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Maarten Janssen, 2014-

Representação em facsímile

1696. Carta de Matias Rodrigues Simões para o seu primo, Manuel Vieira, familiar do Santo Ofício.

ResumoO autor conta ao primo a história de um familiar bígamo e pede ajuda para o apanhar e denunciar para que seja preso.
Autor(es) Matias Rodrigues Simões
Destinatário(s) Manuel Vieira            
De Portugal, Tavira
Para Portugal, Santarém
Contexto

O réu deste processo é Manuel Dias, "O Gatinha", arrais de um barco de Santarém, cidade de onde era natural. Foi acusado de bigamia, uma vez que voltou a casar quando foi viver para Ceuta, estando a sua primeira mulher viva.

Maria da Cunha e Manuel Dias conheceram-se em Ceuta e aí se casaram, tendo depois ido viver juntos para Cádis, pois a vida em Ceuta era perigosa, devido ao cerco feito à cidade pelo sultão alauita Moulay Ismail. Estando Manuel Dias ausente de Cádis havia dois anos e sem dar sinal de vivo, a família da sua segunda mulher resolveu tentar saber notícias dele, contactando a família da sua terra natal. Para isso, escreveu Violante Fernandes, mãe de Maria da Cunha, ao sobrinho, António Gomes (PSCR0387), para que numa viagem a Lisboa averiguasse o que se sabia de Manuel Dias. António Gomes, recebendo esta carta em Tavira, e sabendo que estava lá um familiar do Santo Ofício, logo lha entregou. Um dia, na feira de Virtudes, uma aldeia perto de Azambuja, António Gomes encontrou Manuel Dias e perguntou-lhe se conhecia Maria da Cunha. Ele não conseguiu negar, afirmando que ela era sua mulher, momento em que se confirmou ser bígamo.

Duas cartas foram entregues pelo familiar do Santo Ofício Manuel Vieira, vindo depois a constar do processo. Quanto à carta PSCR0388, a identificação dos participantes não é feita com total certeza, embora o autor escrevesse para um seu primo, familiar do Santo Ofício, para que procedesse à diligência de investigar o que se dizia sobre o réu. Poderá ser coincidência, mas a primeira mulher de Manuel Dias e o destinatário da segunda carta tinham o mesmo apelido: Simões.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita na primeira e na última faces e com sobrescrito na segunda.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 10014
Fólios 11r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2310172
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Mariana Gomes
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2015

Page 11r

Primo e sor Mel Vieira

Em primeiro lugar estimarei estimarei A sua Boa saude e de toda a familia de Caza e da sra Minha madrinha a quem me dara Mtas lembransas sendo viva e ao pe Jozeph eu nestas partes fico de saude pa tudo ho q lhe ordenar de seu mandado q não faltarei

Sor peres portador q se ofereseo fazer jornada a lxa e me dise havia emviar esta a Vm não quis deixar de saber de sua saude e de todos eses senhores e queira ds os tenha em sempre boas e juntamte me pedio este amigo se tinha eu pesoa en santarem e Como eu tenho A Vm me oferesi pa este negosio q espero Vm o fara como espero he o cazo q desa Villa de santarem se auzentou Mel dias Mariante Cazado nesa Villa na rebeira dizia hele e he home pequeno e groso do Corpo bigode pequeno e faltalhe dente da borda de sima em frente e este tal sendo Cazado se auzentou pa seuta - avera Couza de des pa onze annos e se Cazou em seuta dizendo q hera solteiro e agora de prezente se auzentou pa hesa Villa sem se saber delle e se acha ter nesa vila de santarem duas filhas Cazadas e o seu trato dele he navegar de santarem pa Lxa Com os genros porq home destas partes esteve Com helle em Lxa no Cais de santarem e estando falando Com este home Chegarão os genros e o dito Mel dias pos ho dedo na boca pa q ho home se calase e heste dito home veio a Cadis aonde ho dito Mel dias deixou a molher e sogra e filho por nome Bertlholomeu e a molher se Chama Ma da Cunha filha de anto da Cunha e de violante frez q todos estão em caca de Cunhado do dito Mel dias por nome Migel da Cunha defronte dos agostinhos desCalsos e da Crus verde na sidade de Cadis ho q se pede nisto he q se Vm puder e tiver nutisia deste VelhaCo se prenda q he mto bom q se Castigue e se pa isto forem nesesarios alguns papeis Com avizo de Vm se remeterão e este dito Mel dias dizia em seuta q hera Compe de Benefisiado fulano irmão q por este Benefisiado podera tomar Vm alguma emformasão e fico de Vm me fara esta deligensia Como de Vm se espera he se o portador desta q he o sor Anto gomes pasar a hesas partes tudo ho q helle pedir a Vm ho abone e juntamente me mandara dizer se tem Cobrado de joão vieira forão ho dinheiro do arendamento q eu lhe fis sobre q eu Mandei a proCurasão a Vm e estando Obrado e este dito Anto gomes for lho podera emtregar e não quero mais emfadar de Vm fiCando senpre esperando por suas boas novas a q ver ds E de tavira oje 26 de 9bro, d 696 @ deste seu primo e amigo q Mto o ama

Mattias Roiz simois


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