Visualização das frases [1615]. Carta de Bento Barbosa, homem do mar, para a sua mulher, Ana Lopes, lavadeira. Autor(es)
Bento Barbosa
Destinatário(s)
Ana Lopes
Resumo
O autor dá notícias à sua mulher, dizendo que está vivo e contando as aventuras e doença por que passou, justificando com isso o facto de não ter escrito ou aparecido mais cedo.
Texto: Transcrição Edição Variante Modernização - Cores
[1]
permita noso snor q esta vos tome con perfeita saude q
este voso marido vos dezeja
[2]
ja estou muito emfadado
de escrever tantas cartas como tenho escrevidas sim
ter reposta de nenhuma
[3]
e ja me parece q não sou
alembrado por bento barboza mas quando vos isti
veres mais descuidada antão vos ei de emtrar
pela porta se deos quizer
[4]
por iso estai aver
tida do q vos emporta porq não poso mais q nestas
partes quen não tem cabedal pa guaanhar sua vida
não chegan culpa a não
[5]
tive noticea estando
na china q vos me escreveras por ho carbalho q fomos
ja embarcados numa armada cervindo el rei
[6]
q porou
vera deos q não me metera a cervir el rei porq não
pagua jamais q com papeis
[7]
mas ja estou desemga
nado de o servir se não ce for con prata na mão
[8]
novas minhas são ficar de caude deos louvado
pa tod o sempre
[9]
mandai boas novas a vosa sogra
de min e mais a minhas tias irmãs de minha mai
[10]
escrebe a
a minha mai q digua a minha tia dona iabel q coma
[11]
muito
embora o q me deixou meu pai q deos tenha no seu re
to q sedo me deos trata pa recadar o q for meu
e q de a saber ao jois dos orfãos q sou vivo e
mais ao escrivão q core os papeis dos orfaos
[12]
e de tudo isto eu tenho a culpa poi não quis are
cadar o meu
[13]
ja vos sabereis dos riscos q pasamos
quando ce perde a nau na costa de milinde
[14]
ce
não forão os mouros q estavão fazendo res
gmento naquela costa ja nos querião cortar
a cabeça mas os mouros derão por nos muitos
panos q trazião pa venderen a hes propios
[15]
hũ a
no não tive hũ dia de saude por respeito das
mas augas q ali avia naquela costa
[16]
o comer
era marisco da proha e tam bondia q o podia
mos achar pa comer cru q não lhe damos lugar a mais
[17]
mas como fomos a bombuca logo nos derão
duas pataquas pa comer e as quais não herão pa quinse
dias
[18]
pasamos muitas nicidades quantas deos sabe
[19]
dei a noso señor muitas gracas pelas boas orasois
q por min vos tendes razadas q me faz deos ta
ntas mces q mais não pode ser
[20]
o q vos peço q não
vos dexeis esqueser das vosas romarias a no
sa senhora do êmparo q ela me tem feito moitas
mces nas minhas viages ca destas partes do sul
[21]
podeis dar estas pouco boas novas antonia
dias q o seu fo he morto q nunqua falou
comiguo a perposto como via q eu ser
via ilrei
[22]
do mais sênper me pergunta
va por sua mai
[23]
eu pouzei na sua ca
za muito tẽmpo
[24]
loguo como soube q sua
irmãn hera cazada não quis mais cuida
ndo q hera comiguo
[25]
mas como lhe eu dise
a verdade loguo ficou muito triste e me espidio
q ja estava sãu e me perguntou q detriminava
q não podia ter soldados em sua caza porq
ja o mundo falava perguntavão q homen
hera eu
[26]
e ja eu me detriminava pa apque
la somana de me embarquar
[27]
não sou
rezão q dei boas novas a quem por mim pergu
ntar
[28]
a meu primo e mais a sua molher que tä
bem lhe peco que me emcomenden a deos
[29]
deste voso marido ate morte
que deos
garde
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