Contexto | António da Cruz e Silva, solteiro, era filho de Pedro Martins e de Mariana Silva, e não tinha ofício. Encontrava-se preso no Limoeiro e daí escreveu uma carta ao padre José da Silveira, dizendo que entregava a alma ao diabo. José da Silveira dirigiu-se à cadeia do Limoeiro para falar com o réu, mas o mesmo manteve a sua posição, reiterando que de facto tinha passado a adorar Lúcifer e que era isso mesmo que queria dizer ao Santo Ofício. O padre José da Silveira foi questionado pela Inquisição de Lisboa sobre se António da Cruz e Silva seria louco, ao que respondeu que não era, mas que tinha muita raiva e cólera. De acordo com José da Silveira, o réu estava muito zangado com os seus pais porque estes andavam a tratar de um meio de o embarcar para fora. Além disso, o réu fora condenado ao degredo por cinco anos (no Caderno do Promotor não é indicado o motivo desta sentença) para Cacheu. O padre concluiu que aquelas declarações proferidas por António da Cruz e Silva não foram fruto de um erro nem de nenhuma paixão, mas antes pensadas porque o réu pretendia, com elas, chamar a atenção do Santo Ofício e, assim, impedir a execução da sua sentença. De facto, o conteúdo das cartas de António da Cruz e Silva revela que o autor se enraivecera com várias pessoas, incluindo os seus pais, e que não aceitava de maneira nenhuma o seu degredo. |