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Maarten Janssen, 2014-

PS1098

[1580-1600]. Carta de dona Filipa de Jesus de Portugal, freira, para dona Marta de Alpoim.

ResumoA autora lamenta-se, dando detalhes do cativeiro a que está sujeita e pedindo notícias de familiares e amigos.
Autor(es) Filipa de Jesus de Portugal
Destinatário(s) Marta de Alpoim            
De S.l.
Para Portugal, Coimbra, Miranda do Corvo, Convento de Santa Maria de Semide
Contexto

A correspondência de D. Filipa que se conservou em Simancas acompanha uma série de cartas provenientes de Lisboa dentro de um maço intitulado "Diversos papeles, relaciones, copias de cartas y otras cosas tocantes a Portugal y la pacificación de algunos lugares de aquel reino [...]. Todo ello desde el año de 1583 hasta el de 1587". O correio fora originalmente apreendido estando D. Filipa reclusa, em clausura imposta por D. Filipe I de Portugal, num contexto de perseguição aos apoiantes de D. António. As suas cartas refletem as ligações que mantinha com diversos conventos cistercienses e amigos espalhados pelo reino de Portugal. Efetivamente, várias cartas são dirigidas direta ou indiretamente ao convento de Santa Maria de Semide (também conhecido como Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção) e ao convento de Odivelas. Exilada em diversos conventos no reino de Castela, separada da família e sem meios de sustento, D. Filipa não cessou de escrever. Há vários argumentos a fundamentar a hipótese de as suas cartas terem sido apreendidas já no tempo da união das duas coroas e de esta filha de D. António ter sido afastada por D. Filipe I de Portugal. Nas cartas, leem-se alusões diretas à ausência de compaixão daquele monarca, frequentes queixas acerca das condições em que a freira se encontrava, além de a sua escrita evidenciar a adoção de léxico e expressões castelhanas. Uma sua irmã, D. Luísa de Portugal, igualmente freira, foi também desterrada para aquele reino, mas em regime separado.

A D. Filipa e à sua correspondência se refere Fernando Bouza Álvarez (2000); às duas irmãs, alude Jacqueline Hermann (2010).

A presente carta surge no corpo de outra carta (PS1095), de dona Filipa de Jesus para dona Constança de Noronha, abadessa.

Bibliografia:

Bouza Álvarez, Fernando (2000), "Cartas, traças e sátiras. Política, cultura e representações no Portugal dos Filipes 1580-1668", Portugal no Tempo dos Filipes, Lisboa, Cosmos, pp. 19-38.

Hermann, Jacqueline (2010), "Um rei indesejado: notas sobre a trajetória política de D. Antônio, Prior do Crato", Revista Brasileira de História, v. 30, nº 59, 2010, p. 141-166.

Suporte duas folhas de papel dobradas, escritas em seis faces e com sobrescrito na última.
Arquivo Archivo General de Simancas
Repository Consejo de Estado
Fundo legajo 429
Cota arquivística
Fólios 46r-[46b]v
Socio-Historical Keywords Ana Leitão
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2014

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Aa dona marta d al pöi minha senhora senhora minha

dia da naçẽça do filho de deus me forão dadas as cartas desas minhas senhoras ee a vosa a qual foi de mĩn riçibida tãtas lagrimas proçididas da grãde dor deste coração voso que cudei minha senhora que se me acabava ha vida sẽi vos primeiro ver e sẽi vos ter sirvida cõmo desejjo e cõmo cudei que podese mil vezes a leio mãs se me afigura que foi feita tão pouco gosto cõmo ẽn vos minh alma ha outras outras que vẽi tão ispuria cõmo sẽpre para mĩn fostes outras cõtẽplo que de qualquer maneira que sejja foi feita por esas mãos qu esta alma vos a adorão he asin lhe dou mil bejjos auguados tãtos rrios de lagrimas que para não se me rõper a inxugo ao lume es aqui minha senhora a vida que ausẽçia e saudades vosas dão ha esta

