Visualização das frases [1542]. Carta de Manuel Serrão, mercador, para Mécia Gomes, sua mãe. Autor(es)
Manuel Serrão
Destinatário(s)
Mécia Gomes
Resumo
O autor responde, ponto por ponto, a todas as perguntas e notícias que lhe tinham chegado numa carta da mãe. Fala sobretudo de mercadorias e de dívidas. Queixa-se também, com azedume, da falta de apoio que o pai lhe dá nos negócios.
Texto: Transcrição Edição Variante Modernização - Cores
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[1]
em ẽves a 26 D abril
sora mai
[2]
Pr po anes que trouxe os azeytes Re hũ maço digo carta grãde
de vm escryta a 8 de fevro
[3]
e houtra nao que aqy aportou
neste mes d abril Reçebi outra sua de 25 do dyto as quoaes
p esta farey Reposta ao neçesareo .
[4]
Ja escrevi a vm a reposta das cartas que me screveo p mte Jorje a
ql foy po tres vias potãto nesta nã sera neçesareo tor
nalla a resumyr .
[5]
Diz vm nesta sua carta que se pasavã la mtas cousas de desgosto
sobre mỹ e sobre o que toca a sua fazẽda as quoaes me nã
escreve po me nã dar paixã
[6]
ysto pr meu pãi nã ser pa mer
cador e fazer tã pouqo pr sua fzda e pola ajumtar como
faz e q he ymposyvel desẽdyvidarmonos
[7]
segũdo se ama
nha bõo csolo dese pa quẽ esta da maneyra q eu estou
que acabo de lhe mãdar 5 mill cruz de mercadas depoys
q me screveo dos tres mill cruz do grl que lhe avia de mãdar
me hũ pouqo d aljofar e 9 quoartos d azeyte pa q mays
me posese de lado que o apto ẽ que me vejo c Ro da veiga
e eytor de meneses q ja aqy estã nã he desa maneyra
nẽ sey como nẽ de que arte lhes ey de pagar nẽ a que prepo
syto tomava meu pay taes dros sobre mỹ sabẽdo como
eu estava ca na tera asaz neçesytado
[8]
asy q estas sã
as ajudas de meu pay
[9]
ca farey o que poder poys ele
asy usa comigo e coãdo mays nã puder por ds pcase
tudo e saiba o mũdo o que me meu pay deve sẽ me querer
remedear nẽ buscar p omde
[10]
e dyz que nos lhe deytamos a
pder a sua fazẽda , que ja nã qr mays trabalhar
[11]
poys
asy he pcamonos todos çerto que he forte mall este .
[12]
aqy sã agora vimdos os bretões ẽ q forã os arbys de espadas
e outsa cousas e vierã ẽ 20 dias
[13]
partirã la na somana sãta
nã me trouxerã carta nhũa
[15]
neles
veo muyta gẽte poque ja tẽ Lca da Ra pa virẽ
[16]
hũ fo de
denys gzl me dyse q ese rei mãdara apenhorar meu pay
no ãriquez e dio de loronha ẽ 600 cruz cada hũ dyzẽdo que aviã
pa a bula dos xpãos novos de
q estou muyto escãtado e agastado poque nã sey como yso
pasa
[18]
bẽ sey eu q pãy nã he homẽ
que se meta a fazer tães cousas .
[19]
Ja agora estara ctẽte bastyã fernãdez poque me screve meu pãy
q lhe deu ma paca d arbys e o cprimẽto do que lhe devia ẽ outsa
mercaras mes o que dyse q po lhe nã mãdar o retorno mays
azynha mãdara a ãto frz 800 @ d açuquar
[20]
tudo yso sẽ
palavras poque amyguos estavamos estavamos nos coãdo
lhe mãdou 500 o ano pasado q se he hũ fernão guterez que a mto
que negoçea c ãto frz ds ajude a todos /
[21]
E coãto aos cutys la mãdey mays 9 po hũ cofre as quoaes car
gou afomso frz de tavyra
[22]
creo q ja la devẽ de ser c egas farya
[23]
meu pãy vemda de algũa outa mercadra poys avia la neçe
sydade delas mes coãto ao que dyz que mãdou o feytor
lomdres pretos e brãcos e chamalotes e outsa mercadras
he Vdade poq lhe ajudey a cprar muytas delas
[24]
e sobre
yso nã estamos mto amygos poque dyz que lh acselhava
as veses do que lhe cprya
[25]
ora deyxemos ysto q eu nã sey
que lhe faça
[26]
remedeasemos nosas cãseyras q despoys
ds nos farya m ,
[27]
a ql fora cprar os 810 cruz ẽ açuquares como vm aCselhava e nã
ẽ azeytes omde foy estevão gzl e os outso a gastar o que
gastarã
[28]
e vierã 9 toneys que nã valẽ 500 cruz a tall
tẽpo que lhe juro pr noso sor que os qys la vẽder e que a çeytil
me nã querẽ dar por eles
[29]
e o outro esta ja aqy pa aver
seu dro
[30]
ay tãtos nesta villa que nã a logeas ẽ que os metã
[31]
e a graça he q escrevi eu a meu pãi que mos nã mãdase asy q
bẽ se ganhara no albytre dos 800 cruz
[32]
çerto que nã ẽtẽdo
a meu pãy a ql fora mãdarm os 800 cruz ẽ dobrões ẽ huã nao he
lograrame deles tres meses e nã agora que custara mais
a mecha que o çivo
[34]
e q cta
a dio de camargo sẽ preposyto o que nã sabe
