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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0047

1576. Carta de Julião da Costa, oficial da Coroa, para Maria de Almada, sua mulher.

Autor(es)

Julião da Costa      

Destinatario(s)

Maria de Almada                        

Resumen

O autor mostra-se confiante quanto à entrada da filha no mosteiro de Chelas. Além disso, dá notícias da sua estada na Índia e faz recomendações à destinatária, sua mulher.

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Aa Snrã ma d allmada en lixa mi nha senho – d arsea en casa do sõr bispo don mell d allma da ou ao sõr ãto soares escri vão da caza da India a porta crus 1a va de Jullião da costa Senhora

por via da Ilha da madeira e do brazill lhe escrevi o que fizera por mill viaz se por tãotas me fora posivell e o que agora mais sinto e não no poder fazer senão de ano en anno Ate que noso senhor me tire deste cativeiro ben creio senhora que estareis esperãodo novas de minha viajen e saude as quais são fazerme noso senhor nella muitas merses e darnos muito viajen e con saude de todos sen nos morer pesoa nenhũa e viemos A goa en sinquo mezes e meio primeiro que todas as naos/ ainda que não tomamos mosaĩbique mas não nos foi nesesario porque nos não falltou nada por aver senpre muita agoa pera os pobres e a sobejou muita e galinhas e muitas cousas mais e conpartir con muitos que tinhão nesesidade ho que foi cauza de noso senhor mo acresintar e serto asin paresia- fallar en minhas saudades quero escuzar pois e serto que cada de nos por sy pode jullgar ho que o outro podia sentir e se tãoto A de custar apartarse A allma da carne como a custou ese apartamento dês aqui e con muita rezão comesso a sẽtir e chorar esa teribill ora que lhe pormeto que en tall estremo me pos minha vinda que de todo estive detriminado A não vir a esta terra e deixar fazenda e tudo o mais que della pertendia por senhora não deixar a vos mas teve tãota forssa a nesesidade pera comigo que me fez negar amor e vontade não que en se perdese nenhũa destas cousas que digo mas porque vivemos de maneira neste mũdo que pera nelle viver e nesesario deixar ho omẽ liberdade e võtade propia e entregarse no que elle pede e Requere e porque isto não va mais por diãte e não mate a anbos escuzo de dizer cousas en que me deleitava porque ho tenho por milhor remedio que dizello pois por ora se não escuza viver apartado de vossa conpanhia de tão dezejada de muito pouqua idade A que furtuna me foi me foi senpre tão contraira que me não nada do que tãoto dezeJava que ben lhe poso chamar nada pois que eses pouquos diaz que tive convosquo forão senpre tão inquietos e sen repouzo

