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Maarten Janssen, 2014-

CARDS1007

1635. Carta de Baltasar Dias para seu primo, Bartolomeu Dias, mercador.

ResumoO autor manda notícias várias do Brasil para Lisboa, desde as familiares, sobre um sobrinho do destinatário que ele acolheu na Bahia, às políticas, sobre a crise no Brasil e a guerra contra os Holandeses.
Autor(es) Baltasar Dias
Destinatário(s) Bartolomeu Dias            
De América, Brasil, Bahia
Para S.l.
Contexto

Processo relativo a Bartolomeu Dias, acusado de bigamia. A sua primeira mulher, Luísa Carneira, foi julgada por adultério e sentenciada a degredo perpétuo para o Brasil. Bartolomeu Dias casou segunda vez por ter corrido a notícia de que a mulher tinha morrido, mas afinal estava viva e morava, inclusivamente, em Lisboa (CARDS1008). O réu foi condenado a cinco anos de degredo para Mazagão, a ter instrução ordinária e a fazer penitência espiritual. No seu processo, a Inquisição arquivou-lhe a correspondência com um primo, Baltazar Dias, que estava na Bahia e aí se ocupava com as suas fazendas de tabaco e açúcar e com o ensino de estudantes.

Suporte duas folhas de papel dobradas, a primeira escrita no rosto e verso e a segunda escrita no rosto com o sobrescrito no verso
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 1805
Fólios 98r-99v
Transcrição Ana Rita Guilherme
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Ana Rita Guilherme
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

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Ao snor Bortolameu dias gde Deos porte vinte Jhesũs maria Joseph; em 29 de junho 635 annos

Hũa de Vm me foi dada en 20 de janeiro a Coal festejei muito por me dizer nella fiquava Com saude e toda obrigaCam de de Caza Comservelha Deos por largos anos Comforme Vm, ha mister e este tam Certo Como obriguado lhe dezeja Novas minhas sam ao prezente fiquar Com saude Deos graças, prestes sempre pera tudo o que se offereCer de seu CerviCo; a esta teRa chegou seu sobrinho oito dias antes do natal do Coal eu não foi sabedor senão a 15 de Janeiro porque moro pola terra dentro 20 legoas e tanto que o soube me enbarquei a Cidade em sua busqua adonde o achei em Companhia de soldado filho de maria gomes a tinhoza mais perdido que aproveitado o Cal tinha vendido o seu vestido de lona e juntamente o bisCouto de que na ssua dis me mãdava tambem o tinha gasto mas disso nada emporta so diguo que não sei o modo que Vm me mandou este mosso porque veo Cheo de tinha e a Cabessa feita hũa bostella sem saber ler Cousa de que eu muito me espantei porque entenda Vm que os mossos que não sabem ler não prestão qua pera nada eu o tirei da Cidade e o tive en Cura dês janeiro ate pasCoa que a Cura fora o que elle Comeo me Custou 20 Cruzados em pataquas e so em azeite gastei 4 pataquas e em panos da CabeCa gastei 3 varas de pano delgado o mestre que foi hũa molher lhe tirou Coantos Cabellos elle tina na Cabessa Com hũa tenas sem lhe fiCar nenhũ, Comtudo no que mostra deve fiquar são agora o tenho posto a feReiro e saralheiro Junto a par de min Com home muito grande official, primeiro o dei a alfaiate e não no quis aprender o Rapas he maldito travesso não ha quem possa Com elle tenho feito obrigaCão de dar Coatro annos e ei de vestillo de Roupa de linho a minha Comta Ja lhe Comprei 3 varas de pano pera hũas 2 seroulas que lhe mandei fazer porque não trouxe mais que hũas que as outras lhe fiquarão no mar a Carapussa Cailhe no Mar das Camizas tem tres furtarolhe hũa, e eu me espanto mandar Vm mosso sem vir aCostado a outro Camarada que mestres não fazem Comta mais que de seu selario Vm o soCorra Com Roupa de linho porque nesta teRa Custa a pezo de dinheiro e eu nem pera min a tenho dos mais gastos farei tudo o que puder que bastar ser cousas de Vm, pera tudo ser bem pago

