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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0142

1561. Carta do padre Matias Bicudo Furtado para Lourenço Pires de Távora, embaixador em Roma.

Author(s)

Matias Bicudo Furtado      

Addressee(s)

Lourenço Pires de Távora                        

Summary

O autor, residente no Cairo, dá cabais informações ao embaixador português em Roma: refere-se longamente a assuntos de política, viagens, comércio e relações pessoais.

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Ao muyto Ille sor o sor Lourẽço pirez de tavora do cõçelho delRey nosso sor E seu em baixador em corte de Roma // meu sor [fig1] senhor

Em 18 de março passado tive hũa de vs do primeiro de fevereiro da qual entendo aver reçebido quatro minhas por via de thomas de carnoça por o qual as eu avia enderesçado mas não de maneira que vs me dis porque a copia da de 22 de julho e a de 29 d outubro cria eu lhe serião mandadas por via d Arrauza mas paresçe que francisco biffoli ou não teve nesta parte o cuidado que cumpria ou ellas lhe não forão a mão a tempo que o podesse fazer/ todavia folgo serẽlhe dadas porque servirão ao menos de mostrarlhe o cuidado que tenho do que me manda/ nas derradeiras não escrevi a vs algũs queixumes dos meus olhos por ao tempo (louvores ao senhor) me achar algũ tanto milhor delles e assi não avendo este empedimẽto escrevi por todas as naos que pera meçina partirão e sou çerto serão minhas cartas dadas a joão lomelino por o bom cuidado que francisco biffoli me escreve aver tido em lhas enderesçar por via de veneza lhe não tenho escrito por não aver pera ali outra nao que a que a copia desta levará/ e vs pode crer e estar satisfeito não faltarei de por todas vias o avisar de tudo o que qua passa/

As cousas do suez tenho escrito a vs estarem em calma e ter jafar capitão mãdado a corte e cresse mãdar pedir dez gales somente pera ellas fazer prezos na costa de melinde ou da india/ A reposta e resolução desta sua petição se espera cada dia e crese sera a que elle deseja porque alem de aver mãdado grosso presente aos barõs he feito deste cairo o que nas minhas passadas escrevi a vs ser do zebir muito grande amigo seu/ Assi que elle esperança e eu cuidado grandissimo d entender tudo o que for possivel seus desenhos e de tudo o que socceder avisar a vs/

e açerqua das cousas de suez não que de novo lhe (como digo) tudo ali está em calma/ aqui no cairo faz e tenho entendido avera pera se poderem armar 25 galés/ A madeira de que avisado tenho ser vindo em quatro naos toda vinda d Alexandria aqui e os nossos portuguezes passarão os dias passados o tempo em trazer as costas da borda do nillo a hũa terraçena que perto está onde se poem em pilha, he antre elle remos mais de mill//

Tanto que Anrrique da gama aqui chegou compeçou logo a mostrarse a toda sorte d homẽ crendo que por esta via lhe viria a salvação/ e foi isto tão desordenadamente que vendo eu os dãnos que daqui lhe poderião vir lhe fiz por portuguez desses cativos amigo meu entender quã errado caminho levava pera poder alcãsar o que tanto mostrava desejar e que soubesse çerto que nesta terã avia homẽ muito particular servidor de vs e que por sua liberdade faria tudo o que fosse possivel/ a qual cousa seria muito façil se elle de sua parte puzesse hũa pouca de paçiençia somente e que çedo por carta de vs veria a çerteza do que lhe dezia/ ficou elle algũ tanto acquietado com esta esperança e ao seu servidor escreveo hũa carta e nella me dava conta de suas cousas e me rogava quisesse verme elle/ não quis eu nesta parte fazerlhe serviço vendo quã rota a fama de sua fugida entre judeus andava mas não deixei de o fazer cõçolar o milhor que pude dandolhe a causa por que ao tempo se não podia por em obra o que eu por elle desejava fazer/ passou algũs dias esta esperança e vendo que o que eu lhe dezia se dillatava mais do que elle queria tornou de novo a matarme com recados vão e recados vẽ, e poderão tanto os descõçertos que nesta partida fez que temẽdo eu mais grave quis cair em não pequeno erro e determinei verme elle e antre as mais cousas que elle passei lhe pedi se lembrasse de quẽ era e que pois nosso señor o avia trazido a tal estado soubesse elle averse como homẽ prudente e maduro e não como mãcebo na qual cõta o tinhão os que de seus descõcertos sabião prometendolhe por sua liberdade fazer o que por minha propia pessoa deveria outras pallavras que elle devera ficar satisfeito, mas não quis minha vẽtura e triste sorte que isto lhe podesse persuadir mas queria (sem ponderar o perigo em que todos encorriamos) se puzesem logo em execução çertos conçeptos (ou por milhor dizer) sonhos seus/ mas como nosso señor nos maiores trabalhos se ache quis por sua bondade infinita socorrernos a carta de vs

