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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1698. Carta de António Mendes de Barroso para [Manuel Viegas Lobo].

ResumoO autor dirige-se a um amigo que, pelo conteúdo da carta, parece ser Manuel Viegas Lobo. Deseja-lhe que os "negócios" em que se encontra se resolvam rapidamente. O senhor Alexandre Lobo mencionado na carta é irmão de Manuel Viegas Lobo.
Autor(es) António Mendes de Barroso
Destinatário(s) [Manuel Viegas Lobo]            
De Portugal, Guimarães, Gatão, Vale do Marão
Para S.l.
Contexto

Trata-se de um extenso processo de bigamia, movido a Manuel Viegas Lobo, natural de Abiul (concelho de Pombal), filho de Sebastião de Magalhães e de Maria de Almeida de Amaral. Segundo a Inquisição, o réu teria levado, durante anos, uma vida de relações promíscuas, com episódios de sodomia e crime. No decorrer do processo, é utilizada frequentemente a expressão "outros crimes" para referir ilegalidades não explicitadas que o réu teria cometido e que o levaram frequentemente à prisão. Tinha sido da prisão de Montemor-o-Velho, por exemplo, que o réu se casara por procuração com Mariana de Sousa Vasconcelos, forçado por ameaças da parte da família da mulher que teria "desencaminhado". Foi um casamento "sem ânimo", já que quereria ter casado com Maria do Amaral de Melo, mas ela morrera. O casamento com Mariana de Sousa Vasconcelos não chegou a ser consumado: os esposos nunca viveram juntos porque ele estava preso, e da prisão seguiu para degredo perpétuo em São Tomé, como castigo pelos "outros crimes". A sentença de degredo foi dada em 1695 e implicava que nunca mais voltasse ao reino, sob pena de condenação à morte. Mas em São Tomé, sob o nome de Manuel Magalhães Lobo, o réu casou de novo, desta vez com Ana Correia de Carvalho, filha de Jerónimo Correia de Carvalho e de Violante de Alva, viúva de "três ou quatro maridos" e que tinha fama de rica e abastada. Para a realização do matrimónio, Manuel Viegas Lobo teve de fazer uma fiança a banhos. Decidiu então retornar ao reino para obter a anulação do primeiro casamento. Testemunhou que julgava poder fazê-lo, uma vez que o casamento nunca fora consumado e que a procuração que passara na prisão para se casar com Mariana de Sousa Vasconcelos fora feita pela sua própria mão, não sendo válida por estar preso na altura. Justificou tal convicção porque não era a primeira vez que isso acontecia: numa outra ocasião, em que igualmente se encontrava preso, fizera uma procuração por mão própria para se casar com Maria do Amaral de Melo (a mulher com quem realmente queria casar) e a procuração fora considerada inválida por ele estar preso. Chegou a Portugal dois anos depois da sentença de degredo para São Tomé, em 1697, altura em que soube ter mais uma ordem de prisão em seu nome. Alegou tal razão para não se ter dirigido logo ao Tribunal do Santo Ofício. Em vez disso, mandou citar Mariana de Sousa Vasconcelos para anularem o matrimónio, mas foi de novo preso e condenado ao degredo, agora para Angola, por cinco anos.

Do processo consta um elenco de filhos ilegítimos do réu. Tinha, por exemplo, uma filha "de uma moça cujo nome não [sabia]" e que foi criada de sua casa. A filha com esta criada chamava-se Sebastiana e na altura do processo tinha 17 anos, sendo natural de Abiul e aí moradora. Teve outro filho de uma outra mulher, Maria de Amaral. Esse filho chamava-se Francisco de Almeida, de 14 anos, e era também natural de Abiul e aí residente. Com Maria Gomes teve uma filha, Mariana, que já havia morrido, e Joana, que tinha agora 7 ou 8 anos. Com Antónia da Silva, moradora no Vale, termo de Pombal, teve um filho, Nicolau, que também já falecera.

As cartas aqui transcritas são na sua maioria de familiares do réu. O processo contém documentação interessante, como por exemplo uma fatura de despesas com escravos.

