PSCR0662
[1754]. Carta de Francisco de São Joaquim, frade, para Maria do Espírito Santo.
Autor(es)
Francisco de São Joaquim
Destinatario(s)
Maria do Espírito Santo
Resumen
O autor pede à sua amada para não dar confiança a uma vizinha, dando-lhe instruções de como deve agir para evitar o contacto estreito.
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Senhora
E minha querida May da minha alma e vida do meu coração e
sustento da mesma vida se vmce pello que divizey se apartou da Igreja
saudoza tãobem eu fiquey sentindo hua penna sem igual que se Deos me
não ajudava não sey o que havia de ser de mim e asim pessolhe que
se não esqueça de me ajudar em pedir a Deos me despaxe a
petição que lhe tenho feito que so asim poderão os nossos coraçoens ter
algum refrigerio senão viviremos em hum terrivel purgatorio
mas se for vontade de Deos facasse que eu o que sinto he vella padeçer
e não a poder comsolar vella cheia e cercada de inimigos e não
a poder livrar vella metida emtre gente falssa e imgrata
e não a poder retirar de semilhantes companhias porque asim
como eu vivo estou muito prezo e não posso fazer o que devo e dezejo
Ora senhora como vmce me contou que a sua vezinha vay comversar
com a sua madrinha ha de me dar licença para lhe dizer o que emtendo
he comveniente a sua pessoa e a minha tãobem e não se ha de aflijir
porque se o quizer fazer fas o que nos comvem e se não quizer não
importa terey paciençia ainda que eu padeça algua cousa Deos
me ajudara e o que eu padeçer sera para pagar as ofenssas que a Deos
tenho cometido e asim digo a vmce que ja Deos esta declarado em que lhe
não comvem a amizade da sua vezinha nem lhe está bem fazerlhe
os favores que lhe tem feito e a rezão he porque ella se esquesse logo
do bem que lhe fas e não se aproveita dos auxillios que Deos lhe tem
dado agora ja não tem desculpa porque ja a avizarão e lhe diçerão
quem vmce hera e quando la dormio vio que vmce fes de noute que
se lhe permitio isso para seu dezemgano e ella o que fas vemos nos
vay para caza da outra e ella la ha de lhe tirar tudo da lingua porque
a outra he mui sabida e ella he tolla e ha de fazella hir outra
ves a emquizição e ha de atrapalhala e ha de então perniar
e vir ter com noses e eu não lhe hei de valer porque não lhe hei de
dizer nada porque como he tolla não quero que me va emcravar
ella vay la contar o que nos fallamos e o que fazemos e asim
ha de a madrinha levantarme outro emredo e com a vezinhança
veja vmce então se lhe pareçe bem fallar com ella ou
servilla e dar lhe hua cousa e outra e ella então hir murmurar
de nos vmce se a consentir em sua caza deitame a perder
ou poemse no perigo de ella armar algua com que eu la não
possa hir veja vmce o que quer se quer comservalla a ella
ou a mim vmce o que ha de fazer de hoje em diante he não
hir com ella a parte algua ainda que ella queira diga que eu
que não quero porque asim não fas mal a nimguem nem a mim
mo farão e que se for ma que o quer ser so e que não quer quem
lhe vejie a sua vida e quando eu la for ha de me dar
licença para lhe dizer diante da senhora sua May que se ella for a caza
de sua madrinha não ha de vir a sua eu estimo que vmce lhe
desse o Rozario para ella lho ver e saber que o não tenho
Não lhe ha de aceitar nada e se ella se queixar muito embora he milhor
tella por inimiga do que por amiga e se vmce quando ella levou as meias
e os sapatos me deixara darlhe o recado ella andara mais direita
mas vmce quer servir a todos e ao depois em paga que fação escarne
de nos isso não me esta bem andar em boucas do mundo sem
naçeçidade isso não pode ser nem a palmilhadeira não va la
muitas vezes que o que me pareçe que ella mais quer comversar do que
emendarse olhe emquanto vmce se não acustumar a estar
em sua caza não fas nada milhor he padeçer na sua caza
que servir as alheias e ter por paga emgratidoens va a sua
Missa a comfição a algua Igreja adonde haja festa venha
ate ca e eu vou la estamos sos escuzão os vezinhos saber
o que lhe digo nem o que lhe dou falem de fora quanto quizerem
mas não vejão nem oução va ver as suas vezinhas quando
estiverem doentes sirvas se lhe poder fazer algua cousa
e logo para caza comversas nada porque mais valle ser
dezejada que aborrecida e fazendo vmce isto deixe o mais por minha conta
e se for fora ha de ser com Joze ou com sua May e se vmce não poder
fazer isto nem for do agrado de Deos então não quero que o fassa
e pode dizer a sua vezinha que digo eu que se for a caza de sua
madrinha e lhe assuceder algum trabalho que ha de ter
paçiençia que eu não lhe hei de valer e para isso ja a avizo para que não
diga que não sabia que veja la o que fas digalho asim emquanto
eu la não vou e tenha vmce a certeza que eu não hei de perdoar
a nimguem em materia de credito não posso de Deos lhe venha
remedio para isso avizea da minha parte o negoçio esta na nossa
mão pello favor de Deos quem quizer ser vilhaco ha de pagalo
eu não fasso mal a nimguem se mo quizerem fazer hei de me
livrar que asim o manda Deos e muito mais que Deos temme aqui para
defender a sua pessoa ate donde poder e o senhor mo permitir
senhora agora depois que disse Missa e vmce me vio no coro me chamou o meu
guardião todo asustado e me disse que hua mulher parda que os comfessores a não
querião absolver por me não ter hido denunçiar por eu dizerlhe que vmce
hera hua santa e que falava com o Menino Jezus que lhe punha e tirava
o anel no dedo eu conteilhe a historia toda ficou mais socegado e ainda
tenho mais que lhe contar para elle não ter susto porque ella o que quer
he que elle me não de licença para não hir falar com vmce como se emgana
Disgraçada como que ella pode mais do que Deos quando o Guardião soube
que eu ja tinha hido a emquezição e lhe mostrey o papel mas não o leo
ficou mais socegado vmce pessa a Deos que elle me de licença que eu por isso mesmo
quero la hir veja vmce como sabe dis que ainda não fora a emquizição e que
os comfessores he que a obrigão diga a Thareza que se meta com ella e vmce
comversse com a Thareza não lhe fale mais nem se me falou nem
adonde vay nem nada senão bons dias como esta e mais nada
não tenha susto que nos ha de
asuceder mal nenhum senão cada ves milhor
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