lenbrame que deixei A meus filhos A quen muito queria cujas lenbransas me dão tãoto sentimento que ho não posso dizer mas coando chego senhora as vossas acabo e não vivo mais porque estas são as que de tudo me tirão os sentidos ho ser e a vida e nesta pena viverei encoãoto vos não vir mãodayme senhora muitas novas de vosa saude e pesoa pois dellas vivo e de meu filho luis d allmada e se vay Ja ao estudo que na escolla ja não fallo e asin as peso particullarmente de minha filha quen mais trago no sentido e mais trabalho me da porque he molher e algũ tãoto de sua condisão della quero as novas muito meudamente que depois das vosas so nellas espero descansar se de meu gosto forẽ coãoto A maria preta ellas mas mãodara de sy que idade ten pera isso mas todavia as quero e dezejo posto que nos não conhessamos ella e eu quero deixar lenbransas que matão e não serven por ora de mais e vir a outras en quen espero restaurar parte de meus desgostos e saudades A qual he pidirvos senhora que conformemos a ãbos nesta minha võtade pois o fezistes senpre no mais o que vos senhora pesso por saber que tivestes senpre A mesma võtade que e daremos A nossa filha A parte de maria manella a quẽ xpo dise que escolhera A milhor parte en deixar tudo por tornar a elle e que se deos foi servido de trazer ese dinheiro da mina que a metaĩs freira pois isto e o santo e bon e ahi pode ganhar o paraizo que se ben lhe queremos isto e o que lhe devemos de dezejar pois e isto e o que agora mais dezejo pera refugio de meus desgostos ho que con ella gastardes quero que va A minha cõta e escrevemo senhora porque logo vos mãodarei outro tãoto pera cõprardes en fazenda e pera iso o buscarei e me enpenharei e levarei muito gosto en o fazer porque sendo isto como digo poderme ey ir pera ese reino como acabar o meu cargo de ormũz e d outra maneira sera nesesario andar qua muitos anos pera poder partir con minha filha como e rezão ho que não podera ser senão A custa do que digo e con a vida senpre mui arisquada pesovos senhora que ponhais diante A vos e a vosa filha os trabalhos que tendes e os que pasastes depois depois que convosquo cazey e que iso e o mais baste pera vos mover ao que digo põde de tras saudades e auzensia de vosa filha que não saira da terra nen Ira sobre o mar/ e a sera iso parte de de me levar deos muito sedo a ese reino que pois senhora sofreis a minha auzensia e por tãotos anos con a vida tão arisquada por amor de vos justo he que sofraes A de vosa filha tendo A tão perto e con a vida tão segura fiquo mui confiado que na reposta destas me escrevera que são ja meus dezejos conpridos e fiqua minha filha no mosteiro que sobre estas esperãsas vou ja vivendo e descansando e o digo a meus amigos todos que tenho hũa filha freira/ ao senhor bispo pode pidir de minha parte toda A ajuda e favor pera isto e pera o mais que tall amor e võtade me mostrou senpre que creio delle q que en tudo o que se oferesser me fara muitas merses coanto mais en cousa tão justa e de serviso de deos e o mesmo fara don Joao A quen pode acupar en tudo Eu senhora conprey qua hũs moinhos por sinquoenta mill reais que rẽden sesenta alqueires de trigo e não sei coantas galinhas e pagão de foro quinze alqueires como vera pelas escreturas que mãodo por tres vias os quais conprei A paullo cabrall cunhado de pero fernandez tronqueiro do arsebispo pera quẽ vão cartas con estas minhas e nesesario que antes que lhe mãoden as cartas mãodeis chamar manuell fernandez e lhe digaes que Roge A pero fernandez que aja esta venda por boa e lhe dares A cartas que vão pera elle e pera pero fernandez e pidirão A pero fernandez os titulos e escreturas dos moinhos e asĩ e nesesario saber quen he o senhorio dos moinhos pera que lhe rogen pera algũa pesoa que os não queira pelo presso diz este mãosebo que ho moleiro e obrigado A trazer este trigo A lixa e que ao mesmo moleiro arendou os moinhos por este preso por nove anos con hũa tera que ten os moinhos por ẽtão a conprei con tudo o mais que pertencer aos moinhos os quais nove anos diz que se acabão Agora se lhe la pareser ben darlho pelo presso fasao ho que tudo sera per conselho do lesensiado fernão duarte outro irmão deste paulo cabrall e cunhado de pero fernandez