CARDS2050
[1730]. Carta de Joana da Trindade para a sua avó.
Autor(es)
Joana da Trindade
Destinatário(s)
Anónima8
Resumo
A autora conta à sua avó pormenores do envolvimento amoroso de uma ama, empregada pela avó, com um padre.
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Minha avo E minha Senhora
sinto a morer as cousas que Vm dis no
seu Escrito pois pudia fiar de mim que mais avia punir
pelo que lhe toqua do que por
criadas Emfim adiente que a minha
furtuna he galante Esta mosa dis que se Vm soubera
o que he Esa ama lhe não avia por culpa
nenhuma que
Ela dizelo a ama do senhor Antonio Garadas hera para que Ela lho
disese Esta qua se não atrevia a dizelo que
Em huã ocazião Em
caza quando la Estavão todos lhe teve Ela a chave da sua arca
Escondida muitos dias como Vm soube a qual chave servia
num
caxamzinho da senhora Dona theodora E huã ocazião a fui achar com
Ele aberto E lhe tirou hum corno de agevixe de tremolas E eu
lhe dise não bulise Em
cousa nenhuma que se lhe tirase algua
cousa se avia achar menos, quando Vm as mandou aos capuxos
a via sacra Estando Elas de joelhos la dentro
se ergeo ela
E lhe falou E ele lhe dise viese para fora que dentro na Igreja se não
falava E ela veio para fora E lhe falou fora todo o tempo
que ela
quis E lhe dise lhe queria muito que Ele a tinha Emfeitisado que
Emquanto ele Estivese Em Lxa se não
avia ela hir Embora
E se confesava a ele todas as vezes que Vm a mandava a Igreja
sem Vm o saber E o que mais Ela
não hovio que Ela dise muitas
vezes queria fugir Com ele Eu lhe dise hera isso
tentasão do demonio a agoa de cordova duas vezes a levou a Igreja
para lha dar deu lha dentro no Confesunario E num dia de são
João que Vm a mandou ao recio ver as capelas com a preta
o qual padre Emcontrou la E veio a falar com ele todo o
Caminho e tempo que Ela quis E tão Emlevada deixou perder
a perta E o dipois andou douda por ela E a preta a chorar E a
foi achar na rua dos canos E numa ocazião Estando
Vm em caza pasou Ele pelo rego E ela lhe queria
abir a porta do quintal para Ele Emtrar
para dentro para lhe
lhe falar na Esquada Eu lhe dise me não metia com iso que ao
Depois o não queria pagar se ela o fizese
Eu navia dizer a senhor
E ela se retirou não fes mas na Igreja lhe falava todas as
vezes que la hia, o
corno
de agevixe me deu Ela a mim
E me dise se me perguntasem que mo dera disese Eu o troxera
de alcobasa E lhe tirou hum rotario de contas brancas com
corola de prata
E o que mais Eu não sey E ela me dise falava
as mais das noites Com o Moxila de Lourenço Caetano da ginela
da camara E ele lhe deu os dois pentes de tataruga que
ela me
Emprestou quando vim E por Vm não saber os deu ela a seu
Irmão as Escondidas para que lhos dese a ela diente de Vm
dizendo
que Ele lhos dava E lhe deu hum lenso de canbraia E lhe deu hum
Coarto de ouro que Ela gastou na nazare quando la foi E lhe dava
tudo
pela ginela E ela he que me dezencaminhava para que Eu não
fose a Vm homilde porque dezia que quando
a gente se mostrava a
Vm homilde antão Estava Vm pior E que tudo he a mesma
verdade que se ela lhe levanta algum testemunho que ela lho não
perdoi E lhe dise tudo de Izabel logo quando Ela veio de alcobasa
E defamou a sua caza de sorte que Ela o não pudia Cer dise que
suas merces Estavão tão pobres que Estavão devendo as orelhas
E venderão as cazas para se remediarem E quada ora lhe vinhão
os devedores a porta E que o senhor respondia não tinha com que pagar
o que Eu achei tudo mentira Eu detremino ter sedo grade que
ja a pedia mas diseme a madre prioresa me daria a reposta Em ma
dando logo avizo a Vm que nela lhe dira o mais mas que a ama
foi
o demonio que com ela se meteu que se ela não fora tanto sua
alcoviteira não ficara Ela tão culpada mas que agora lhe
peza não dizer tudo a
Vm que todas as noites tirava a Vm
as chaves debaixo da cabiseira para lhe revolver tudo quanto Vm tinha
Eu não falei com niguem que Ela se mo alevanta Deos sabe a
verdade que na caza de Vm nunqua tive Esa ofoiteza para a grade
fica
mais que he o que pude saber Deos me guarde a Vm muitos anos
Neta E serva de Vm
Joanna
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