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Maarten Janssen, 2014-

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1659. Carta não autógrafa de António Fernandes da Mata para a irmã, Antónia Fernandes, e sobrinhas, Antónia Vicente e Isabel Vicente.

ResumoO autor dá notícias da sua vida familiar no Rio de Janeiro, lamenta a fraca produtividade sacarina e queixa-se da impunidade a que tem assistido por parte das autoridades eclesiásticas face ao marido de uma das sobrinhas. A carta foi escrita por um primo, Tomás Ribeiro.
Autor(es) António Fernandes da Mata
Destinatário(s) Antónia Fernandes            
De América, Brasil, Rio de Janeiro
Para S.l.
Contexto

O réu deste processo era João Vicente de Morais, natural de Punhete, marinheiro da carreira do Brasil. Foi acusado do pecado de bigamia porque ser casado com Isabel Vicente e ter tornado a casar no Brasil com Domingas Barbosa, sendo que a primeira mulher ainda era viva. Foi o tio da primeira mulher, António Fernandes da Mata, autor mental de três cartas aqui transcritas, quem denunciou o caso. O réu foi condenado ao degredo por cinco anos para Mazagão.

Suporte uma folha de papel dobrada escrita apenas no rosto
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 2674
Fólios 13r, 14v
Transcrição Ana Rita Guilherme
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Ana Rita Guilherme
Modernização Liliana Romão Teles
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Texto: -


[1]
3 de Julho 1659
[2]
Jhũs Maria
[3]
Minha irmã E sobrinhos
[4]
Como a Nao do lima faltou, E foi a Parnãobuco me faltarão cartas suas,
[5]
nẽ o q as devia levar tratou de mas mandar dela como vierão outras por correo
[6]
E como nella devião escrever, o não fizerão nesta frota, q sinti pello mto que dezejo novas suas,
[7]
Delhe Deos a saude E vida, q essas orfans hão mister q suposto tronco velho sempre fara sua obrigassão como may, a quẽ mando minhas saudozas lembranças E a mas sobrinhas o mesmo E sua irmã E sobrinhos juntamte E todos nos encommendamos en suas orassõis.
[8]
Eu passo meus custumados achaques, mas lembrasse Deos de em me aviventar tantos, pa ser tambẽ emparo de mas obrigassõis q duas filhas Cazei
[9]
agora tenho outras duas a minha conta E a de Deos primeiramte q são a cazada como q se o não fora E sua fa minha neta molher feita E menino de que seu pai tão pouco ou nada se lembra nẽ eu tenho esperanças de vir
[10]
e se Deos o levara la onde esta me fizera grde mce
[11]
são tudo favores do ceo pa meu bem que os q nesta Vida tem perfeitos gostos serto he não averem de ter duas glorias sendo este mundo Vale de lagrimas.
[12]
Não deixei de fazer mas diligencias o Vigario geral, q não ouve ate gora Perlado pa esse bom genro de Vm ser prezo E obrigareno a q fosse fazer Vida sua primra molher,
[13]
mas as justissas deste brazill são de Compadres, E o interesse fas atabafar tudo.
[14]
E indo o mesmo Vigario geral a vizitar essas partes donde elle esta Cazado, não fes por isso nada, E me disse lhe escapara auzentãdosse
[15]
tudo falso.
[16]
nesta frota veo Perlado, q parece mais zeloso se se lhe não pegar a tinha do interesse
[17]
espero na Nao do lima novas cartas de Vms E justificassão, E veremos o q nisto podemos fazer.
[18]
q bem nos parecemos na boa Ventura filhas q homẽ cria tantos trabalhos, pa tais gostos.
[19]
Sintidissimo fico não poder mandar nestes navios hũa lembranssa de amor,
[20]
he a cauza q neste anno não tive assuquere q pudesse embarcar por ser a novidade ruim,
[21]
E alguã que deu pessimo q mais avião de ser os gastos do q elle valiria,
[22]
assĩ q o vendi aqui a snor de navio q como elles não pagão fretes por os levarẽ en nao sua lhe tẽ outra conta q não ao dono do assuquar, E ainda o dinhro q por elle me derão, he a pagar daqui a sseis mezes depois da partida.
[23]
Vira a nao do lima q he peçoa serta E nella mandarei, o q puder que ate gora fui dezempenhandome de gastos de minhas doensas E algũs negros q comprei fiados que sẽ elles não ha viver nesta terra.
[24]
E assi escreverei mais largo,
[25]
E ao nosso Padre tambẽ todos lhes mandamos infinitas saudades de amor, E lhes pedimos nos encomende a Virgẽ dos martires, E a sto Anto, q tambẽ de ca faremos o mesmo a Cujas peçoas gde nosso snor E lhes de bons sucessos en todas suas couzas.
[26]
Amen.
[27]
de seu irmão d alma Anto frz da matta

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