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Maarten Janssen, 2014-

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[1700-1799]. Carta de Manuel de Sousa Palermo de Aragão para Manuel Estanislau Fragoso, juiz de fora de Álcacer do Sal.

ResumoO autor dirige-se ao destinatário denunciando um indivíduo que escreveu blasfémias contra a religião cristã e anexando quatro fragmentos que o comprovam.
Autor(es) Manuel de Sousa Palermo de Aragão
Destinatário(s) Manuel Estanislau Fragoso            
De Portugal, Lisboa
Para Álcacer do Sal
Contexto

Manuel de Sousa Palermo de Aragão enviou uma carta ao juiz de fora de Alcácer do Sal, Manuel Estanislau Fragoso, à qual anexou um conjunto de bilhetes que recebera, supostamente escritos por Anastácio, "Beneficiado de São Tyago". Esta conclusão deve-se à comparação com a letra deste, ficando ele assim dado como autor, apesar de nos bilhetes se encontrar uma assinatura "Matilde" e a referência a um "padre António". Não existe qualquer peça processual que permita um maior contexto destes documentos, e também não fica explicado o porquê de Manuel de Sousa Paremo de Aragão os ter recebido. Estão embrulhados numa folha de papel amarelado com os dados do destinatário final. Não existe qualquer data na carta ou nos bilhetes.

Suporte uma folha de papel dobrada escrita nas duas primeiras faces e na penúltima.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 15604
Fólios 1r-1v e [5]v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2315711
Transcrição Tiago Machado de Castro
Revisão principal Fernanda Pratas
Contextualização Tiago Machado de Castro
Modernização Fernanda Pratas
Data da transcrição2017

Texto: -


[1]
Illmo Sr Manoel Estanislao Fragoso
[2]
A bondade com que VaSa sempre me tem tratado, sem que eu o mereça, e o firme conceito de que a todos vale, e a todos consola, me obriga a derigir-me a VaSa em hum caso, que na ma vida mais me affligio, e me priva do socego
[3]
Alẽ de poucamente affirmar a VaSa que eu nunca pensei mal dos misterios, e moral da nossa Sta Religião, pois como isto são actos internos sempre dei-xão aberto o campo a duvida,
[4]
posso porem com toda a affoitesa protular a VaSa, q nem com as minhas palavras, ou comportamento offendo a piedade, antes faço respeito a Religião, e suas relações; pelo que não são meus olhos sofredores de ler blasfemias, e sinto muito q mas dirijão.
[5]
No dia ultimo deste mes pelo correio de Lisboa recebi a carta inclusa, que remetto a VaSa; carta que não posso ler sem horror, e que as pri-meiras veses q a li me pos em hüa convulsão, não podendo nunca mais obter socego.
[6]
Eu estou bem persuadido que ella he de pessoa d állcacer, mandada deitar no correio de Lxa
[7]
e athe tem a letra muitos vicos da de hum Beneficiado de S. Tyago, chamado Anastacio, pois combinando letras delle, vejo q qdo esc-creve mais apurado he toda a letra da carta, q impropriamte chamo carta, pois he hüa simples narração hestorica de blasfemias, e tras anexo hum papelinho com huma proposição escripta, q involve hum sen-tido duvidoso, pois podendo intender-se em hum sentido bom, tambem se pode intender como maxima de Deista, ou da-quelles protestantes, que negão a Authoridade dos concilios, e do Summo Pontifice, e di-zem que a rasão particular he a interpre-te das Divinas Letras.
[8]
Este appendice copio eu tal, e ql; e deixo o original pa poder combinar com algumas letras.
[9]
Eu desafoguei com o meu Ao o Sr Major porta-dor desta, e lhe dixe que tudo communicava a VaSa para me aconselhar, e socegar meu espirito.
[10]
Rogo a VaSa me desculpe na vide con-sideração de que me dirijo a VaSa pelo res-peito q deveras lhe consagro, e pela bonda-de, com que tracta
[11]
o seu humilde Cdo obgdmo Mel de Sza Palermo de Aragão

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