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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2105

1722. Carta de frei António das Chagas para António Ribeiro de Abreu, Inquisidor de Coimbra.

Autor(es) António das Chagas      
Destinatário(s) António Ribeiro de Abreu      
In English

Request letter from a priest, friar António das Chagas, to an Inquisitor of Coimbra, António Ribeiro de Abreu.

The author asks the addressee to advise him on a matter regarding a woman possessed with the devil that went to confess to him. He fears he has done wrong by helping her to abjure and, in the process, to have touched her body in order to remove hair from her breasts and her left armpit.

A servant in the place of Felgueiras, in Northern Portugal, was accused of making a pact with the Devil. The witnesses who testified against her believed that she appeared to them in the company of a well dressed young man (the Devil in disguise). Later, they would forget all about it and only remember through the Catholic confession and communion. They believed to have been enchanted, made invisible and forgetful while they would have illicit sexual intercourse with other people.

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Ao Dor Antonio Ribeyro de Abreu meu amo e sor gde Ds mtos a Me escholla da Cotla de Barcellos, e Inqor apco da Inqam de Coimbra [...] Vintem Coimbra J M J Meu amo e sor

Aqui vamos continuando a nossa perigrina-ção com boa saude, e pedindolhe a Vmce cada hu de nós sua Ave Ma em cada frga como temos ajustado não se descuide Vmce de nos encomendar tambem a Ds e su-posto não faziamos tenção de passar de Margaride pa esta pte da Ribra de Vizella nos forão rogar com gde instancia estes frades Bentos de Pombeiro pa q lhe viessemos pregar à Igra q he frega e fica so meia legoa de Margaride e daqui tornamos a Pedra Ma q he hua ermida gde e maior q a igra de Var-ziela d onde he frega e fica em boa comodide pa a vizi-nhança; vejo lhe gosto de ficar a missa de Amarante pa a quaresma, porq temos ja dado palavra pa al-guas fregas q levarão athe o fim de janro e sempre antes disso sahirá mais algua, a q não poderemos faltar. Aquella mer pa q pedi a Licença ja tor-nou a meus pés porem deixoume mais confuzo q na pra vés e ainda foi sem absolvição em q ella fás bem pouco reparo, e de q mostra bem pouco sentimto, colhi della q assistio algum tepo em hua caza gde de cavalhros não me quer dizer de quem he, nem em q pte e no mais fallame por termos q desconfio mto della e se lhe acha-ra fundamto pa me persuadir tinha algua couza de louca, então ficara satisfeito. Veio a meus pés outra das q a esse sto tribunal se tem accusado destas diabruras, e não sei se me meteo, ou me quis tambem meter nellas. He o cazo, q se accusou de q em doze cabelos de duas pessoas, macho e femea, seis de cada hua, tinha feito pacto com o demo de q tocandoos viria as tais pessoas peccar com ella, estes cabelos tinha nos peitos á roda do bico delles, e o pacto retificado sete vezes incitavaa o demo fortemte a q os tocasse, e em perigo mui evidente disso andava emqto os tinha; o onico remedio era abjurar o pacto como fes na minha mão, dizen-do q na outra denuncia, ou denuncias q ja fes de si mesma lhe esquecera e agora ha poucos dias lhe lembrara, e juntamte tireilhe outros os Dos cabelos pa se quei-marem com as ceremas da igra disseme q não tinha de quem se fiasse pa lhos tirar sem perigo de sua fama, senão hua pessoa q está daqui mais de seis legoas a q agora não podia recorrer; ou o confessor; eu vendo a sua necesside e occorrendome q he licito tocar semilhtes ptes pa remedio das necessides corporais mto mais o era pa remedio das espirituais, me offereci a tirarlhos, não achando nenhu de nós então ou-tro meio; pareceome ser isto licito, fazendoo eu sem mao fim, e julgando q o tocarlhe os peitos pa o sobredo effo me não cauzaria ruina algua; ella disseme q dezejava vir nisto e q se lhe tirasse aquella occazião de culpa, porem q o demo o havia de im-pedir mto como costumava qdo se desfazia qualquer pacto, e q despois de co-mungar, imediatamte se poderia fazer isto porq então estava mais livre do demo Recebida pois a comunhão, tornei pa o mesmo lugar do confissinro e fazendo ou simulando q se tornava a reconciliar, me disse q rezassemos o Magni-ficus, e outras couzas como fizemos e q metesse dous dedos sem lhe ver a pte nem tocar nella com mais e achando os cabelos os tirasse; com esta diliga tirei dous, ou trés naquelle lugar; porem vendo ella e eu tambem assim o entendi, q por aquel-le modo não se podia tirar em forma ficasse tudo limpo, e sem perigo de cahir algu ou pte delle porq então não se remedeava o mal, assentamos q fosse logo pa caza e eu eu imediatamte fui tambem, e com a honestide q me foi possivel, fazendo por não ver senão a pte q era preciso lhe tirei os Dos cabelos, q tinha ainda na mão pa queimar em tendo occazião de q traga estas ceremonias. Despois disto feito me disse q tambem hos cabelos do sovaco esquerdo tinha feito pacto, pa q assim como fossem crecendo, crecesse a affeição della a certa pessoa, a qual via mtas vezes; e sentia gdes tentações, por ter ja os cabelos mui crecidos, e q ja hu confessor (q eu tenho em boa conta) lhos cortara duas vezes, rompendo a camisa, o q bastava pa isso, naquella pte como eu fis tambem. tudo isto foi então sem o menor escrupulo do pecco, com os olhos no bem espiritu-al daquella mer, e fiado em Ds de q sendo por este fim não sentiria estimulo algu, como as-sim foi, e sem embbo de q a tal mer era moça, e mimoza, pareceme q lhe tocava na carne, como em hua pedra, em ambas estas diligas gastariamos hu quarto de hora, porq o demo por sua industria, ou ella por sua malicia mostrava algua renitencia, q com duas palavrinhas de exorcismos se acomodava logo; e athe ella ou por si ou plo demo se me fes privada dos sentidos es-tando eu na diliga do 2o peito. o q suposto depois de feito isto comecei a cuidar se fizera ou não algua parvoice; emqto ao fazer da obra, e antes de feita não me ocorreo inconveniente nem circunstancia por onde deixasse de me ser licita; e he certo q se eu me persuadira tinha naquillo algu perigo provavel de peccar, não havia de por mãos á obra porq nesse cazo pro estava eu q ella; porem não me pareceo então couza illicita, nem de tal me accuso, nem accusei na confissão; comtudo ponderando agora q ha couzas q não sendo em si pecco grave, por se executarem no acto da con-fissão o são, ou podem ser gravissimo, não sei se essas accõis q refiro, por serem principiadas in actu confessionis simulato, e continuadas em caza quasi imedite post confessionem, tem por isto algua malicia, ou irrevera contra o sacramto, se nisto cometi algua culpa, della peço perdão a esse sto tribunal, e fico prompto pa receber o casto ou penitencia q me der; de culpa q nas das accõis cometesse contra o sexto mandamto não me accuso, nem sinto de q me accusar; e se soubera ou advertira q cometia algua culpa contra a revera do sacramto pareceme q não executara o sobredo e como por aqui anda o demo fazer gdes males, e dános contra o seu credito; não sei se será isto obra delle pa me meter em algua, e q despois me em q entender metendo algua couza na cabeça á tal mer porq o demo ainda falla com ella cada dia e cada hora. Não me lembou perguntarlhe se as pessoas daquelles pactos q abjurou estão ja denunciadas, ou ainda q o estejão se ha naquelle pacto círcúnstancias, de q se deva dar conta a esse tribunal; porem eu ainda hey de fallar com o sogeito, e en-tão averiguarei isso, e se ouver de q se denuncie se dará conta. estas benzedeiras ainda conti-nuao, e por aqui curão nesta forma, como se pa isso estiverão aprovadas. Também mtas stas não sei se são fingidas; hua me veio aos pés q e falla com nossa Sra a cada passo e lhe revela mtas couzas, a vida não indica a sanctide q ella confessa de boca; outra me disse q trazia o coração atravessado com hua setta, e q todas as curas q contemplava qualquer couza o sentia abrazar em modo q o não podia sofrer, e q este fogo lhe passa pa fora porq na pte esterior tem hua inflamação mui gde e chagas e ja teve mais, e dellas se curou, esta plo q ella dis tem melhor vida; porem eu nada disto creio, e tomara saber isto por modo q de se pudera examinar. Recebi a carta de Vmce e meu compo outra escriptas em 25 do passado; e das q eu lhe tenho escripto suponho q todas lhe tem hido á mão excepto hua q lhe escrevi da Lixa e não plo corro de Lxa como Vmce parece q entendeo esta escrevi e foi de em principio de 9bro. o corro passado não lhe escrevi. não cabe mais, veja o sobescripto dessa Ds gde a Vmce

