1729. Carta não autógrafa de Úrsula de Santa Córdula para o seu marido, João Rodrigues ou Fernandes, lavrador de mandioca.

Já são tantas as vezes que vos tenho escrito que me cauza pejo pedir a quem me escreve faça por tantas e repetidas occaziões porem nam quero que em nunhũ tempo vos queixeis da falta do meu cuidado e amor, estimando mais que tudo logreis saude porque nella consiste todo o meu Remedio, e amparo e da minha podeis dispor ainda que pouco boa porque alem de doenssas que tenho tido, as mas e res pennas que me acompanhão hé a falta da vossa vista, como tambem o não teres o cuido de me escrever duas regras, isto escrevendo todos os que nessas terras se achão as suas mulheres e parentes, só eu não tenho a fortuna de ver duas regras vossas sendo o que com mais ançia as dezejava, em-fim seja Deus mto louvado que me deu hum marido, tão descuidado que nem siquer do que tão pouco custa que sam duas regras me fas partetipante e assim vos rogo pello amor de Deus, e pello mto que sempre vos quis vos não descuideis de mim ao menos com letras vossas pois hé couza que vos não custa dro como tambem vos recomendo vos vinhais pa minha compa porque ainda que venhais mto pobre eu gainharey a pedra de hum Rio pa nos sustentarmos ambos, e olhay não façais pouco cazo do que vos digo que he levado do mto amor e disvello com que sempre vos amey, mas o que eu entendo, he que vos deveis estar nessas terras com algũ devertimto que vos fas esqueçer dos meus amores, emfim seja o que for, eu sempre hei de ser amte e o que vos digo que se algum dia me suçeder algum trabalho, tomo a Deus por testemunha pa me queixar de vos, isto baste pa que vos possa reduzir ao que deveis fazer como marido, e se não quizeres Deus vos aju-de, e a mim não desampare, minha Mai, e Pai e Irmãs, parentes, e conheçidos vos invião muntas saudades, e da ua pte vos pedem o mesmo que assima deixo, e por não ser mais longa fico ro- rogando a Deus vos gde como eu dezejo Angra o ultimo de Janro de 1729