[fig1] mais que por outra de mỹ muito contentamento reçebida entendendo elle o officio que eu avia feito em avisar delle a vs e o que me mãda por sua liberdade aja de fazer se acquietou e esta çerto da liberdade que nosso señor por sua misericordia lhe dará/ eu folgo em estremo entender os desejos que vs della tem porque quanto sinto serẽ elles maiores, tanto mais me esforçarei a nisso servir, e darme o cargo desta obra reçebo por merçe grandissima espero servila em causas em que mais por seu serviço se arrisque, e o que neste negoçeo dis lhe farei não quero sirva de mais que de meresçer o que diguo elle tenha ordenado entregarse a judeus do qual proposito o eu tirei e tinha determinado dar este cargo a christão amigo meu e desta determinação me tenho tambem por bom respeito tirado e tenho outro que muita industria e cuidado e a salvamento de todos faria ajuda de nosso señor tudo o que vs neste caso pode desejar, seu amo esta por baxa deste cairo e crese virá muito presto outro em seu luguar porque segũdo a uzança turquesqua não he esse o seu/ se elle se fosse seria pera nos grãde bém porque em se querendo partir o poderiamos fazer nosso feito e muito a nosso salvo, e isto estou esperãdo e terei çerteza por todo maio/ e sendo caso que o dito baxa aqui fique tenho determinado tanto que esta çerteza tiver metelo em hũa casa que ja pera isso tenho muito secreta e nella estara até a cousa se resfriar e depois darei ordem como passe a essa corte e casa, e isto ajuda de nosso señor seria o fim de setẽbro/ ora vs deve estar muito satisfeito e cõfiar que neste negoçeo farei tudo o que for neçessario, e viva seguro e cõtẽte porque a menor parte desta obra tenho mais a cargo que todas minhas cousas jũtas porque tanto o amor que a suas cousas tenho que quando eu bem fizesse por seu serviço mais daquillo que eu posso não deixaria por isso de ser muito menos do que eu devo e do que eu queria poder por elle fazer/ e nesta não tenho mais que dizerlhe somente pedirlhe cõsole ao señor Amtonio da gama e a senhora dona isabel da silva encomẽdandolhe que orações seja ajudado nosso proposito e entenção porque isto o de que a mais neçessidade//

por meçina tenho dado aviso da reçebida das suas de 2 e ultimo de novẽbro/ o dupplicado que dis averme por veneza mãdado não tenho agora avido, mas esperasse cada dia nao por a qual o terei os 25 cruzados que na sua dis por a dita via me mãda//

o que açerqua dos escravos me mãdo diga aos portuguezes e fiadores / fiz/ e na esperança que em vs tem vivẽ todos muito cõtẽtes//

Eu tenho escrito a vs os nomes dos que novamente são vindos e esta serão tambẽ escritos por elles mesmos, agora morreo aqui tal castanho que era patrão de fusta//

Terei cuidado de fazer o offiçio que me mãda o mocadão creo aceptará de boa võtade a merçe que vs lhe offereçe//

Dos corrimentos d Antonio pinto me não espanto que ja sei serem todos esses homẽs criados na india nessas nossas partes tanganheiros, mas não queria que sua enfermidade fosse tal que causasse algũa tardança e enpedisse sua vida/

Folgo muito em estremo ser André Ribeiro cheguado a essa casa, fez o que eu lhe rogei, nẽ d homẽ tão honrado esperava eu menos//

Com o vizo-rei ser tal devemos todos estar cõtentes, queira nosso señor faça de maneira como estes imigos não gozẽ tanto de nos como, te aqui fizerão/ ainda que passado o cabo de boa esperãça dizem cursarẽ logo outros vẽtos

Eu escrevi a vs ser surrate tomado por Ilerei de cambaia por assi mo affirmarẽ da parte d sequeira que aqui está cativo/ mas depois soube não aver mais que pagar o capitão daquella fortaleza tributo a Ilerei nosso senor/

