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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

[1760-1769]. Carta de Joaquim da Silva Freire, bacharel formado em leis, para dona Ana Teresa da Conceição.

ResumoO autor descreve o seu sofrimento, à espera da confirmação de que o seu amor é correspondido. Alude a uma forma astuta que adotou para fazer chegar a carta de amor à destinatária sem que a mãe dela se apercebesse.
Autor(es) Joaquim da Silva Freire
Destinatário(s) D. Ana Teresa da Conceição            
De Portugal, Lisboa
Para S.l.
Contexto

A 20 de janeiro de 1761, denunciava-se perante os inquisidores que certo grupo de homens, dizendo vir da parte do Santo Ofício, andavam inquietando várias pessoas, fazendo buscas em suas casas, inquirições e arresto de bens. O estratagema teria sido imaginado por Joaquim da Silva Freire, que teria falsificado vários documentos, onde figurava como familiar do Santo Ofício, fidalgo da Casa Real e freire conventual na ordem de Cristo. Constam do processo diversos papéis forjados, como uma ordem inquisitorial e cartas de prego – estas últimas entregues, dentro dos respetivos sobrescritos fechados, por um religioso carmelita calçado, a mando do superior do seu convento, em cuja portaria tinham sido achados. A ordem inquisitorial, por seu turno, teria sido encontrada aquando da busca que se fez ao réu quando deu entrada nos cárceres. Quanto à sua falsificação, o réu confessou ter-se valido de um breve ou licença que o seu pai tinha em casa para ler livros proibidos, orientando-se por aí para falsificar as assinaturas dos ministros do Conselho Geral do Santo Ofício. Referiu ainda que entregar cartas de prego e inquirir testemunhas foi o estratagema que encontrou para poder entregar um escrito de amores a uma mulher, por não ser fácil fazê-lo sem levantar suspeitas, inclusive junto dos seus cúmplices, Clemente Lopes e seu filho, Dionísio Paulo Monteiro.

Suporte uma folha de papel dobrada, escritas no rosto do primeiro fólio e com sobrescrito no verso do segundo.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 48
Fólios 7r-v e 8v
Socio-Historical Keywords Ana Leitão
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Raïssa Gillier
Contextualização Ana Leitão
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2014

Page 7r > 7v

[1]
Minha flor

De quem senam da minha pouca fortuna n'esta tam deleitoza,

[2]
como suave empreza, me queixarei eu, dando ocaziam a meus queixumes,
[3]
o nam poder conseguir, o q com tanta ancia esperara, q era penhor da
[4]
sua graça, ou resposta de hum, q a vmce entreguei em o prego, dando para
[5]
isso sinal qual foi apertar o prego com os dedos quando o entreguei a vmce
[6]
depois d'isso esperava eu a cada instante q vmce ao menos ou mostrandome
[7]
da sua janella, ou mandando-me hum recado n'elle me segurasse de q
[8]
vmce ficava entregue da offerta= nam homem mais infelis q eu, porq
[9]
logo a primra vez, q o meu arrojo tomou o atrevimto de offerecer a vmce hum
[10]
escrito, vmce tam sem razão mo rejeitou, nam sei se por nam poder respon-
[11]
der, ou aceitalo = se por desprezo e castigo do meu atrevimto? suponho q
[12]
ama causa seria por considerar vmce q me nam podia corresponder, porq se
[13]
fose por desprezo da ma pessoa, nam me comntribuhiria vmce tam repetidas
[14]
vezes, a sua doce prezença q suposto dezejara eu estar da parte onde
[15]
nam correse perigo o estar sempre com os olhos feitos em esse gesto
[16]
q me captivou e me roubou toda a liberdade: por isso e porq algu-
[17]
mas vezes vmce me tem apparecido, nam digo bem, obrando, sendo
[18]
puro sol exercicios de Aurora, desperdiçando tam preciozo orvalho
[19]
em q eu me dezejo aproveitar, concidero q por algum incidente
[20]
a snra sua Mai daria com a historia, e sendo assim sinto
[21]
em extremo, q por meu respo haja de Vmce de padecer alguns impro-
[22]
perios da snra sua Mai, porem de tudo merece perdam quem
[23]
reverente pede perdam da culpa commettida: estas e as duvido-
[24]
zas razoens q me asistem a respeito do q asima relato he o q me
[25]
move a fazer este procurando por este modo a entrega real e
[26]
pesoal d'este, pelo q peço a vmce me dezemgane: se me corres-
[27]
ponde com igual amor, ao q eu lhe sacrifico juntamte com
[28]
a ma escravidam:, se me desprezou a offerta do escrito por nam po-
[29]
der corresponder, se por castigo da minha ouzadia: se foi
[30]
entregue do escrito q a vmce entreguei dentro da carta de prego:

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