Muito me peza do emfadamento que Vm me dis teve aCerqua do Senhor Bispo sem me poder ser bom ja Com isso se não enfade mais porque sem isso me ei de ordenar Coando Deos seja servido, o que pesso a Vm he que esta Ca Antonio de Coutos Carneiro primo do desembargador Dioguo de sa migel o Coal me tem

feito muitas honras so por lhe eu dizer Conhecia seus parentes elle me deu duzentos mil Reis en terra para effeto de eu me ordenar mas não o quis o Bispo aCeitar Vm, me aja Cartas pera elle de seus parentes em que me aCreditem o ser eu pessoa honrada por que entẽda Vm que val tanto o Credito Como a fazenda e tambem me aja algũas Cartas de Joam alvares Ribeiro pera frades bentos que qua tem parentes seus que sempre prestão pera Coalquer cousa, A Migel pinto esCrevo sobre hũa eransa que esta qua pegado adonde eu vivo sendo Cazo que tenha effeito e venha ter Com Vm sobre passar a preCuraCão em Lxa por india e Mina; Vm a tome a sua Conta passala e mandar ma que eu pagarei tudo o Custo, esta Carta que vai dentro na de Vm, me fassa merce darma a quem vai deregida e sendo que me lhe queira dar 2000 Reis em Companhia della me fara muita merCe, que em o naVio do Casam mandarei Com que se page tudo, pois foi tan venturozo que o primeiro emprego que fis nesta terra de tabaCo me levou a furtuna agora tenho feixo d assuquar ja pera mandar que vai na não adonde Vai o Casam e delle se pagara Vm do que lhe pesso me de a essa pessoa que de modo e outro pagarei o Risquo; essas Cartas me envie a meu pay; De Cristovão Rebello pudera dizer a Vm muitos disbarates que qua lhe tem aContecido aserqua de se fazer fidalgo a fforsa mas não faltara quem digua pello bom a fama que qua veo Cobrar; Eu Deos louvado estou bem aCommodado que este anno de 1635 ganho 70000 Reis a ensinar estudantes e o anno que vem ei de ganhar outro tanto dandome Déos saude; e assi detremino Coando qua me não ordenar embarquar me muito sedo so pera me ir ordenar; do Bispo do porto me avize Vm se da ja ordẽms ou se esta ja enterrado

ACerqua daquele home que Vm me aviza saiba se esta qua tenho feito toda a deligẽCia por minha Via; e muitas, e não aChei novas delle so me disse manoel pinto do porto que o CaRegara as Costas pera a Cova em pernãobuquo; elle esta embarquado em hũa Nao de antonio de Coutos pera essa terra e indo la se emformara Vm do Certo

Porque nesta terra não ha quem de novas delle Comtudo eu farei toda a deligenCia e avendo algũa nova avizarei logo Desta terra não ha que Comtar senão muitas fomes e mizerias que chegou a valer o alqueire de farinha de geRra a 4 pataquas os homẽs não fazem senão asistir em perpetua geRa e sse Deos nos não aCode Com Armada que venha todos seremos olandezes seu sobrinho fica Com saude e manda a Vm que aja esta por sua e sua avo e may e tias e primos e primas e irmãos e irmãs muitos Recados; e eu a todos fasso o mesmo pedindo a Vm me esCreva en todas as oCaziois que ouver largas novas de portugal e principalmente de sua saude a Coal Deos Conserve a Vm por largos annos Com prospero estado Como este seu lhe dezeja Bahia Coando me esCrever ponha no sobreesCrito a Antonio luis alfayate na Rua do Collegio pera que mas envie adonde eu estiver

Primo de Vm Balthezar dias

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