[fig1] aviso a vs da muita quantidade d espeçias que aos o estreito os dous anos passados veo e se espera ainda este, e quero crér que tanta copia como aquí vejo vir não podera passar sem consentimento dos que aquellas partes governão/ e crea ser muito mais do que nas passadas tenho dito porque cada dia entrão neste cairo caravanas do tór e cóçer e não trazẽ outra cousa que espeçias e tenho sabido serem entradas d anno a esta parte neste cairo çínquoenta mil quintães d espeçias de toda sorte e o mais pimẽta, cousa que não sei eu se a vs parescera fabulosa/ mas pode sér que o que direi lhe dará algũa cór de verdade/ A renda desta speçia estava agora faz tres annos em cem saccos (tem cada sacco seiçentos e vinta çinquo cruzados) e de dous anos a esta parte arribou a duzentos e çinquoenta saccos em tres anos/ e assi A renda d Alexandria estava em trezentos saccos e por causa da muita quantidade de pimẽta que na terra arribou a quinhentos saccos em tres annos/ ora veja vs esta puia a qual não seria se a muita copia d espeçias não fosse, as naos venezeanas que ao porto d Alexandria vẽ não levão outra cousa que espeçias e se as não ouvesse nenhũa entraria nelle/ e o mesmo digo das de frança/ eu não sei a causa por que sua Alteza permite que os mercadores da india tratẽ neste estreito pois disso lhe vẽ grande dãno// não seria muito milhor que pois as naos que ao estreito vẽ partẽ dos portos de sua Alteza ou donde ao menos os podẽ obriguar que sua Alteza quizer ordenar que nenhũa nao sob pena castigo entrasse neste estreito/ e quẽ quizesse/ navegasse pera ormus, e os direitos que quer outro porto do estreito ao turco pagão, pagasse a sua Alteza e dali poderião levar os mercadores suas roupas que porto do sophí e dali por terra a halepo, e damasco, como agora fazem/ resultarião daqui muitos proveitos a sua Alteza, o primeiro que descarregando os mercadores suas mercadorias em ormus não se poderia furtar tãta quantidade de pimenta como por qua se faz/ o segundo que pagarião os direitos em ormus/ o terceiro que não vindo por esta parte nẽ por aquella tanta quantidade de pimẽta serião venezeanos neçessitados hir por ella a portugal/ o quarto e mais importante que vedandose esta navegação o turco não teria gales em moquá, nẽ averia suaquẽ nẽ coçer e o estreito não seria tão abũdante de naos gelvas e outros navios como agora / e não levarião a india tantas mercadorias ao bem dos nossos tão contrairos como agora levão/ porque as naos que pera a india vão não levão senão cobre, azouge, enxofre, lanças, espadas, cavallos, e turcos/ veu que cada ano vẽ hũa nao de surrate muito grossa carregada de pimenta e não leva outra cousa que armas e turcos cõprados por seu dinheiro/ ora os capitães de sua Alteza não vem isto/ porque dara o vizo-rei cartas ao capitão de surrate pera poder mãdar naos ao estreito pois çerto ser imigo e não pretẽder outro que nosso dãno e avisar os turcos de nossas cousas/ contẽtome aver tocado estas cousas assi em breve sobre as quães creo fará vs o descurso neçessario/

Manda o vizo-rei tres catures ao estreito a quẽ novas d armada, nũqua tamanho erro / o suez

[fig1] esteril de todos os do estreito, e a elle não de nenhũa parte, assi por caresçer de pão agoa e das mais neçessarias como por o turco por causa d armada que alí está dar esta ordem/ e não como a nossa ribeira de goa que não vẽ turco nẽ mouro daquellas partes que não saiba que não saiba dizer quantos pregos tem o galeão são luís assi que a gelva ou navio que o nosso catur tomar não pode do que no suez se faz dizer cousa çerta/ senão de ouvida/ o são homẽs curiosos de saber, delleitão se de novas/ a mais rustica e bestial gente que ha no mũdo/ descalsa/ nua morta de fome e de çede, se mãda saber novas do Abexim outro/ mas d armada impossivel saberẽ outras salvo as que algũas vezes levarão, . s.. falsas, inçertas e algũas vezes vosas/ quanto milhor seria que sua Alteza ordenasse como neste cairo estivesse homẽ de quẽ este cargo se podesse cõfear pera que vendo as cousas por seus olhos possa dar o aviso neçessario assi na india como em portugal, e seria tambẽ cousa mui expediente ordenar sua Alteza como nesta carreira andassẽ dous homẽs indianos christãos pera que do que aqui estivesse levassẽ cada monção cartas a india/ e desta maneira se saberia çerto o que se faz e sua Alteza seria servido e escuzarse hião gastos e risco das fustas que ao estreito por esta causa vem/

Do Abexim não tenho nova algũa, os frades ou embaixadores ainda aqui estão, do que delles se fizer avisarei/ e não se offeresçendo outro peço a nosso señor faça tão contente quanto ha feito a mỹ em mo por señor, e peçolhe aja por bem reconhesçer/

sempre por tão verdadeiro e obrigado que eu lhe sou/ do cairo 4 d Abril 1561/

Beija as Illustres mãos de vs/ Mathias bicudo furtado

Legenda:

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