Meu senhor
depois de ter escripto a vmce huma carta, se me offeresse hum negocio nessa
cidade com algumas sombras de comveniencia, e como eu nella não
tenho de quem
me valler, e só em vmce reconhesso não só amizade, como tanbem prestimo,
me he precizo recorrer à sua pessoa, pedindo-lhe primeiro
disfarce tanta
impertinencia com que o molesto; e vem a ser o cazo que me falla hum mouro que tem nessa
terra hum Irmão, e pregunta q se tenho quem nessa cidade me valha para que este alcansse
o ser solto, não terá duvida a tirarme deste captiveiro,
emportunandome que
faça com brevidade esta deligencia; eu que me vejo empocebelitado para este negocio, e me vejo
preceguido de seus rogos,
lhe pedi hũa carta para o tal Irmão que remeterei dentro
nesta, para que vmce lha mande emtregar, e veja se tem isto algum caminho,
avizeme
de tudo e o que paçar com o mouro; e no cazo que este lhe pessa a vmce algum dinheiro, ou lhe
diga que para me tirar de lá
he necesario dar algumas moedas, se estas não
forem muitas mas sim em tal quantidade que nos faça conta, em tal cazo lhas
pode vmce
prometer, porem não dar cousa nenhuma, sem primeiro me avizar do
que com elle tem paçado, porque quero com seu Irmão ajustar o como isto ha
de ser; tudo isto ha de ser se com o seu poder e ajuda de algũns amigos vmce
lhe puder alcansar Liberdade, o que emtendo será facil, pello pouco
cazo que El
Rey faz em comceder semelhantes merces; que se por desdita lhe sentir algum
imcomodo, ou emtender que daqui se nos pode
oreginar alguâ tratada, que ao depois
nos seja maes costoza, em semelhante cazo não me fas conta que nisto se falle,
emfim como vmce he em tudo
perito, e não ignora estes negocios, de vmce espero
o milhor aserto, e toda a noticia neste particuar, como tanbem
ocazioins em que possa
ocupar a minha vontade, porque suposto não posso servillo, supre a vontade ao
dezejo, este tenho
muito grande de que logre saude, e pesso a Deos o guarde como dezejo
Argel
15 de Mayo de 1729
De vmce muito obrigadissimo e Criado
Jozeph Alves Pereira