Em termos de estatuto social, Manuel Viegas Lobo teve um cargo surpreendente, o de ouvidor-mor em São Tomé. Na Relação do Descobrimento da Ilha de São Tomé, pode ler-se: "[Em 1695] é mandado degredado, para a Ilha de São Tomé, Manuel Viegas Lobo (ou Manuel Lobo de Magalhães), degredado por toda a vida devido a conturbadas aventuras amorosas. No barco em que viera para o exílio, viajava também o novo governador, José Pereira Sodré, que não hesita em nomeá-lo, à chegada, ouvidor-mor (talvez de forma interina, pois o cargo exigia formação universitária)" (p. 134).

Bibliografía:

Pinto, Manuel do Rosário e Arlindo Manuel Caldeira (2006), Relação do descobrimento da Ilha de São Tomé, Lisboa, Centro de História de Além-Mar.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita no rosto e no verso
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 6928
Fólios [17r-v]
Transcrição Ana Guilherme
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

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[1]
Meu amo; Compo; e Sor

[2]
Por se offerecer portador destas
[3]
ptes; com Rezão se queixaria VM
[4]
se em mim ouvesse descudo em
[5]
não solicitar nesta occazião
[6]
suas noticias; e por evitar es-
[7]
sa queixa aLem da minha
[8]
obrigação as procuro por me
[9]
yo destas Regras, de q espero
[10]
Reposta assegurandome nel
[11]
la q passa izento de acha
[12]
ques, e q logra arrezoada sau
[13]
de nem poderei ter melhor
[14]
iguaria nesta festa d' al
[15]
guns tão applaudida e de
[16]
outros menos festejada e
[17]
nunqua de nenhuns abor-
[18]
recida mas tudo lembra
[19]
a seu tempo e Vmce se não
[20]
esqueça de me dar mtas acca
[21]
ziois de seo agrado por não
[22]
dezagradar a minha vonta
[23]
de q sempre se empenhou
[24]
em lhe obedecer toda a promptidão e igual demonstração
[25]
terá experimentado na de sua Thia q nem por se ver de prezte
[26]
opprimida de males e de dissabores de fraquear, porq
[27]
a mto mais a incita o Amor; q lhe tem.
[28]
[29]
Do estado em q estão os seus negos, ja q não temos
[30]
quẽ delle nos faça participantes, esperamos avizo e Rezolução
[31]
do seu bom successo pa o festejarmos; e se tem boas esperanças
[32]
dos de Lxa porq o sor Alex Lobo athe aqui as não deu com
[33]
certezas, e por instantes estamos esperando por elle pa saber-
[34]
mos o que tem obrado, e nos persuadimos q algum avia de
[35]
concluir pa vermos triunfar a Vmce ainda de seus inimigos
[36]
e pa Lograrmos a sua assistencia sem sobresaltos.
[37]
[38]
Saberá Vmce q estou propinquo a me Levarem á
[39]
praça os trapinhos q tenho pello q devo a meu sobro dos An
[40]
nos em q administrei a sua tutoria, porq querendo dar em
[41]
satisfação fazenda equivalente por ser ja avaliada pa esse
[42]
effeito por pessoas dezenteressadas e de comciencia acho
[43]
q não faltão em Abiul algumas, q com mui pouca o que
[44]
rem esturrar a fim de me comprarem o q tenho por
[45]
pouco mais de nada e me deixarem como espargo ao mon-
[46]
te; e se não considerava a Vmce negos q dependem
[47]
de grandes dispendios de dinhro me avia de valer do seu
[48]
patrocinio por conhecer o seu affecto; comtudo me arro-
[49]
jo (não avendo imposibilide) a pedirlhe me queira
[50]
Remediar neste aperto pa metter as figas nos olhos aqui
[51]
não tem vergonha, honra nem primor satisfazendo
[52]
pontualide porq apezar de invejozos não falta fazda; e
[53]
na mão de Vmce ou de couzas da
[54]
sua mayor obri-
[55]
guação a darey por bem empregada e não se
[56]
de arrepender troqua á vista do nosso dezejo
[57]
Sua

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