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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1723. Carta de Francisco Gonçalves Machado Carrina, padre, para seu tio, Jorge Fernandes, também padre.

ResumoO autor faz vários pedidos em relação a um processo em que está envolvido e entrega recados a seu tio.
Autor(es) Francisco Gonçalves Machado Carrina
Destinatário(s) Jorge Fernandes            
De Portugal, Miranda
Para Portugal, Bragança, Argozelo
Contexto

Segundo informações do Caderno do Promotor, alguns moradores de Argozelo identificados como «gente de nação dos cristãos novos» disseram que Isabel Gamboa, moça solteira e «mulher meretriz», difamava todos os moradores com mentiras e nomes muito injuriosos, vivendo durante o dia e à noite com a porta aberta, pelo que havia pendências e discórdias entre ela e aqueles moradores. Isabel Gamboa nem seria daquele lugar e não pagava a sisa, pelo que os moradores pediram a sua expulsão ao Juiz de Fora (19/10/1730). Depois de expulsa, Isabel Gamboa começou a queixar-se dizendo que, se a queriam expulsar, era por ela não querer «ajudiar» com eles, no que foi ouvida pelo padre Francisco Gonçalves Machado Carrina, que denunciou o caso ao Santo Ofício. O comissário que se deslocou a Argozelo não concluiu nada do auto de testemunhas a que procedeu. Comentou até, na carta de 20/10/1731 que dirigiu a um Inquisidor de Coimbra (transcrição normalizada): «Na forma que VSa. me ordena, fiz esta diligência inquirindo as testemunhas nela conteúdas, com aquela exação e cuidado que a matéria pede, sem que pudesse alcançar cousa alguma mais que o deposto pelas tais testemunhas, de cuja verdade não posso fazer firme conceito. Porque as pessoas que, pela sua qualidade e limpeza de sangue, se fazem dignas de crédito não podem saber cousa alguma dos particulares da gente de nação dos cristãos novos pela grande cautela que usam, mostrando-se nas suas ações exteriores mais pios, devotos e católicos que os mesmos cristãos velhos.» (fl. 254v). A Inquisição não terá chegado a levar esta suspeita de judaísmo por diante, pelo que houve lugar à instauração de processo. Os moradores de Argozelo que Isabel Gamboa denunciara, entretanto, fizeram a sua própria exposição ao Santo Ofício e alegaram sobretudo que o padre Francisco Gonçalves Machado Carrina era «inimigo capital dos sobreditos moradores», conservando destes um ódio que o levava a maquinar as mais ardilosas artimanhas para os incriminar. Como o dito padre era «de tão má língua», chegava a insultar os moradores de «cães, perros, judeus e hebreus», como pretenderam provar pelas catorze cartas que enviaram à Inquisição e que o padre tinha trocado, anos antes, com um seu tio. A razão do conflito entre o padre e os moradores não fica nunca muito clara na documentação conservada, mas teve provavelmente a ver com o facto de o padre ter sido processado no passado sob acusação de ter engravidado uma jovem.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte meia folha de papel dobrada escrita em três faces e com sobrescrito na quarta.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 361
Fólios [259m]r-v
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Ana Luísa Costa
Contextualização Leonor Tavares
Data da transcrição2008

Page [259m]r > [25 m]v

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Meu thio e Sor suposto dezi

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a a V m no esCrito do joaquim
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o Conigo não avia de pedir na
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da se lo não devesem supo
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nho repararia hera hum es
[6]
Crito aberto e portador o joa
[7]
qui q suposto la falava
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em fogaCas he porque tive
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Carta q me mandaram 3
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e deume 2 e asim te qui te
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nho detido o Conigo por mi
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nhas moles sempre faCa
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a petiCão ao juis de fora
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pa q o barbeiro pase a Certi
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dão jurada a petiCão he di
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fulano q pa bem de sua
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justa e Certos requerimentos
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q tem parante o Mto Rdo dor
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Vgro gal lhe he neCeCario
[20]
q o barbeiro lhe pase por Cer
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tidão em Como tanto
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tenpo q esta doente de Cama pella mande
[23]
pasar jurada e mande esta Com a proCura
[24]
Com pela sua mau ao letrado em Carta fecha
[25]
da e Com isto se a de tapar inte pasar os Reis q
[26]
ao Conigo não lhe falta medo Dis q o pe de al
[27]
tar so he obrigado pagar metade e que em
[28]
tam tanbem V m lhe a de pagar 2 ou 3 sam
[29]
joaneiras de Argo q Coberou V m e
[30]
vase em que não mande logo as Certidois
[31]
ao letrado Com isto q digo não inporta q
[32]
venhão mais tarde e as pagas do Conigo se se
[33]
resolver a porssuaCão avisarei a V m reme
[34]
to a V m o testemunho in carne do homem e vei
[35]
ja a vista dele Coal de nos tinha rezam e
[36]
lealo pa ver se dis he asim ou não e logo
[37]
o rasgue a minha apelaCam Custara a des
[38]
pedir os Autos daqui 3 moedas e asim se não
[39]
tem vendido alguma Couza mais venda e
[40]
por este me mande algum dro q torna Ca e
[41]
he neCeCario dro pa quem for levar os Au
[42]
tos a braga q me tem prometido o janeCo
[43]
e he o que me Comvem a respeito de que me he
[44]
neCeCario q me meta hum memorial ao sr
[45]
ArCebispo e intregar humas Cartas ao Bispo
[46]
De anel e diga tudo asim Como foi dizer a mi-
[47]
guel Luis que fora a tirar a janela de
[48]
ana pires e de noute fora ter Com V m

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