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Maarten Janssen, 2014-

Representação em facsímile

1541. Carta escrita por Jorge Velho em nome de Dom Henrique, Cardeal-Infante, para Damião de Góis, fidalgo da Casa Real.

ResumoO autor explica por que mandou suspender a venda do livro do destinatário, reitera algumas críticas, mas demonstra profunda confiança nele.
Autor(es) Dom Henrique
Destinatário(s) Damião de Góis            
De Portugal, Lisboa
Para Alemanha
Contexto

Damião de Góis, importante humanista do Renascimento português, não escapou à justiça e censura inquisitorial, chegando a ser-lhe movido um processo na Inquisição de Lisboa na década de 1570 por culpas de luteranismo. Sobre ele caíram diversas suspeitas que, em termos genéricos, diziam respeito à sua oposição a certos dogmas e preceitos impostos pela Igreja católica. Somavam-se ainda outras evidências observadas, como as interações mantidas com Lutero e Erasmo de Roterdão, além do posicionamento crítico patente na sua produção literária.

Com efeito, as presentes cartas, apensas ao seu processo, têm por foco o teor de uma obra que Damião de Góis se preparava para levar à impressão e cuja circulação viria a ser proibida: “Fides, Religio Moresque Æthiopum”. De salientar o modo como o inquisidor-geral justificou a sua apreensão, e, simultaneamente, procurou demover Damião de Góis dos seus intentos, muito embora tenha revelado apreço pela qualidade da sua obra e demonstrasse reconhecimento pelos serviços prestados à Coroa.

Bibliografia:

Rego, Raul. (2007). O Processo de Damião de Goes na Inquisição. Lisboa: Assírio e Alvim.

Marcocci, Giuseppe. (2011). A fundação da Inquisição em Portugal: um novo olhar. in Lusitania Sacra. 23 (Janeiro-Junho 2011), pp.17-40.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita nas duas primeiras faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 17170
Fólios 68r e v, 69v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2317173
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Clara Pinto
Data da transcrição2016

Page 68r > 68v

damião de goẽs. os dias passados Recebi duas cartas Vossas huã em Reposta do q vos escrevi e a outra mais comprida em que vos agravaẽs de mim por ter mandado q a vossa obra se não venda e alegaẽs muitas Razoẽs pa se nam dever tal cousa mandar do q eu Recibi muitos desgosto por ver quão mal enformado estaveis da verdade e quanta culpa e Reprensão mereçe o q Vos fẽz tomar esa paixam e dese entendimento tão desviado do q outrora de dar ao que eu mandei. Eu como na outra ves escrevi vos tive sempre e tenho naquella boã conta que he Razam e fui e so mui satisfeito de vos e vos mostrei muito amor o q eu creo que vos deveis saber e ter conhecido de mim. Pollo que m espanto crerdes que vos tenha em outra conta, e que por ter alguã maa sospeita de vossa conçiençia dei que os livreiros sobrestevessem na venda da vossa obra. E porque eu vos tenho agora na mesma conta de tão bõo homem e tam bõo cristão como sempre vos tive hei p escusado Responder aas Razões que me dães porque eu o creo asi como dizeis. E quanto aa obra vejo bem que a primeira parte della he mui boã. e esta nam mandei eu que se nam vendesse nem leixasse de ler. somente na segunda em que se trata das cousas da fee e superstições que tem os etiopios por serem no vosso livro aprovadas polo embaixador do preste com Razões torçidas por elle e autoridades da sagrada escritura mal entendidas, e aver neste Reino tantos cristãos novos e muitos delles culpados de heresia pareçeo a mim e aos inquisidores que em tempo que nestes Reinos se começa de usar a santa inquiseçam se nam devia ler tal obra porque aquelles que mal sentissem da fee nam favoreçessem seu eRo com a maa opiniam dos etiopos. maiormente que segundo sam enformado o embaixador do preste que fez isto acreçenta muitas cousas de sua cabeça que não haa em etiopia. E huã cousa he Relatar simprezmente os Ritos de huã naçam e outra querellas coRoborar com Razões falsas como fãz este embaixador sem aver logo confutaçam dellas porq este he o costume dos ereges e se segue disso muitas vezes mto escandalo e dano. E asi como eu sei çerto que nam tendes nenhuã culpa nem mereçeis Reprensam o que sabem todos, e somente nesta parte fostes fiel interprete asi confio se estevereis qua e vireis a cousa como anda que vos mesmo ouvereis p bem e me acõselhareis q se nam lera esta parte do vosso livro ao menos em portugal, e alem disto offendeo qua gabardes e dardes tanta autoridade a este embaixador por onde o que diz parese q he mais firme e autorizado mas bem vejo que escrevestes isto p serdes bem enformado de quã mão homem elle era e quão desonestamte vivia



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