[35]
e dyz q eu
lhe deyto a pder sua fazẽda
[36]
q hũa pedra que fora tevera
csyderação pa dyzer ja dey a este homẽ hũa qytaçam
de 400 he ele que me demãda outra algo mays deve se
nã asy a sua võtade faz as cousas
[37]
ora deyxemos ysto
que me tyra os dias da vyda
[38]
nũqua mays meu pãy me screveo do que avia de pagar estes 800 cruz
[39]
e poque pagou agora la duas Las a dte alz diz que nã tome
mays nada sobre ele
[40]
e eu mãdeylhe dous mill cruz de mercadras
[41]
estes bretões de tudo me parece ne
goçear e a mym a a po aluz que me mãdase os seus açuquares
ou dyz q he hũ mão vilã Ruỹ
[42]
e myl males ate que o outro
vemdeo os açuquares a mte mẽdez e mãdouos a dio mẽdez que fiq
o mays chafado homẽ do mũdo coãdo a nao aqy chegou e me
achey aquy somẽte c os de duarte trystão
[43]
que se meu pãy
lhe ãdara os aparelhos como vm dyz eu sego que nã nos
vemdia ele
[44]
e agora ja estamos de qbra poq eu tenho fto
ẽbargo nos açuquares polo que me deve po alz
[45]
veremos ẽ
q parã os negoçios
[46]
ele csegava agora la pla sua nao grãde
porẽ segdo as delygẽçias meu pãy tẽ c ele eu sego que
a mãde a outrẽ e asy tudo vay a traves .
[47]
chegou qa a nao ẽ q vierõ os azeytes o domĩgo de ramos e logo des
cargarã o caixão ẽ q vinhã as cousas de cama
[48]
nũqa cousa
veo a tã bom tẽepo como aqla nẽ taes pescadas e grãos q juro
a vm ẽ bõa verdade que fizemos tãta festa c elas
que mays nã podya ser po estarmos ja ẽfadados da cores
ma
[49]
e mays lhe faço saber que casy todos os mercadores da
nação que aqy estã d asẽto comerã de tudo e lhe dyserã
myll bẽções tãtas e mays as que lhe dygo lhe venhã
[50]
ora nã se falo no mell poque he cousa do pays
[51]
eu o abry pa
mãdar hũ pouqo a hũ burgumte que teve o meu fto nas mãos
coãdo me prẽderã que he muyto homrado homẽ e fez cou
sas c ele que mays nã pode ser
[52]
he tã allvo como prata
e cortase c faca como qeyjo
[53]
tã doçe lhe seja a velhyçe
como he
[54]
asy q vierã a muyto bõ tẽpo
[55]
tudo noso sor lhe de sẽpre
do seu bẽ ẽ abastãça
[56]
seu neto lhe beyja myll vezes as
mãos polas ẽpanadylhas
[57]
vinhã ja allgo danadas porẽ
asy como erã lhes acodimos .
[58]
diz vm que estavã das mercadras q de prmo avia mãdado 400 mill rs
pr vemder
[59]
nã sey como as nã vemde meu pãy ymda que pca que he
melhor que não tomar dro a cambyo sobre mỹ que me deyta a pder .
[60]
diz vm que deviã la ao cde e a jorje serão dio d almeyda mel serão
crara luys hũ cto de reys e estava muyto agastada dyso
[61]
o quẽ
nã devera mays q yso q logo me fora pa la
[62]
mes mall pecado
lomga soga tenho de tirar e mays c eses q sã fos e irmãos tudo
se pode pasar .
[63]
E coamto ao que dyz que todos tratã ẽ tro deyxeos tratar e nã
lhes aja ẽveja q bõa topetada lhes da agora a segda o muyto o muyto
q la he ydo e mays as bõas novydades que dyzẽ q la ha estano
[64]
pesame pr amor de jorje serã q nã sey q fzda lhe farya fernão
gzl meu tyo que nã me dyserã como estava ẽ burdeos
[65]
pza
a noso sor que lhe de ganho de bõa parte e ctẽtarmeia c que ty
rase
pdese segumdo o mto tro q ca dyzẽ que foy ds
[66]
E deses agastamẽtos q vm tẽ pr dever a dio d almeida 280 mill rs
e dyz que nã tẽ tãtas fazẽdas pa tratar ãtes me pareçe a mỹ q se
nã deve de symtir yso ymda que lhe meu pãy deva a outro tãto
p ysto que lhe derã muyto grãde casamẽto asy seu pãy como vm
mas como dyz he cryado ẽ çiviledade he nã e fo
[67]
verdade he esta q
jorje serão ds o goardease de doer pr força de nosas cgusteas he
se as puder remedear c a alma o fara
[68]
dyseme este trystã de me
neses q estava muyto bẽ c ele ãrique machado e que lhe pres
tava dros cada vez que os queria e asy me dyse que morera a cas
telhana ds a pdoe e que p sua morte levarã hũs cofres de fzda a
casa de jorje serão
[69]
e mays q la se dizia que casarya estevão
gzl c a outra fa de ãriqe machado
[70]
provese a noso sor q fose
asy e ãtes oje que amenhã
[71]
nã sey se me dyse ysto po se cgra
çar comygo
[72]
escrevame vm tudo prq ymda q eu tenha payxões
e desgostos ẽ saber que meus irmãos estã descamsados he a
sua vomtade
[74]
e poys noso sor qys
q eu soo naçese pa trabalhos que aja paçiẽçia
[75]
e ctudo lhe dou
ymfinitos louvores .
