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1571. Carta de Fernão Rodrigues de Trancoso para o Inquisidor de Lisboa.
Autor(es)
Fernão Rodrigues de Trancoso
Destinatário(s)
Inquisidores Santo Ofício
Resumo
O autor denuncia um homem judeu que no momento reside em Lisboa.
Texto: -
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mtos ção os respeitos q me insintão a screV esta a v m
[3]
o Pimro e çeos de fé. descargo
d alma. castigar aos maos. dar emxempro aos otros
[4]
po derradeiro cortar o cami
nho a quem tem vontade de obrar tão ma obra como a que nesta direy a
vm se faz nese reino cauzadas de pas q quẽ o não vira e tocara cõ mão o não
crera.
[5]
E poq spero os tais averão de v m o castigo como a quem e dado
este cargo.
[6]
a my não toca otro q dizelo a v m o qual cudey de retifica
lo a boca.
[7]
o q po meus pecados não pode S po mtas mas endespoçições em
my achadas cauzadas de mtos trabalhos e fadigas como nesta direy
[8]
e Pimro lhe
direy meu ser.
[9]
eu sõr são de tramcozo do qual me party sendo moço
piqueno orfão de pay e may e de parentes.
[10]
fuime a viver a arronches no qual
passey parte de minha vida
[11]
despois veiome a võtade de ir a castella e pa
recendome bem a vida Religioza me fiz frade dos çocolantes no reino de murcia
damdome as lras
[12]
comtenuamdo em minha vida fiz votto de ir a geru
zalem em companhia de otro padre
[13]
avera tres anos q sahi de espanha
[14]
querendonos tornar ja pa a ditta avendo estado em geruzalem hũ
ano e dias achamos a jornada deficil po cauza das gerras q ay emtre
o gramturco e venezeanos.
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determinamos fazer o retorno po terra
ate Raguza em companhia de judeus dos quais avemos çido não mal
tratados
[16]
basta q po seu amparo viemos a raguza na qual pudemos dizer
seremos cristãos po a ditta terra S de cristãos como vm sabera, da qual cõ a Pimra
passagem passamos a veneza na qual me foy necessario estar 6 meses po me morrer
meu companheiro e passar eu mtas doenças.
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nesta terra achey mtos cristãos novos
quais po eu não conheser determiney fazerme tãobem eu cristão novo po V
o q passava emtre eles/
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poq o abito de frade o avia deixado em geruzalem
asim q tornando a meu dizer S cristão novo lhes dizia não me podia
po judeu poq tinha em portugal mulher e fos pelos quais P estes avia
de ja atrazelos. escuzandome não queria comer en suas cazas po respeito de
meu Cpanheiro. o qual aimda a este tempo era vivo.
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asim q comtinuan
do esta Patica hũ dia vejo vir hũ judeu o qual vinha de lisboa e trazia
cõsigo duas cazadas pelas quais Pegumtey e me dixerão vinhão do fundão
[20]
este judeu q trazia esta jente era morador salonique vindo desa
lisboa averia 10 anos e despois q se fez judeu veio a pobreza.
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e po ganhar
foy ate o fundão e meteo en cabeça a estes q agora vierão se viessem
a fazer judeus e isto tamto po o do ganhar como po trazelos a sua ley
[22]
se
eu fiquey espantado deixo cudar a vm em ver tal coração de diabo.
[23]
não
cristão fazerse judeu e despois yr judeu a portugal a fazer tal feito de
estes ay mil.
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não passarão dez dias me mando chamar hũa judia
rogandome pois eu queria ir a essa lisboa q lhe fizese tamta m e
esmolla q como fosse a lisboa fosse buscar a hũ antonio Rodrigues fo de
breitis rodrigez alfaiaty qual era seu marido.
[25]
ẽ avia perto de 7
anos q se avia feito judeu e se puz po nome juda barrocas qual feito
judeu se cazou cõ esta judia qual se chama mira chavarolla se foy
cõ ella a salonique onde estiverão hũ ano e meio e avendo gastado
o q lhe derão en Cazamto se torno a esta veneza da qual se partiu pa esa
lisboa avera quatro anos dizendo a mulher queria ir po sua may e mais
trazer seus parentes Ricos os quais o q avião de dar a otrem o darião a ele
[26]
parece q o galanty não acho a may nem aos parentes de seu Perposito. os que
segundo manda dizer ditto juda barrocas antes antonio rodriges a mulher
querem S bõns cristãos e não querem vir a estas bandas.
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pelo q vendo
ele não lhe sair a couza a seu modo mando dizer a mulher que queria
e determinava não avia de sair de portugal pobre pelo q determinava de por
hũa tenda de alfaiaty e neste meio quicais sua may e parentes se mudarião
de Perposito.
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e entretamto elle não faria senão ganhar e guardar.
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Preguntey a ditta mulher me dese çinais de seu marido
[30]
me dixe ser hũ mancebo
bramco de barba loura q tira a ruiva olhos Vdes de bom corpo o qual avia
avido duas fas della quais ãtes q o do se fosse avião falecido
[31]
agora tinha
hũa criatura avendo ficada Penhe delle.
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dizemdome mais esta mulher
como o marido mora nas fangas de farinha o qual estava apartado da
may ditta breitis rodrigez e de hũ yrmão do ditto poq não querião fa
zer vida cõ elle po ser judeu/
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todos estes sinais me deu rogando
me como quem Roga a ds o fizese vir e me deu a q cõ esta vay
pa o marido a qual me rogo screvese eu/
[34]
bem cudey sõr meu de
fazer esta Patica a boca e acharme eu a queimar este cão.
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mais po meus
peccados não posso q minha doença e tal não sou sõr de dar dois pasos
[36]
esta mando a v m po mão do sõr Dom gioam tello de menezes
embaxador d el Rey de portugal noso sõr ao qual peço po m Pdoe
pelo atrevimto meu em lhe sreV rogandolhe mais faça por o sobre
scritto pa v m poq eu não sey seu nome
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esta e feita em mi
lão da qual me parto pa os banhos de padoa e queira ds seja
pa me dar saude e me leve a terras onde dezejo/
[38]
nesta não
direy o teo somte rogar ao sr ds aCresenty a vida a v m pa amparo
e sustento da Cta enquizição/
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feita em milão aos 14 maio
1571
[40]
Svidor de vm
fernão rodriguez de tramcozo
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