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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1761. Carta de António José da Silva para Joaquim da Silva Freire, bacharel formado em leis.

ResumoO autor alerta o destinatário para a existência de cartas que ele parece não ter recebido, insistindo em que deve dar atenção ao assunto judicial (uma demanda) de que ele, destinatário, e o irmão estão encarregados.
Autor(es) António José da Silva
Destinatário(s) Joaquim da Silva Freire            
De Portugal, Coimbra
Para S.l.
Contexto

A 20 de janeiro de 1761, denunciava-se perante os inquisidores que certo grupo de homens, dizendo vir da parte do Santo Ofício, andavam inquietando várias pessoas, fazendo buscas em suas casas, inquirições e arresto de bens. O estratagema teria sido imaginado por Joaquim da Silva Freire, que teria falsificado vários documentos, onde figurava como familiar do Santo Ofício, fidalgo da Casa Real e freire conventual na ordem de Cristo. Constam do processo diversos papéis forjados, como uma ordem inquisitorial e cartas de prego – estas últimas entregues, dentro dos respetivos sobrescritos fechados, por um religioso carmelita calçado, a mando do superior do seu convento, em cuja portaria tinham sido achados. A ordem inquisitorial, por seu turno, teria sido encontrada aquando da busca que se fez ao réu quando deu entrada nos cárceres. Quanto à sua falsificação, o réu confessou ter-se valido de um breve ou licença que o seu pai tinha em casa para ler livros proibidos, orientando-se por aí para falsificar as assinaturas dos ministros do Conselho Geral do Santo Ofício. Referiu ainda que entregar cartas de prego e inquirir testemunhas foi o estratagema que encontrou para poder entregar um escrito de amores a uma mulher, por não ser fácil fazê-lo sem levantar suspeitas, inclusive junto dos seus cúmplices, Clemente Lopes e seu filho, Dionísio Paulo Monteiro.

Suporte uma folha de papel dobrada em quarto, escrita nos fólios interiores e com sobrescrito no exterior.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 48
Fólios 5v e 6v
Socio-Historical Keywords Ana Leitão
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Raïssa Gillier
Contextualização Ana Leitão
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2014

Page 5v

[1]
Snr Dor Joaquim da Silva Freire

Recebi este corro huma de vmce e quando eu esperava que

[2]
vmce me desse alguma noticia da minha demanda que tam
[3]
repetidas vezes tenho recomendado a vmce e ao sr Mano, vejo
[4]
que nesta materia me não dis couza alguma; donde venho a
[5]
entender que as minhas lhe nam foram á mão, e sam tres as que
[6]
lhe escrevi todas dentro das do sr Irmão; e em huma dellas lhe
[7]
dei resposta ao que vmce me perguntava sobre a queixa do seo quin
[8]
teiro, nem vmce de mim podia prezumir, que sendo eu tam seo
[9]
amo como sou, e que tanto o venero havia de ser tam ingrato, que
[10]
nam desse logo resposta ao que vmce me mandava. à vista disto
[11]
peço a vmce mande ao corro buscar as cartas que estão, e me
[12]
faça favor de pór todo o seo valimento neste nego e ver a carta
[13]
que eu escrevo ao sr Irmão nesta matra que eu lha não posso re
[14]
petir, pois neste dia dou á terra o corpo de minha mai; e dentro em
[15]
dous mezes fiquei orfão de Pai, mai ( seja Ds Louvado pa sempre) Pe
[16]
ço a vmce todo o cuidado, pois nam tenho outros valedores, e se vmces
[17]
me dezemparão esta dependencia perdida vai de todo; e terei paciencia
[18]
mas confio tudos em vmces Possua vmce saude prospera, e deme ocaziois de
[19]
servir a sua pessoa q Ds gde ms as Coimbra 5 de Janro de 1761

[20]
De vmce
[21]
Amo do C e servo mto obrigado, e vendor
[22]
Antonio Jozé da Silva

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