[76]
çertamẽte q vm tẽ mays rezão de ter paixão de me não poder V jumto de
sy que de nã pagar o que deve a seus fso q yso cousa he qu ãdãdo
o tẽpo se fara
[77]
que lhe juro a noso sor que me pareçe que nũqua
os ey de ver segũdo mynhas cousas vão
[78]
q mays qr meu pãy
que pr toda sua fazẽda ẽ almoeda e vẽdela po me desẽpenhar
e ter jũto csygo
[79]
que se tevera fsa pa casar nã lhe acselhara
tall cousa
[80]
ou tãbẽ se a fazẽda nã basta pa pagar o q eu devo
farey o que fez o filho de fernã royz do mte que a deradra oytava
de pascoa se fugyo desta villa pa Italya po dyvedas e ẽ
tres anos pdeo 25 mill cruz que seu pãy nã lhe deue nada ãtes
[81]
despoys de estar pdydo lhe mãdou seu pãy doze mill cruz q
de 4 mill e aqy na tera ficou devẽdo bẽ dez mill cruz
[82]
e foise
pdydo por ese mũdo e fica agora seu pãi pdydo cheo de filhas
[83]
este dyria eu que deytou a pder seu pãi que lhe tyrou de sua fzda
doze mill cruz ẽ dro de comtado nã lhe devẽdo seu pãy hũ reall
[84]
mas o coytado de mỹ que a doze anos que trabalho como mouro he
sẽpre me tẽ meu pãi debayxo ẽ seys oyto dez 20 mill cruz
e eu nũqua lhe devy dro despoys que qua estou ou ele pagou
allgũas pdas q eu tyvese
[85]
oxalla me pagase as mercadras
e ẽtereses que po ele pagei e o que liquidamẽte me deve q
eu me hiria logo desta tera c minha homra que posto que
dyga que tynha 20 mill cruz coãdo vỹ pa qua eu sey bẽ como os
tynha que pa me dar mill cruz que trouxe ẽ se nã fora dro de fernã
mẽdez que os suprio nã os pudera dar
[86]
e bẽ sabe vm que nũqua
me mãdou fazẽda que nã viesẽ logo Las de cambio tras elas e eu
mãdar todo mũdo de mercadras
[87]
foy ele nũqua poderoso pa ter qua
tres myll cruz de deposyto como outso
[88]
e poque eu ẽtẽdo tudo yso
escusado to de dyzer que o deytei a pder
[89]
deytouo a pder seus
descuydos e nã ser pa mercador como vm dyz que se me ele
ajudara como eu fazia nã cayrase ẽ ẽtereses nẽ estyveramos
pdydos da maneyra q estamos
[90]
dygo ysto a preposyto do q dyz
dos desejos que tẽ de me ver
[91]
noso sor sabe os que eu tenho de me V
fora de tãtas afromtas e de bocas de gemtes e de xpão
novos e rapazes que se meu pãy fora outro tudo coãto tẽ
ouvera de dar pr menos a metade do que vale e desẽpenharme
poys o que lhe peço nã no jugey nẽ comi nẽ dey a putas
[92]
mãdey lhe
ẽ mto boãs mercadras e foy dro que pagey d ẽtereses por me nã proV
aos tẽpos devydos e sayr c mynha homra como me escrevia mtas
vezes custe o q custar e cũprase mynha homra
[93]
e agora escreveume
nã vos metaes ẽ ẽtereses sabẽdo que me deve hũ mũdo de dros
e q estou ẽpenhado plas orelhas e q ey de pagar ou fugir
[94]
vede se esta aqy meu avo o torto que me ẽpreste os dros sẽ ẽterese
[95]
sã boãs ctas do mercador as que meu pãy tẽ feytas e faz
[97]
sẽpre ãdou redomdo ẽ suas cousas e ctas
[98]
coall foy a goaya e o dya que eu dyse que querya vir pa esta
tera .
[99]
cuyda vm que me screveo nũqa meu pãy q vã la as lonas do mte ãto
como se nũqua fora çerto q he pr demays
[100]
e bẽ mo dyse vm sẽpre
e eu nũqua o cry senão agora que me vejo pdydo e nã me poso
valeer .
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