Representação em facsímile
1737. Carta de Domingas Rodrigues para o seu marido, Luís dos Santos, carpinteiro.
Autor(es)
Domingas Rodrigues
Destinatário(s)
Luís dos Santos
Resumo
A autora critica o marido por não voltar para casa, afirmando que ele terá pouca desculpa. Por isso mesmo, recusa enviar-lhe o linho que ele lhe havia pedido, até porque, segundo sabe, ele tem vivido "limpo e abastado".
J M J
Cercoza 18 de m de 1737
Meu Rico Primo Resebi a Vossa Carta q estimei mto
por nella Ver tendes saude Ds Vola aumte pa lhe fazer
es mtos servisos e a min mos.
A minha gracas a Ds he boa hesta se aumenta
com a esperança de vos ver e o mesmo sor me dilata a
Vida e desvia da morte q não chegue pla sua devina
mizericordia por talves me querer salvar dandome
nesta Vida o meu porgatorio nas penas q padeso por
voso Respeito: porq quem tem amor não o perde. e se
o perde nunca o teve. fallo pois o meu amor
esta sempre numa prepetua sentinella Vendo co
ando chegais a renderme desta cançada aflicão
trabalhos baldados e penas cada ves mais: pois ve-
jo os annos se pasão as frotas comtenuão em vir e
vos tãobem continuais em me matar: pois nunca
chegais: dandome a emtender q tendes perdido
o amor a Vossa Patria e parentes tão bos e honrados
como tendes pois Vos e nos samos os milhores deste-
povo e não temos q resiar de q outrem nos fassa som
bra sem embo de saberes tudo isto Vos deixais estar=
no descanço dessa negra terra pa min pois tenho repa
rado q nella nunca tivestes maes q fosse hum assobio q
mandares a hũa parenta q cá tendes de pouca idade
pa mim mta pois tinha nasido pouco tempo antes q vos
fostes e he a cauza porq de lhe chamar negra terra
pa min: se he assim pa vos tirarvos della pois não ten
des hum sinal de amor pa os vossos parentes: tiraivos
ja della e vinde pa onde nasestes que donde vos co
nhesem honra vos fazem: e inda me pedis pano de
linho não comvem mandallo cá o achareis qdo Vieres
e a rezam de volo não mandar he q como he fiado
a saliva da boca não quero se me fasão algũs feitisos
pa me matarem: a justificacão q me pedes não vay-
porq eu sou molher e não a ei de hir tirar nem tenho
qm o fassa lá podeis tiralla q me dizem ha lá mtas peso