PSCR0382 [1615]. Carta de Bento Barbosa, homem do mar, para a sua mulher, Ana Lopes, lavadeira. Author(s)
Bento Barbosa
Addressee(s)
Ana Lopes
Summary
O autor dá notícias à sua mulher, dizendo que está vivo e contando as aventuras e doença por que passou, justificando com isso o facto de não ter escrito ou aparecido mais cedo.
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mer||mulher ana lophes
Rua da pintora
ou aonde ela
estiver q ds g
bento barboz
[fig1]
permita noso senhor que esta vos tome con perfeita saude que
este voso marido vos dezeja ja estou muito emfadado
de escrever tantas cartas como tenho escrevidas sim
ter reposta de nenhuma e ja me parece que não sou
alembrado por bento barboza mas quando vos
istiveres mais descuidada antão vos ei de emtrar
pela porta se deos quizer por iso estai
avertida do que vos emporta porque não poso mais que nestas
partes quen não tem cabedal para guanhar sua vida
não chegan culpa a não tive noticea estando
na china que vos me escreveras por ho carbalho que fomos
ja embarcados numa armada cervindo el rei que
porouvera deos que não me metera a cervir el rei porque não
pagua jamais que com papeis mas ja estou
desemganado de o servir se não ce for con prata na mão
novas minhas são ficar de caude deos louvado
para tod o sempre mandai boas novas a vosa sogra
de min e mais a minhas tias irmãs de minha mai escrebe a
a minha mai que digua a minha tia dona iabel que coma muito
embora o que me deixou meu pai que deos tenha no seu
reto que sedo me deos trata para recadar o que for meu
e que de a saber ao jois dos orfãos que sou vivo e
mais ao escrivão que core os papeis dos orfaos
e de tudo isto eu tenho a culpa poi não quis
arecadar o meu ja vos sabereis dos riscos que pasamos
quando ce perde a nau na costa de milinde ce
não forão os mouros que estavão fazendo
resgmento naquela costa ja nos querião cortar
a cabeça mas os mouros derão por nos muitos
panos que trazião para venderen a hes propios hũ
ano não tive hũ dia de saude por respeito das
mas augas que ali avia naquela costa o comer
era marisco da proha e tam bondia que o
podiamos achar para comer cru que não lhe damos lugar a mais
mas como fomos a bombuca logo nos derão
[fig1]
duas pataquas para comer e as quais não herão para quinse
dias pasamos muitas nicidades quantas deos sabe
dei a noso señor muitas gracas pelas boas orasois
que por min vos tendes razadas que me faz deos
tantas merces que mais não pode ser o que vos peço que não
vos dexeis esqueser das vosas romarias a
nosa senhora do êmparo que ela me tem feito moitas
merces nas minhas viages ca destas partes do sul
podeis dar estas pouco boas novas antonia
dias que o seu filho he morto que nunqua falou
comiguo a perposto como via que eu
servia ilrei do mais sênper me
perguntava por sua mai eu pouzei na sua
caza muito tẽmpo loguo como soube que sua
irmãn hera cazada não quis mais
cuidando que hera comiguo mas como lhe eu dise
a verdade loguo ficou muito triste e me espidio
que ja estava sãu e me perguntou que detriminava
que não podia ter soldados em sua caza porque
ja o mundo falava perguntavão que homen
hera eu e ja eu me detriminava para
aquela somana de me embarquar não sou
rezão que dei boas novas a quem por mim
perguntar a meu primo e mais a sua molher que
täbem lhe peco que me emcomenden a deos
deste voso marido ate morte
que deos
garde [fig2] [fig3]
bento barboza
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