse,
[56]
as naos venezeanas q ao porto d Alexandria vẽ não levão outra cousa q espeçias e se as não ouvesse nhũa entraria nelle/
[57]
e o mesmo digo das de frança/
[58]
eu não sei a causa por q s Al permite q os mercadores da india tratẽ neste estreito pois disso lhe vẽ grande dãno//
[59]
não seria mto milhor q pois as naos q ao estreito vẽ partẽ dos portos de s Al ou donde ao menos os podẽ obriguar q s Al quizer ordenar q nhũa nao sob pena castigo entrasse neste estreito/
[60]
e quẽ quizesse/ navegasse pera ormus, e os direitos que quer outro porto do estreito ao turco pagão, pagasse a s Al e dali poderião levar os mercadores suas roupas q porto do sophí e dali por terra a halepo, e damasco, como agora fazem/
[61]
resultarião daqui mtos proveitos a s Al,
[62]
o primro q descarregando os mercadores suas mercadorias em ormus não se poderia furtar tãta quantidade de pimta| como por qua se faz/ o q pagarião os direitos em ormus/ o q não vindo por esta parte nẽ po aqlla tanta quantidade de pimẽta serião venezeanos neçessitados hir po ella a portugal/ o e mais importante q vedandose esta navegação o turco não teria gales em moquá, nẽ averia suaquẽ nẽ coçer e o estreito não seria tão abũdante de naos gelvas e outros navios como agora / e não levarião a india tantas mercadorias ao bem dos nossos tão contrairos como agora levão/ poq as naos q pa a india vão não levão senão cobre, azouge, enxofre, lanças, espadas, cavallos, e turcos/
[63]
veu q cada ano vẽ hũa nao de surrate mto grossa carregada de pimta e não leva outra cousa q armas e turcos cõprados po seu dro/
[64]
ora os capitães de s Al não vem isto/ porq dara o visorrei cartas ao capitão de surrate pa poder mãdar naos ao estreito pois çerto ser imigo e não pretẽder outro q nosso dãno e avisar os turcos de nossas cousas/
[65]
contẽtome aver tocado estas cousas assi em breve sobre as quães creo fará vs o descurso neçessario/
[66]
Manda o visorrei tres catures ao estreito a quẽ novas d armada,
[67]
nũqua tamanho erro /
[68]
o suez esteril de todos os do estreito, e a elle não de nhũa parte, assi po caresçer de pão agoa e das mais neçessarias como po o turco po causa d armada q alí está dar esta ordem/
[69]
e não como a nossa ribra de goa q não vẽ turco nẽ mouro daqllas partes q não saiba q não saiba dizer quantos pregos tem o galeão são luís assi q a gelva ou navio q o nosso catur tomar não pode do q no suez se faz dizer cousa çerta/ senão de ouvida/
[70]
o são homẽs curiosos de saber, delleitão se de novas/ a mais rustica e bestial gente q ha no mũdo/ descalsa/ nua morta de fome e de çede,
[71]
se mãda saber novas do Abexim outro/ mas d armada impossivel saberẽ outras salvo as q algũas vezes levarão, . s.. falsas, inçertas e algũas vezes vosas/
[72]
quanto milhor seria q s Al ordenasse como neste cairo estivesse homẽ de quẽ este cargo se podesse cõfear pa q vendo as cousas por seus olhos possa dar o aviso neçessario assi na india como em portugal,
[73]
e seria tambẽ cousa mui expediente ordenar s Al como nesta carreira andassẽ dous homẽs indianos christãos pa q do q aqui estivesse levassẽ cada monção cartas a india/
[74]
e desta manra se saberia çerto o q se faz e s Al seria servido e escuzarse hião gastos e risco das fustas q ao estreito por esta causa vem/
[75]
Do Abexim não tenho nova algũa,
[76]
os frades ou embaixadores ainda aqui estão,
[77]
do q delles se fizer avisarei/
[78]
e não se offeresçendo outro peço a nosso señor faça tão contente quanto ha feito a mỹ em mo por señor, e peçolhe aja por bem reconhesçer/ sempre por tão verdadro e obrigado q eu lhe sou/
[79]
do cairo 4 d Abril 1561/
[80]
Beija as Illes mãos de vs/ Mathias bicudo furtado

Edit as listRepresentação em textoWordcloudRepresentação em facsímileManuscript line viewPageflow view