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Maarten Janssen, 2014-

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1677. Carta de Manuel Dias para Manuel da Silva Pereira.

ResumoO autor escreve ao amigo confirmando que recebeu a sua carta pelo navio Boneventure e diz-lhe que pensava que ele estivesse em Madrid. Escreve também sobre questões políticas e sobre o dote de Marcos Barboza.
Autor(es) Manuel Dias
Destinatário(s) Manuel da Silva Pereira            
De Inglaterra, Londres
Para S.l.
Contexto

Manuel da Silva Pereira, que viria a ser sogro de Francisco de Melo e Castro, nasceu no Cadaval, freguesia de Nossa Senhora da Conceição, onde foi batizado. Era filho de João Gomes da Silva, mercador de panos que andava pelas feiras, e neto de jornaleiros. O pai tinha nascido em S. Miguel de Genezes, termo de Barcelos, fruto da união de Francisco Alvares, criado, e Maria Gomes, caseira do abade da freguesia, que era oriundo do Cadaval e a tinha daí trazido para que ela continuasse ao seu serviço. Ainda moço, João decidiu tentar a sorte na terra da mãe, onde veio a distinguir-se pela sua participação na administração municipal e na irmandade do Santíssimo Sacramento. A sua vida de feirante permitiu-lhe conhecer a mulher, Isabel, nascida no Bombarral, termo da vila de Óbidos. Dos dois filhos do casal, um, também de nome João, permaneceu na terra, mas o outro, Manuel da Silva Pereira, foi para Lisboa ainda adolescente. Terá sido aí que se tornou protegido do magistrado Duarte Ribeiro de Macedo. Sabia ler e escrever e mostrava-se “capaz de poder ser encarregado de negócios de importância e engenho”, embora não tivesse qualquer grau académico. Seria assim o seu fiel secretário, acompanhando-o nas suas missões diplomáticas em Paris (1668-76), Madrid (1677-79) e Turim (1680). Após a morte do diplomata, de quem foi herdeiro, seria nomeado Guarda-mor do Consulado da Casa da Índia. Cerca de 1685, quando residia na casa da Rua Formosa, freguesia das Mercês, casou com uma vizinha, Michaella Antónia da Silva, muito mais jovem e descendente de funcionários públicos em Portugal e em Espanha. Em 1693, requereu ao Tribunal do Santo Ofício que se fizessem diligências sobre a sua “limpeza de sangue e geração”, bom como da de sua mulher, pois queria candidatar-se ao cargo de Familiar do Santo Oficio. Neste processo de habilitações diz-se que o casal não tinha filhos. Assim, só depois disso terão tido uma menina, D. Maria Joaquina Xavier da Silva. Seria esta filha a estabelecer a ligação de Manuel da Silva Pereira à família Melo e Castro: Maria Joaquina viria a casar com Francisco de Melo e Castro, filho ilegítimo de André de Melo e Castro, 4º Conde das Galveias. Da sua união nasceram depois Manuel Bernardo de Melo e Castro, 1º Visconde da Lourinhã, e Martinho de Melo e Castro, diplomata, ministro e reformador da armada portuguesa no reinado de D. Maria I.

Fontes:

Faria, Ana Maria Homem Leal de. 2005. Duarte Ribeiro de Macedo, um Diplomata Moderno (1618 – 1680). Dissertação de Doutoramento. Universidade de Lisboa.

Faria, Ana Maria Homem Leal de. 2008. Arquitectos da Paz: A Diplomacia Portuguesa de 1640 a 1815, Lisboa, Tribuna da História.

Schedel, Madalena Serrão Franco. 2010. Guerra na Europa e interesses de Portugal: as colónias e o comércio ultramarino. A acção política e diplomática de D. João de Melo e Castro, V Conde das Galveias (1792 -1814). Tese de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita no rosto e verso
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Arquivos de Família
Fundo Casa dos Condes de Galveias
Cota arquivística Maço 5
Transcrição Ana Guilherme
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Fernanda Pratas
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

Texto: -


[1]
Amo e Sor
[2]
Por este navio Boneventure que ha chegado aqui recebi huã de Vm que mto estimei pellas boas novas que Vm me da de sua saude
[3]
e pella lembrança q Vm tem deste seu criado lhe bejo as maõs
[4]
Eu imaginava que Vm esta-ria ja em Madrid falando Castelha-no e andando as pancadas com esses picaros e vejo agora que não ha saido inda de Lxa;
[5]
das novas que Vm me da tinhamos ja ca al-guãs noticias
[6]
e os menistros atras de q o nosso Princepe quizesse ser tambem Medianro dizendo que nos não tinhamos nada que fazer neste nego
[7]
seguresse Vm que são gdes dezavergonhados e que mere-cem que nos os ponhamos a ssar
[8]
tomara eu que esses gollilhas q la ha inda nessa terra /se he que são Portuguezes/ ouvissem os dezaforos que os Cas-telhanos por ca dizem e o modo com que nos tratão e ao nosso Princepe
[9]
que nos não sabem outro nome mais que judios Rebelhados e duque de Bragança
[10]
e que asim q o seu Carlinhos tiver idade que Logo nos poem os pes no pescoço
[11]
bem sei que estas praticas e modos de fallar he couza de povo mas he certo nos não tem boa von-tade:
[12]
e bom fora que nos nos aprovei-tassemos desta ocazião ou de guerra ou da Mediação porque de outra maneira as pazes passadas não vallem nada.
[13]
Ora Sor meu eu não quero fallar mais neste nego
[14]
Vms la estão q ovem e o entendem fação o que for mais conveniente pa a nossa conservação.
[15]
Vm me pede lhe mande 4 arateis de Coffe:
[16]
neste navio por nome mercador da Provence mr Daniel Parson lhe mando huã caixa com seis arrateis
[17]
por não ir em vazio são dous em po e 4 em fava
[18]
tudo vai como digo em huã caixeta com o sobrescrito pa o Sor Duarte Ribro o Capitão o entregara a Vm em lhe mostrando esta carta
[19]
fes de custo vinte e chilin que são tres mil cento e sincoenta rs que Vm fara favor entregar a meu Cunhado Jozeph de Campos nosso amo Joze de Castro o conhece mui bem;
[20]
se Vm me achar ca-pas de o servir em alguã couza aqui me tem mto as suas ordens
[21]
nosso amo Marcos Barboza me dice o outro dia tinha ja embol-çado o seu dotte q forão mil Livras sterlinas com que cedo carregara com a molher pa caza e teremos aqui huãs nopces
[22]
espero que Vm nos de tãobem cedo algũ alegrão mas por vida sua q seja mais bonita q esta porq de outra manra não terão os amos gosto de o irem vizitar mtas vezes
[23]
Ds gde a Vm
[24]
Londres 20 de Junho de 1677
[25]
Amo e Cato de Vm Mel Dias

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