Resumo | O autor descreve o seu último ano de prisão e as pobres condições em que aí tem vivido injustamente, pois diz ser inocente dos crimes de que é acusado. Diz que se não obtiver ajuda, não se importará de tirar a vida pelas próprias mãos. |
Autor(es) |
Tomé da Mota Barreto
|
Destinatário(s) |
Inquisição de Coimbra
|
De |
Portugal, Braga |
Para |
S.l. |
Contexto | Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros. |
Suporte
| meia folha de papel não dobrada, escrita em ambas as faces. |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor |
Cota arquivística
| Livro 352 |
Fólios
| 111r-v |
Transcrição
| Mariana Gomes |
Revisão principal
| Fernanda Pratas |
Modernização
| Catarina Carvalheiro |
Anotação POS
| Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Data da transcrição | 2007 |
Illustrissimos, e
Reverendissimos Senhores
As mas Lagrimas, q de Sangue Choro, são a Cauza de segunda
vêz por aos pês de
Vs Ilmas â mimha queixa, e aflicão, q me assiste; não
por me Considerar
ha témpo de hum anno prezo sem culpa (q esta
serve de alivio â pena) mas sô de me ver desfavorecido,
e desemparado
e não ter, q gastar, em hũa prizão tão dilatada; onde estou morrendo de
fome e
padeçendo infinitas miserias, e necessides sem hum Princepe e Pastor
da Sta Madre
Igra; se doér da sua Consçiençia, nem haver Charide e Com
miseração de hũa sua
pobre ovelha de seu Rebanho, q tanto Cústô a JE
SUS' christo: antes do grande odio, q
metem, em me Reter em hũa pri-
zão, pareçe dezejar tragarme, sem haver outro motivo, mais q o
q ja
a Vs Ilmas Com as mesmas Lagrimas, Representey;
expondome este Prin
cepe â Cénsura de delinquente com notaveis dimminuicôes no meu cre
dito, fama,
e honra; sendo tudo gravissimos Cazos de Restituição, de q es-
te Princepe, fâz pouca Conta,
dandome occasião â perderme, e desesperar
em ver me não defere, e em ver me não quer dar audiençia â
minha
justica, e quererme imputar hum caso, q sabe mto bem, estou nelle
in-
nocente, Como tambem testemunha toda esta terra; e he querer inco
brir Com a minha pobre capa
os delitos de hum frade filho de hum
seu criado, q andava amancebado Com duas
Irmâns suas: e por saber
q eu tenho em meu poder desta verde; a clareza,
me não quiz nunca
admmittir a Livramto: Razão por q aggravey
pa a Coroa de S Magde
do Acordâo incluso, virão
Vs Ilmas no Conhecimto da sem Razão
Com
q padeço innoçente: não obstante, para fazer o cazó feo, dizer o
vigro
geral, q eu tinha Cúlpas de Rapto
stupro, e incesto; o q tudo he falço e sup
posto: Como hey de mostrar mais claro q a
lux do mesmo sol: pois o mes
mo Prelado lhe deu Licença, e as mandou por hum Primo pa Lisboa, e
lhe
deo todo o dro pa os gastos, e o mais necessario, sendo tudo nomes de
fevro
do anno passado: E eu estava nesta terra e sô no mes de Mayo, q
fui
pa essa Unde; e me despedi do seu
servico, por me não deixar ir formar,
Logo me teve odio, e Raiva, q em hum Princepe
Catholico se tem mto estra
nhado nesta
terra: Como tambem injustamente de me privar do exerçi
çio e esmola da minha missa por eu seguir este caminho do
aggro pa
conseguir a minha Liberde:
q tenho Captiva; dipois de ter feito eCom
a paçiençia actos
meritorios no dicurso de hum anno de prizâo: q he bas-
tante teyma ou Omnipotençia
de hum Princepe da Igra nossa may, q
he pia: inda no caso,
q Como grande e mizeravel pecador, q sou; Commet
tesse, não sô
esses crimes affectados, e suppostos: mas ainda outros mayores!