mofina cativa vosa que outra ninhũa cousa sinto senão esta verme sẽi vos minha alma minha vida e meu bẽi me tẽi feito estar nesta cãma a sete meses não vos poder minha deusa sirvir me fas ter pirdido o goso de toda a cousa da vida e as poucas e fracas esperãças que de vos tornar a ver tẽnho fazẽi estes desa vintura dos olhos serẽi sẽpre fõtes. sejja deus lovado cõtudo jjusto jjuizo e seu o que eu padeso castigo he que meus pecados remereçẽi mas ãtes ẽn ter cõta comigo para me não deixar cair ẽn ẽn desesperação usa comigo cõmo pater misericordiarũ. porque se esta mão divina não fora qual coração umãno overa que podera perder tal pai cõmo eu destero tãtas niçiçidades para as quais nẽi por esmola real tẽnho nẽi me dão de sua majjestade doẽças prizão me não deixarẽi ver nẽi falar a pesoa ninhũa antre jjẽte estrãnha apartada ate desa irmã que comigo veio sẽi me fiar nẽi dar ũ ai õnde me oução que ate dos sãtos de ca ei medo e por mais usar comigo furtuna de crueldade ausẽte de vos sẽto e vinti seis legoas que sobre tudo sinto. minha senhora saberes que des a primeira outava tẽnho começada esta e des antão ate este dia do bautismo ẽn que me esforsei mais para que não fose coreio sẽi ela estou de novo nesta cãma sãgrada muitas vezes d ũ corimẽto que me deu nos dẽte e gargãta e dizẽi que o muito chorar mo fes e serto que eu não cudo que cousa que tãto me descãsa me posa fazer tãto mal estou tão fraca que sera por agora inposivel escrever a outrẽi mas fazeime vos minha senhora merse de me disculparde prinçipalmẽte a senhora prioresa. a minha mãi maria da costa escreverei por o primeiro coreio e suas quartaãs me tẽi custado muitas muitas lagrimas e provera a deus que podera ser ẽn minha mão tomalas eu ẽn mĩn que o fizera sẽi falta e serto que a brãdura da sua carta me tẽi tão abrigada quãto ate pẽdida se algũa ora por ela não ẽntẽder minha tẽção lhe queimei o sãge e se deus me descãsa ela ẽntẽdera de mĩn ẽn sirviços esta võtade. minha alma e meu amor tẽi me posta ẽn cõfuzão mãdardesme as cartas que vos iscrivi asĩn a vosa cõmo a de minha mãi mas porque cudo que foi discudo o levo ẽn paçiẽçia. mãdaime meu ãjjo muitas novas vosas e por amor de deus que vos lẽbre que na vosa saude e vida esta a minha para que trabalhes por não ãdar tão magra cõmo me escrevẽi e mais minha senhora não comais lãpreias lẽbrevos que vos fazião muito mal estou trãno que tudo me lẽbra e estou sẽtindo. mãdaime minha senhora muitas novas da senhora vosa mãi e da senhora vosa irmã por que reçeberei muita cõsolação. aho senhor frãçisco d alpoĩ bejjo mil cẽtos de vezes as mãos fiquei muito descõsolada de não ver letra sua se he posivel não mo nege que não lho mereço. se ãdre vier ai ter dailhe meu amor muitas ẽncomẽdas da minha parte e a arĩmase a seu marido e a todas as cousas que tiverẽi nõme de vosas porque todas tẽnho n alma agora estas oras me derão meu bẽi e minha saudade ũa carta vosa sẽi outra de cõpanhia que riçibi cõmo quẽi sẽpre esta suspirãdo por elas. nela me dais minha senhora a disculpa das cartas que por discudo vierão mas cõmo eu estou nesta estreiteza que nẽi chave d ũ iscritorio me deixão ter as queimei logo não me escrever minha maria da costa sĩnti muito porque tãbẽi eu tẽnho quartã dobre e isquinẽçia sãgrada muitas vezes e mais muitos desgostos e trabalhos que he espãto poder corpo umãno tãto e querolhe tãto que não poderei acabar comigo deixar de lhe escrever. o que na vosa me agardeçes minha senhora de vos ẽncõmẽdar a esas minhas senhoras não tẽdes ubrigação para iso porque para mĩn he ho proveito porque não ha outro de mais meu gosto que saber eu que vos tratão elas cõmo vos minha senhora mereses. tratarvos minha mãi mal de nomes sinto eu minha deusa n alma porque não he rezão senão que reprẽdẽdo e de toda a maneira vos respeitẽi e do tẽpo que eu minha senhora ajjudava vos peço perdão. A minha senhora dona marta que tẽpos e que tẽpo ha quẽi acabara no d ãtão a vida para se não ver neste que farei senhora que paçiẽnçia bastara que tẽnho o coração jja tão aquebrantado do pasado que não ãxo ẽn mĩn sofrimẽto para o que recreçe cada dia de novo e vejjo cada ora tãtos males sẽi curso ninhũ e tão fracos remedios d esperãça ninhũa sẽi ter novas de ninhũa maneira deste mofino omẽi se he morto se vivo nẽi önde esta nẽi que he feito dele vede que jja não fora mil vezes morta quãto mais ũa senão por padeçer mais vivo asĩn padeçẽdo não vos quero mais afrigir pois não presto para vos sirvir. pola lẽbrãça que tivestes de me fazerdes merse ẽn quererdes cõvosco tão ma jjẽte cõmo as duas cadelas do paço vos bejjo minha senhora as mãos mas cõmo elas o não miriçião não me espãto mẽdõça me da cudado deus ho tẽnha dela he de mĩn. de frãçisco gõçalves arãnha folgaria reposta e tãbẽi desa que mãdo para jjeronimo botelho. ora minha senhora estares jja ẽnfadada deus vos de minha saudade e minha forsa da minha alma o que eu desejjo amẽ a todas esas senhoras me disculpai

vosa desterada mãi cativa

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