anda qua e ten hũas teras de pão en punos as quais me quer vender saibão de pero fernandez o que renden e o que vallen pera lhas conprar pesovos senhora que não aja cousa que filhos fasa ver nen ouvir novas de pesoas aqui con tãota rezão o deveis Asi de fazer e não bastẽ pera iso apostolos nen outras pesoas pera acabarẽ convosquo cousa que en tãoto sentirey valha eu e a rezão nisto con ella mais que todos nen baste poren ha nesesidades pera lhes valer per sỹ nen per outrẽ llenbrelhe que não quis eu nũqua valer ao prezo sendo minha may prezẽte que me a mỹ muito magoava ãtes tinha gosto de lhes ver trabalhos e nessesidades eu dando q iso que iso seria parte se enmendar e chegar pera deos e deixar o diabo Eu senhora não entro no meu cargo de ormũz senão daqui A dous anos porque ho que serve não entrou coando ouvera por enbarasso que teve do que fiquei tall que endey perder o sizo mas espero en deos que ho ey de servir e me A de fazer muitas merses pello que lhe vos senhora mereses e eu vos pormeto que que tãoto que ho acabar me va logo pera vos asin deos me sallve porque este e a minha võtade e dezejo e nisto podeis viver sigura e confiada lenbrarvos senhora que A nĩguen custa mais ho dinheiro que A tenho por escuzado porque o sabeis pello que pasães que ben basta ser elle parte de vos deixar nesa terra soo que me custou como que se me arãocara a allma do corpo e pera tãoto tenpo pera como digo me custar mais mais que A todos ainda que deixen molher e filhos porque pera o sentir tenho eu mais rezões que todos do que vos senhora soẽs boa testemunha isto digo somente pera que se alguen vos pidir o voso lhe ponhaes o que digo diante e a vos pera ho não dardes e coanto ao que for nesesario pera vosa pesoa e caza lhe peso e rogo por vida minha que ho gaste muito largamente que eu pera iso quero o dinheiro e não pera outra cousa e fazendo o asĩ averei que folgaes de fazer senhora o que vos pesso que espero en deos que me A de dar vida e que vos não A de falltar por iso en nenhũa cousa reseberei mor gosto que en saber que levais muito vida e que não tomais nenhũ trabalho nẽ desgosto que ho sentirei muito que paresse rezão que bastẽ os trabalhos passados que ben entendo que so senhora vos podereis con elles e pois isto Asĩ he não fasais ho contrairo do que vos peso se quereis que viva con algũ gosto e seja isto de maneira que me escreva este ano que ven que fiqua muito gorda e ben desposta porque eu o mesmo fiquo deos seja louvado e a senhora dona maria peso que vos queira mexiriqar comigo se fareis o contrairo e mo escreva muito meudamente que espero en deos que vos A de dar senpre o nesesario por isso não deixeis senhora de gastar ho nesesario pera o que se faltar dinheiro venda as pesas que eu levarei outras milhores se vender esas mãode chamar fernão lopez e pergũtelle ho que vall hũa pesa de chamalote con agoas e coanto covados A de ter e o que vall cada covado porque en ormũz A muitas que dizen me que ten valia en lixa folgaria de ho saber pera mãodar algũas e se valerẽ mãodallas ey todos os anos e não se esquesa de me responder A isto Coando me escrever digão os sobreescritos que se darão en goa A diogo carvalho notario do vizorey ou a manuell nunez A sãta luzia ou A diogo froes A nosa senhora da lũz e que se as naos tomarẽ cochin as den A migell de ganboa ou A manuell callasa A senhora catarina carneira minha comadre beijo mil vezes as mãos e que me encomende ao senhor en suas orasões que lhe encomendo seu afilhado no caixão vai hũa pesa de touquinha pera veo vormelha que me encomendou dizeilhe que não ven agora as outras maiores que forão a vir mas que se esa basta pera o veo da freira que he muito fina e boa custou cruzado la vos avinde con ella A maria d allmada que seu marido pero caldeira hia na nao que se perdeu o ano pasado e que levava corẽta mill cruzados isto serto e agora veio da perdisão porque se sallvou toda a Jente e en hũa nao que fizerão pequena na ilha onde se perderão en que se sallvarão e algũa fazenda dizen que con ho que lhe fiquava na India coando se enbarqou e con a pedraria e allmiquer e anbre que sallvou ten ainda perto de vinte mill cruzados e que não sey coando se ira quero hũa carta sua de muitas folhas de