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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1258

[1600]. Carta de Maria Correia para João Batista de Oliveira, seu filho, criado do bispo do Porto.

ResumoA autora agradece ao seu filho as notícias que este anteriormente lhe enviou e aproveita para se queixar do seu outro filho.
Autor(es) Maria Correia
Destinatário(s) João Baptista de Oliveira            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Porto
Contexto

Por casualidade, os familiares do Santo Ofício que andavam no encalce de um tal Gaspar Ribeiro junto à ribeira da praia de Buarcos encontraram numa fragata um mancebo que agia de modo suspeito. Ao ser preso e revistado, encontrou-se em poder de Francisco Correia da Silva (TSO, IL, proc. 1943) uma carta, da qual se lavrou uma certidão, constante no processo do cónego Vicente Nogueira (TSO, IL, proc. 4241, fl. 20v). Ali se certificava ter sido encontrada numa algibeira de Francisco, não contendo sobrescrito e não mostrando ter sido fechada. No seu depoimento, o preso alegou que ia para o Porto a fim de ir ter com um seu irmão que estava ao serviço do bispo daquela diocese. Quanto à carta achada nos seus pertences, as circunstâncias apontavam que aquele jovem "a levava feita para a mandar ao reverendo Vicente Nogueira", depois de lhe ter fugido dia de St.ª Catarina de manhã, levando consigo 56 mil reis, além de uns quantos trastes, entre os quais se contavam as chaves do escritório que lhe furtara da algibeira. Ao saber que Francisco Correia estava preso naquela inquisição, o cónego remeteu um requerimento, reclamando a restituição daquela quantia (TSO, IL, proc. 4241, fl. 23r).

Vicente Nogueira fizera, na verdade, a primeira confissão de culpa de sodomia perante aquele tribunal aos 28 anos, correndo o ano de 1614, sendo à data um clérigo de missa em Coimbra, remontando os factos confessados a 1607. Tornou a apresentar-se voluntariamente a 27 de novembro, 2 e 17 de dezembro de 1630, sempre muito solícito e cooperante. As duas cartas escritas por si datam, como se observa, antes da sua prisão, decorrida a 17 de junho de 1631. A que se encontra no fólio 73r fora entregue àquele tribunal inquisitorial através do padre Álvaro Pires, fazendo-se nela referência a um seu pajem, João Garcês ‒ "um mancebo ao parecer de vinte e dois anos, alto do corpo, a quem começa a barba, hábito de estudante comprido”. Na verdade este documento reflete as diligências do cónego face às muitas denúncias que corriam contra si na Inquisição de Lisboa, imediatamente após a prisão daquele seu jovem criado Francisco Correia, a 25 de novembro de 1630.

Torna-se evidente estarmos perante uma prova deliberadamente fabricada, planeando-se a sua entrega aparentemente casual, respondendo à prática habitual de apreensão de escritos por parte da inquisição. Se era suposto aquela carta cair na posse do Santo Ofício, o mesmo não se aplicava a outro documento igualmente dirigido ao padre Álvaro Pires (TSO, IL, proc. 4241, fl. 74), onde o autor coloca às claras os seus intentos. Ali se esclarece, com detalhe, o seu plano: discrimina aspetos a serem explicitamente tratados pelo padre Álvaro Pires, assim como por ele próprio, procurando articular esforços e combinar todas as estratégias para mascarar a verdade não revelada (como a memória do estudante de latim no colégio dos jesuítas, João Garcês, reportando-se os factos ao tempo em que era pajem daquele cónego). Muito embora pudesse incorrer no impedimento do reto ministério do Santo Ofício, além de violar o segredo de justiça e ser evidente ter feito confissão diminuta, na verdade a justiça inquisitorial tendeu a desvalorizar ou a tecer uma diferente interpretação daquelas provas documentais, particularmente focada nas suas confissões voluntárias.

Cumpre assinalar a existência de vasta bibliografia acerca do seu espólio bibliográfico e da sua correspondência, de que destacamos a compilação revista e atualizada em Serafim, João Carlos Gonçalves e José Adriano de Freitas Carvalho (2011), Um Diálogo Epistolar: D. Vicente Nogueira e o Marquês de Niza (1615-1654), Porto, CITEM/Edições Afrontamento.

Suporte uma folha de papel escrita em ambas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 1943
Fólios 7r-7v
Socio-Historical Keywords Tiago Machado de Castro
Transcrição Tiago Machado de de Castro
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2013

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A meu filho joão bap tista d olliveira em caza do snor bispo do porto q ds gde Porto

filho fonceca me deu a vosa juntameste ò que me mãdastes que muito istime que deos sabe come eu estava mas ficei muito pezarosa que não tive tempo de falar com ele que veio muito depresa não fes mais que chegar e logo se foi mas asim depresa me deu boas novas vosas e do senhor bispo pirmita deos serem as que eu de comtino lhe peso pera que se llembre de vos e de minhas nisidades a carta que me mãdais dizer eu a farei queira deos porlhe a grasa ao senhor estevo fuzeiro me lembra que se não esqueca de min pera me emcomemdar ao senhor bispo que se compadeca de minhas nicidades. o que me mãdais primgumtar do anen he muito llindo eu o tenho em muita istima e o mais deos volo page em vos dar grasa com o senhor bispo pera que asim lleveis adiamte o que me mãdais dizer que me havedes mãdar ate o natal muito o estimarei pera minhas nisidades que mal sabeis vos o que se pasa nesta caza e mais oje que esta tam camsado o tempo com as novas que me mãdais dos meus capelos fico mui alvoracada e vosas irmãs com as suas e tambem vos mãdam dizer que sempre estiveram prestes pera cousas de voso sirviso que mãdeis a midida e as agulas e tudo o que lhe mãdardes estimaram como de irmão que tamte querem e asim istimam suas cousas o que não podes pagar senão em pidir a deos vos faca seu servico mãdaime dizer se quizes que me mãdereis o que tiverdes voso de alguã merce que o senhor vos tiver feito bem mo podeis mãdar como bom filho que eu vos afirmo que se souberas as milhas nisidades que muito melhor o fizeras não falo senão no prezente que dizervos eu o que padesi sete mezes com voso irmão não se pode comtar digo que

não sei Como sou viva o que agora tenho de comcolacam he mãdarme dizer que esta muito bem deos mo aquiete camdo lhe escreverdes dailhe vosa rempemcam que eu ca li as vosas que lhe mãdareis e folgei de as ler fazeio asim bem sabeis o que importa se me ouverdes de mãdar algum dinheiro não mo mãdeis por ele que não quero que lhe acomteca alguã cousa ce o senhor bispo vos fizer alguã merce como tenho dito se vos parecer bem ao pai do fonceca que eu tenho quem o va ai catar ou fazei o que vos pareser e isto não vos obrige a nenhuma cousa que toque ao senhor bispo que eu não quero senão o que for voso e nisto que he sirvilo com toda a fieldade vou emcomendo muito que olheis o que vos emporta e a nos todas e com isto me dareis muita comcolacam e vereis a bemcam de deos que vos faca ceu servo que espero nele de vos ver como eu desejo a deos que vos guarde

vosa mai maria correia

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