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Maarten Janssen, 2014-

CARDS1068

1692. Carta de Francisco Gomes Sardinha, vigário, para um membro da Inquisição de Lisboa.

ResumoFrancisco Gomes Sardinha, desesperado, reitera o pedido de ajuda à Inquisição de Lisboa.
Autor(es) Francisco Gomes Sardinha
Destinatário(s) Anónimo111            
De América, Brasil, Rio de Janeiro
Para S.l.
Contexto

O réu deste processo é o vigário Francisco Gomes Sardinha, preso por solicitação. Era vigário na igreja de São Salvador, bispado do Rio de Janeiro, e foi acusado de solicitar várias mulheres para atos "torpes" e "desonestos" aquando da confissão sacramental. As mulheres abordadas por este padre tinham sido: Inês, escrava do Curral de Nossa Senhora da Ajuda, Isabel de Barcelos, solteira e filha de António Soares da Costa, Catarina Soares, mulher de Mateus de Medeiros, e Luísa, escrava de Catarina e Mateus. Segundo a acusação, o réu oferecia dinheiro e prometia muito mais às ditas mulheres para estarem com ele. A defesa do réu negou todas as acusações, alegando que o padre era um homem de bem, de boas famílias, e que sempre tinha cumprido o seu dever como religioso; estaria a ser vítima de uma perseguição, uma vez que na sua freguesia costumava descompor quem não ia à missa. Muitas das famílias da freguesia ter-lhe-iam tal ódio que até tinham deitado fogo à sua casa, e 25 pessoas tinham mesmo sido apuradas como culpadas. Francisco Gomes Sardinha veio a falecer no dia 6 de setembro de 1695, em Lisboa, nos cárceres do Santo Ofício. Segundo os inquisidores, o réu morreu de causas naturais.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita em ambas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 12242
Fólios 62r-v
Transcrição Ana Rita Guilherme
Revisão principal Mariana Gomes
Contextualização Ana Rita Guilherme
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

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Illustrissimos Senhores

Com a divida obediencia dou satisfação a vossas illustrissimas senhorias de como a esta cadea, prizam em que estou reteúdo Largo tempo sem recurço para poder ir pessoalmente veo a ter commigo o Reverendo Commissario francisco Christovo da madre de Deus Lus em 17 do prezente mes, e anno abaixo asignado darme parte da Commissam, que tinha de vossas illustrissimas para tomar conhecimento do avizo que avia feito por carta, a que me reporto escrita na frota pasada de 20 que emviei por Gonçalo abures malhero, que deste juizo ecleziastico remeterão a esse Santo tribunal, e Como a materia dos cazos he de tanta importancia ao servisso de Deus e de muito segredo que o conhecimento toca ao santo tribunal, e so se podem revelar as pessoas de vossas illustrissimas e não o Commissario para rezolverem com o aserto que costumão o castigo de semelhantes delictos, e atalharem a que se não multepliquem tão graves crimes, pois que ate ao mesmo Deus se atrevem os homens, esta mesma reposta dei ao dito Reverendo Padre commissario Neste particular não me move outra cousa mais que o zelo de fiel christão, e por certos incovenientes importa ir eu pessoalmente a prezenca de vossas illustrissimas que ja ouvera ter ido no anno de 88 quando remeti a inquirição de Dona Ana baros, que por impedimento do achaque que me sobreveo nos olhos não fui nessa ocazião, e na frota de 89 prendeume o Bispo Dom Juzeph de barros de alarcam, a elle não lhe comvem, que eu va a Corte Com receo me tem impidido na prizão. porem não sabe de minha rezulução, que a ter Liberdade ja la estivera Eu sou mortal, requiro a vossas illustrissimas Senhorias da parte de Deus mandem expressa ordem a sojeito capas sem sospeita, não obstante estar prezo, sendo que ainda esteje que me remeta seguro debayxo de prizão, por que se não prezuma que he industria minha para me remir da molestia que padesso conhecendose o meu zelo, não me livra a que seje outra ves rastituido a este juizo con toda a seguranca Esta commissão para me remeterem de nenhuma maneira, mandem vossas illustrissimas senhorias a clerigo deste Bispado que han de devertir porque todos vivem timerozos do Bispo suposto Sua Majestade que Deus guarde o manda recolher a essa corte, sempre o seu vigario gonçalo fica observando sua opinião que he meu inimigo

Acerrimo, neste particular avizei tambem a vossas illustrissimas senhorias por carta escrita na Nao do torram a ella me reporto que partio depois da frota pasada. o que eu pesso a vossas illustrissimas he quando me mandem ir que seje em Nao de bandeira segura em rezão da minha liberdade do risco do mouro. tenho desencarregado minha conciencia Vossas illustrissimas mandarão o que forem servidos, e mais comveniente ao servisso de Deus as pessoas de vossas illustrissimas senhorias guarde Deus por felecissimos annos

cadea rio de janeiro 19 de março de 1692 annos Com profunda reverencia e obedientissimo servo de vossas illustrissimas senhorias o Padre vosso Francisco guomes sardinha etc

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