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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1619. Carta de Antónia de Vilhena, abadessa, para destinatário desconhecido.

ResumoA autora expõe diversos factos que teriam movido certos inimigos a denunciarem à Inquisição uma freira do seu convento, e defende-a quanto à identidade do seu progenitor.
Autor(es) Antónia de Vilhena
Destinatário(s) Anónimo284            
De S.l.
Para
Contexto

Rafaela de Santo António foi presa a 7 de julho de 1620, permanecendo no cárcere até 3 de abril do ano seguinte. No Santo Ofício de Coimbra foi constituído um processo contra Rafaela por culpas de judaísmo, baseado em várias denúncias, nomeadamente de Filipa de São Francisco, freira no mesmo convento e entretanto também presa. Com efeito, foi comprovado que algumas freiras praticavam o judaísmo, o que transgredia em absoluto os princípios não só da ordem que professavam, como da própria igreja católica. Rafaela alegou em tribunal não ser filha biológica de um cristão-novo, de quem a mãe enviuvara, mas im de Diogo de Sá de Meneses, "fidalgo conhecido e dos mui nobres." Efetivamente, a mãe teria conseguido esconder a sua gravidez do futuro marido, com quem já vivia. Por isso mesmo, a mãe internou-a aos quatro anos de idade no convento da Madre de Deus de Monchique de Miragaia (Porto), onde as religiosas seguiam a regra de Santa Clara (Ordem dos Frades Menores, Província de Portugal da Observância). No seu processo, encontramos várias cartas abonatórias, colhidas pela abadessa, Clara Antónia de Vilhena, e outras freiras, na tentativa de ilibar a ré das culpas que se formavam contra ela, e de zelar pelo seu bem-estar enquanto permanecesse no cárcere. É de assinalar, em particular, o testemunho redigido pela mãe da ré, em que esclarece a sua filiação. Este foi escrito em risco de morte e encaminhado por intermédio do seu padre confessor, remotando a cerca de 25-26 anos à data dos autos. Trata-se de um caso não livre de contrariedades: a abadessa, muito embora tenha redigido uma carta abonatória e feito várias diligências a favor da ré, ao chegar às contraditas e à defesa testemunhou em contrário. No final, os inquisidores chegariam à conclusão de que as culpas tinham sido originadas pela prestação de falsos testemunhos, nascidas de certas contendas de Rafaela com determinadas companheiras recolhidas na mesma casa e que ela denunciara. Foi por isso prontamente absolvida e liberta, tornando àquela instituição.

Suporte uma folha de papel de carta escrita em todas as faces
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 2388
Fólios 14r-v
Socio-Historical Keywords Ana Leitão
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Fernanda Pratas
Contextualização Pedro Pinto
Modernização Fernanda Pratas
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2014

Page 14r > 14v

[1]

Os dias pasados levarão pa esa sidade por ordem do santo ofso

[2]
a huã freira desta caza por nome ma dos amjos, q de idade
[3]
de quatro annos veio pa ela, pelo cargo q tenho é pelo
[4]
bom soseso q lhe dezejo ē onrra desta Relligião
[5]
inda q não he nesesario fazer semelhantes lem
[6]
bramcas: sofra vm o trabalho q padeser ē ler sta
[7]
por me fazer m, esta freira não se dava
[8]
a gemte de nasão e teve mtas deferemsas
[9]
duas filhas de lopo dias q tãobē forão prezas
[10]
e lhe tinhão odio e o mesmo lopo dias e seus filhos
[11]
luis da cunha e paulo lopes da cunha: por as não
[12]
tratarem: e deles teve mtas ameasas pela sospeita
[13]
q tem de ela avizar do dro e pesas q escõdidas
[14]
tinhão: senpre foi tida por sospeita deles e por
[15]
inimiga desta gemte: e como se conhesia soa mai
[16]
ser cristam velha e seu pai o ser: e por credito
[17]
de sua mai q depois de cazada a ouve de
[18]
fidalgo bem omrrado não descobria quem era
[19]
seu pai; couza de q ha mtas testimunhas nesta sidade
[20]
omde naceo, e nesta casa omde se criou, q sendo
[21]
nesesario darei Rol delas, e de como sua mai
[22]
viveo senpre pouquo gosto pelo agravo q tinha
[23]
feito a seu marido, pelo achar vindo de fora
[24]
da tera onde esteve mto tenpo, a bariga a boca,
[25]
e na ora da morte lhe mandou por seu cõfesor es
[26]
crito ē q declarava quen era seu pai ē
[27]
e q se podia ter, desculpome vm destas ē
[28]
o cudar q não podera aver q dovide de couza
[29]
tam clara e serta como he a nosa santa fee ē
[30]
q inimigos fasem muitos males, noso sor gde a
[31]
pesoa de vm por largos annos como pode
[32]

[33]
do porto e de monchique oie deradeiro d agosto da
[34]
era de mil e seissentos e desanove

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