papell en que muito largamente me de cõta de si e sua vida e o que A mister e quen na vizita e mãodaime senhora pidir tudo o en que tiverdes gosto porque en vollo mãodar sera ho meu e não ajais senhora medo de pidir A quen tomastes por penhor ho prinsipall que nelle avia lenbrame que hũa vẽz me encomendastes que me goardase das frutas da tera porque erão perjudisiaes e que me goardase de as comer no que serto senhora asertastes que taes são elas que fazen ben de mall A quen as come e mais A que venho custumado as boas desa tera que e o que me faz ter mor avorisimento a estas de qua e por tãoben senhora cunprir o que me mãodaes tenho detriminado e asi A de ser de as não comer e nisto estou mui seguro e o mesmo podeis senhora estar vede senhora muitas vezes As minhas lenbransas e fazei tudo ho que nella pesso e não aserte de fiqar algũa cousa de ver por falta de a ler e asĩ me escreva se arecadou todo ho dinheiro que se me devia e se vendeo a roupa e por coanto coanto A Jorge da Costa mãodolhe que en tudo lhe obedesa e que se venha pera qua asin o aconselhes de coanto estever en lixa pouze con minha tia ou con algũ amigo que não seja de caza do jeronimo pereira ou onde quizer ho mesmo follgaria que fizesen os maĩs ospedes porque são contrairo de gritos e desenquietasões e por asin ser custume a quen não ten seu marido en caza como sabe o mesmo voso irmão ãtonio fragozo e asin o uzão en caza de vasco lourenso e mais porque hos ospedes são de condisões que fallão senpre e fazen cousas que eu não fallo nen fasso ho que e perjudisiall asin pera a vizinhansa como pera quen ten hũa filha molher A qual não e rezão que ousa muitas cousas que se fallão que dizen eles que não e nada e do mais folgaria que ouvese muita conformidade e amizade A senhora vosa tia beijai por muitas vezes as mãos que seu filho luis d allmada anda muito ben desposto mas não ten dinheiro que foi Agora daquy ãtes que eu viese pera malaqua con fazenda de omẽ que he cazado con hũa prima de sua molher A senhora Izabell de teves e sua filha beijay por mỹ as mãos e o mesmo a minha tia e prima e a minha comadre catarina do carvalhall coando me escrever respondame A tudo o que lhe escrevo sen falltar nada e pera iso veja a ese tenpo as cartas Coanto as encomẽdas que mãodo as pesoas do que troux outras vão no caixão que leva Joao gomez na nao Caraoja ho qual e marinheiro della pella minha lenbransa no cabo della vera ho que e pera cada ho que tudo senhora mãodareis asĩ como o mãodo porque me vai niso meu credito e se as porsellanas que mãodo ao bispo e a martỹ afonso quebrarẽ algũas seja A quebra d anbos pera que não fique con tudo e outro nada as encomendas todas vão en quaixão q leva Jo gomez marinheiro na nao Caraoja q e nesesario l mãodar pidir a ãto soares ou A mell pĩto q v mãode recado aos goardas q ho deixen tirar seu ser A caza da india e tanben maodai recado ao bpo q mãodella pidir q não vão as suas encomẽdas A caza da india e se forẽ paguẽ os donos das encomendas os direitos eu mãodo A don Jo vinte e coatro aratẽs de q laqure e buzio lavrado da china q tudo vai dentro no caixão de minha q he fa e ma duzia de canas de bengalla o q tudo lhe mãodareis con A minha carta e hũs carosos e pevides de laraõjas q elle mto A de prazar as qs não sei Ainda en q irão se mãodar algũ dinhro disto tomaio e escreveme o coãto e o q faz e não lhe esquesa de mo escrever pa saber ho q ey de fazer en antes outras encomẽdas suas Areqadareis de don jo martĩ ao cruzado de frete das encomendas e tres joas de po frz e se o bispo mãodar algũa couza tomaio q ja de qa vai pago Jo gomez bertollameu de llemos vai este ano e ãto lopez q cudo q vos irão ver escreveme sra quen vos vizita e ve pa saber A quen devo mãodaime sra mtas novas de vos por me fazerdes m pq de dellas so vivo e nellas tenho minhas esperãosas Ate q noso sor aja por ben de me levar diante dos seus olhos A quen peso se lenbre de vos e de e de nosos fos pa seu sviso A quen cubra de sua grasa e de sua bensão a quen e a minha bensão os cubra e a vos elle de vida por se não acabar a minha beijo vos sra as mãos

de coçhin A 3 de dezro de 1576 de voso marido Jullião da costa

Leyenda:

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