Pombeiro 8 de Dezembro de 722 mto amo e S d Vmce Fr Antonio das chagas

Desta confraria não ha couza q mande dizer senão q hua pessoa destas q comigo se confessou, e de q faço menção na carta dezeja fallar com Marianna de Simõis q he a abelhinha mestra desta gente, e ella lhe tem mandado dizer mtas vezes q tem q fallar e proximamte lhe mandou dizer q se visse em vespera de S Andre, ou no dia em Margaride, aonde nos então estavamos. porem como choveo não veio, e a tal pessoa lhe quer fallar pa q se confesse comigo e se descubra mas, porq entende e eu tambem q suposto ja se accusasse a esse tribunal, não seria do dizimo do q tem feito e será do q lhe disserão a accusavão, porq o mais ou lhe não lembrará, plo pacto do esquecimto ou o não que-rerá dizer. nesta he q está a chave de todo o jogo, e esta he q pode descubrir tudo a fundamentis porem a tal pessoa não quer falarlhe sem vir hua reposta de hu seu confessor q se mandou ja pedir pa vermos se vem em q isso seja conveniente; eu sabendo q nella estava hiso o ponto ja fis mto pa acolher aos pés, e ella creio entende q eu sei algua couza, fallou comigo de passagem, porem por cartas nos comuniquemos. e tudo era dizerme q por letra lhe manifestasse nego e a de dentro deste sobescripto befica, porem mandava as cartas por assinar, e com mta velhacaria, asi por ulto me disse q se fosse a guimes daria tracas a cahir, e se confessaria comigo, porq não podia ser, eu lhe disse q q afrontassemos dia e não me respondeo mais; veremos se esta q esta armada obra algu effo


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