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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

[1760-1769]. Carta de Manuel Soares de Oliveira, escrevente, para a sua cunhada, Maria Rita da Conceição.

ResumoO autor pede à cunhada que fale com todos os seus irmãos e que, juntos, digam que a sua primeira mulher estava morta, já que teme ser baleado ou esfaqueado na prisão.
Autor(es) Manuel Soares de Oliveira
Destinatário(s) Maria Rita da Conceição            
De América, Brasil, Rio Grande do Norte, Cadeia do Rio Grande
Para América, Brasil, Rua da Sanzala
Contexto

Este processo diz respeito a Manuel Soares de Oliveira, cristão-velho de 42 anos de idade, escrevente, natural e morador em Recife de Pernambuco, no Brasil, acusado de bigamia. Os seus pais são Manuel Soares de Oliveira (curtidor) e de Brízida Ferreira. O réu casou uma primeira vez com Ana Maria Rodrigues, com quem viveu apenas um ano e não teve filhos, e casou uma segunda vez, a 27 de agosto de 1757, com Joana Maria da Conceição, filha do capitão João da Rocha Freire, de quem teve um filho. O réu usou de justificação e licença falsas para se casar a segunda vez, uma vez que a sua primeira mulher era ainda viva. Segundo o que consta no processo, a primeira mulher tinha fugido de casa com um homem que tinha negócio de barcos com a desculpa de que ia buscar uns pertences a casa de familiares por sofrer maus tratos do réu, o qual já a tinha despojado de todo o seu ouro. Por sua vez, o réu no seu depoimento alega ter sido forçado a casar pela segunda vez porque os irmãos da sua segunda mulher o apanharam em flagrante quando estava com ela e o ameaçaram de morte caso ele não casasse com ela. No entanto, os vários documentos apresentados à mesa da Inquisição provam que José Rodrigues Ferreira já tinha avisado o réu de que não se poderia casar e que tinha feito esforços para impedir o dito casamento. O réu foi preso a 20 de maio de 1761 e em auto-da-fé privado de 16 de fevereiro de 1765 foi condenado a abjuração de leve, açoitamento público, degredo por três anos para as galés, penitências espirituais e pagamento de custas.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 7133
Fólios 21r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2307203
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Fernanda Pratas
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Fernanda Pratas
Data da transcrição2016

Page 21r

[1]
Come Irman Sra Maria Rita da Conceição

Das grades de huã cadeia vos faço estas regras

[2]
com mais lagrimas que palavras espero vos sir
[3]
vão estas de sensitivo alem do sange que das veas
[4]
corre a cuza da minha prizão não posso dizer
[5]
por papel como pa la hei de hir então vos direi
[6]
do que so agora tracto he pedirvos que chegando
[7]
a vossa caza o portador desta trateis e estime
[8]
is asim como nos ia mais fazer a todos e vos costu
[9]
mais como qm sois com aquella grandeza que
[10]
custuma Ma Rita

[11]

Querovos noticiar parte da min

[12]
ha prizão com poucas palavras e sucintas porq
[13]
como ja estou morto não façais mais cazo deste
[14]
Irmão q tanto vos ama o Pe João Roiz me fes
[15]
prender com seus requerimtos por huns zellos aqui
[16]
basta; e como elle he da Parahiba sabera o q obrei
[17]
agora amada e querida Irman da minha alma
[18]
pecovos tanto a vos como geralme a todos os mais
[19]
Irmaons a qm fareis presente a minha mizeria que
[20]
pello sange se compadeção de mim dirigindo todos
[21]
huã publica vos e fama que he morta a pra molher
[22]
dos diabos e asim serei solto, e alias me veran todos
[23]
com seus olhos padicer e hir por essa barra fora o q
[24]
não creio farão meus amados Irmaos do coração,
[25]
voces com dizerem isto não ficão dezauthorizados
[26]
e me livrão de morrer, e isto han de de dizer geralmente a todos sem se
[27]
fiarem de pesoa alguã q asim comvem adverti bem no que digo e aDeos
[28]
athe me veres prezo que antes me viras morto passado de ballas ou de fa
[29]
cadas mostrai essa carta com segredo aos mais e rompeia logo que
[30]
asim comvem e vede não digão senão o que digo cadeia do Rio grde

[31]
Vosso Ir e Compe
[32]
Soares

[33]

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