PT | EN | ES

Menu principal


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1732. Carta de Francisco Monteiro, caiador, para a Mesa da Inquisição de Coimbra.

ResumoO autor, preso no aljube de Braga, escreve aos inquisidores a pedir que o tirem de lá, alegando que tem mais para contar e que se encontra mal do braço direito.
Autor(es) Francisco Monteiro
Destinatário(s) Inquisição de Coimbra            
De Portugal, Braga, cadeia do Aljube
Para S.l.
Contexto

O réu deste processo, Francisco Monteiro, cristão-velho, caiador, natural do lugar de Palhais, da freguesia de Santo Adrião de Vizela, e morador em Vila Real (arcebispado de Braga), era filho de Gabriel Dias, tecelão, e de Páscoa Monteiro. Casado com Rosa Ribeiro, voltou a casar com Maria José da Rocha, estando viva a primeira mulher. A bigamia de Francisco Monteiro foi descoberta quando apareceram em Vila Real uns mercadores da vila de Guimarães que, ao saberem que este estava casado naquela vila com Maria José da Rocha, disseram que não podia ser porque o sabiam casado em Guimarães com Rosa Ribeiro, de alcunha "a Loreira". Deu-se logo parte da notícia ao vigário-geral da vila, que de seguida fez prender Francisco Monteiro e arrolou testemunhas.

Maria José da Rocha, de 25 anos, criada de uma estalagem, era filha de Francisco Mendes e de Isabel Fernandes, natural da vila de Favaios e moradora na rua da cadeia da vila, e com ela o réu só viveu alguns meses antes de ser preso. Para se casar pela segunda vez, Francisco Monteiro usou documentação falsa da vila de Guimarães e suspeitou-se que estava pronto para fugir assim que foi descoberto o seu crime.

Em depoimento, a testemunha António Álvares, do lugar de Fervenças, da freguesia de Santa Eulália de Fermentões (Guimarães), de 24 anos, tratante de chapéus, disse que conhecia bem o réu e que sabia que este tinha sido criado de António da Costa, meirinho da mesma vila, e que depois fora morador no bairro de Nossa Senhora da Conceição, onde o havia conhecido. Disse ainda conhecer muito bem a primeira mulher de Francisco Monteiro, Rosa Ribeiro, filha de Jerónimo da Costa e de Jerónima Ribeiro.

Quando interrogada, Maria José da Rocha contou que tinha ficado a saber da notícia por Manuel Fernandes, um espadeiro da Rua da Praça, e que o tinha sabido também de um chapeleiro. Que depois confrontara o réu e este lhe confessou tudo, dizendo que tinha abandonado a primeira mulher por ter alguns conflitos com o pai da mesma e que estivera quatro anos no Peso da Régua, de onde fora para Vila Real. Maria José da Rocha disse também que Francisco Monteiro, depois de tentar tirar uma certidão do segundo casamento com ela, a tentou convencer a fugir com ele, o que ela recusou, tratando logo de se confessar.

Durante o seu interrogatório, o réu declarou que esteve ao serviço de Maria Álvares, proprietária da estalagem Flanchupana, onde conheceu Maria José da Rocha e se enamorou dela. Segundo ele, já não tinha contacto com a primeira mulher há vários anos. Confessou também que, para conseguir casar, passou com a própria mão uma certidão em nome do padre Serafim Machado de Carvalho (inexistente), fingindo estar o mesmo servindo de padre na freguesia de Santo Adrião de Vizela, e lançou os banhos na cidade da naturalidade de Maria José da Rocha e não na sua, tendo depois fingido os mesmos para conseguir a carta de banhos de Braga. Graças a estes procedimentos, conseguiu mais tarde a "licença de recebimento" para se casar com Maria José da Rocha na igreja de S. Dionísio, numa cerimónia celebrada pelo reverendo padre António Francisco Teixeira, cura da mesma igreja.

Acusado de bigamia e de falsificação de documentos, Francisco Monteiro foi preso a 6 de outubro de 1732, quando Maria José da Rocha já se encontrava grávida de um filho de ambos. A sua sentença consistiu em ir a auto da fé, fazer abjuração de leve suspeito na fé, ser açoitado pelas ruas públicas da cidade, degredo por tempo de cinco anos para as galés de sua Majestade, onde serviria ao remo, com cárcere ao arbítrio dos inquisidores, penitências espirituais e instrução ordinária. Ainda nesse ano, a 11 de novembro, foram-lhe passados termos de soltura e segredo e, a 11 de novembro, de ida e penitências. Foi também condenado a pagar as custas do processo.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 8898
Fólios [12] r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Fernanda Pratas
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

Page [12]r

[1]

Sor Emquezidor ou qm Tiver poder pa

[2]
mandar no sto Tribunal saveram v m
[3]
Vm q esta neste Aljuve da sidade
[4]
de Vraga hum prezo q por sua Mize
[5]
ria e desgrasia e pouqua Ventura
[6]
e por a tentasam do demonio o chega
[7]
ramos cem pequados A cazar segda
[8]
ves e tendo A pra mulher Viva sen
[9]
do huã de guimes e outra d o pe de va
[10]
Rial e foi o supte prezo em Va Rial
[11]
por orde do Vro jeral e dahi veio Rem
[12]
etido pa o aljuve desta sidade donde
[13]
esta agora A tenpo de 9 somanas
[14]
e como o supte he doente de hum Bra
[15]
co direito esta pasando mta nesecida
[16]
de e mizeria na dita prizam e tem
[17]
avizado a 1 Comisario ou dous e hum
[18]
famelial todos do sto ofisio e Como
[19]
as Culpas do supte
[20]
Compete A ese sto tribunal e o supte fora do Cazo por
[21]
donde esta prezo tem mais huãs Couzas q viu As quais
[22]
nam pode descovrir senam nese sto tribunal e asim
[23]
da parte de deos lhe pede a vm A qm esta for emtregue
[24]
e da pte do sto ofisio q logo Vm mande Busquar
[25]
o dito prezo ou orde pa que o la leve de qua e fiqua es
[26]
perando q Vm sejam servidos asim o mandar pelas
[27]
almas santas ou de vm siquer Reposta oje 12 de
[28]
agosto de 1732 Aljuve de Braga ds gde a vm mor
[29]
Deste mal Afertunado e menor Criado de vm Vm me perdoie pelo amor de deos

[30]
Franco Monteiro prezo

Representação em textoWordcloudRepresentação em facsímilePageflow viewVisualização das frases