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Maarten Janssen, 2014-

Representação em facsímile

1797. Carta de José António de Carvalho e Almeida, padre, para João Afonso Dias, abade e comissário do Santo Ofício.

ResumoO autor escreve ao comissário João Afonso Dias para lhe contar o que ouviu em conversa ao boticário Manuel José de Neiva.
Autor(es) José António de Carvalho e Almeida
Destinatário(s) João Afonso Dias            
De Portugal, Guimarães, Cabeceiras de Basto, Casa de Pielas
Para Portugal, Guimarães, Seidões
Contexto

Manuel José de Neiva, boticário da freguesia de S. Pedro de Cerva, comarca de Vila Real, proferira algumas proposiçoes escandalosas e heréticas em conversa com o padre José Antonio de Carvalho e Almeida, na presença de Manuel José Carvalho (lavrador) e de seu filho Francisco Xavier de Carvalho (cavaleiro da Ordem de S. Tiago), da casa do Mato de Ribeira de Pena, em casa do sargento mor Miguel Joaquim de Carvalho e Almeida, também de Ribeira de Pena. Depois de interrogados, Manuel José Carvalho disse que não sabia de nada, mas os outros confirmaram ter ouvido tais proposições. O comissário encarregue da diligência parece ter chegado à conclusão de que as acusações feitas contra Manuel José de Neiva eram verdadeiras, mas o processo não parece ter sido instaurado.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte meia folha não dobrada escrita em ambos os lados.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 412
Fólios 383r-v
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Page 383r > 383v

Mto Rmo Sr João Afonço Dias

Prezadisimo Sr dezejo a VMce saude mto perfeita, e q se sirva da q pesuo certa no seu querer. Achandome eu em caza do sargto Mor do Conco de Ribeira de Pena no dia dois do mez de Fevro deste prezente anno d' 1797 com Manoel Joze de Neiva boticario da frga e Conco de S Pedro de cerva comarca de va Real, e entrando se a falar nos progresos dos Francezes, proferio o do q no q elles obravavão parece, q Ds os ajudava, e talves apovaria tudo o q elles tem feito: ao q respondi, q poderia ser; mas q certamte não hera do agrado de Ds o ultraje da religião e da sua ley: replicou dizendo: quem sabe q ley será mais do agrado de Ds respondi: aquella q elle deu a Moizés, e Cristo ensinou; respondeu qm sabe o q Ds dice a Moizés, este podia escrever o q quizese, e dizer q Ds lho dicera, q como não havia testas po-dia dizer o q quizese: respondi, q era certeza de , e qm fose herege duvidaria diso, e q reparase bem o q dizia, q tinha duas testas prezentes, q erão Manoel Je de Carvo e seu fo Franco Xavier da caza do Mato do mmo Conco de Ribra de Penna q ahi se achavão pa ouvir misa na capella do do sargto Mor; e me apartei delle e o deixei ficando a conversar com os dos: depois ao jantar, por eu me mostrarar emfasteado do q lhe ouvira, me dice q aquillo q dicera, fora de graça: mas não pude comprihender, se esta satisfação era sincera, ou timorata: fiquei perplexo mto tempo se a devia, ou não denunciar, e consultando pesoas pias, huns me dizião que sim outros, q não por parecer questão de argumto; mas lembrando-me q o do se alargou em dogmas de Religião e dizer q tinha certos livros q me não lembra o nome, e q tinha lido outros prohividos, a que eu acudi, dizendo, q os não devia ler, nem ter, e me responder, que sabia escolher o bom, e deixar o mao, q não fazia cazo desas excomunhoens, e acressendo dizerme o do sargto Mor, q o Vezitador q tinha andado pella sua frga no anno d' 1795 i elle tinha chamado Pedro Livre, pella liberde com q falava, e elle ser tido por instroido em Dog-mas, e dizer q não credito a couza de vizoens, ou revelaçoens e q a nosa Religião tem mtas couzas, q parecem superstiçoens, e que na vontade do Pontifice estava fazer q se venerase este, ou aquelle sto; e na festa do S Braz q se fez no dia segte na Igra do Salva-



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