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Maarten Janssen, 2014-

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1797. Carta de José António de Carvalho e Almeida, padre, para João Afonso Dias, abade e comissário do Santo Ofício.

Autor(es)

José António de Carvalho e Almeida      

Destinatário(s)

João Afonso Dias                        

Resumo

O autor escreve ao comissário João Afonso Dias para lhe contar o que ouviu em conversa ao boticário Manuel José de Neiva.

Texto: -


[1]
Mto Rmo Sr João Afonço Dias
[2]
Prezadisimo Sr dezejo a VMce saude mto perfeita, e q se sirva da q pesuo certa no seu querer.
[3]
Achandome eu em caza do sargto Mor do Conco de Ribeira de Pena no dia dois do mez de Fevro deste prezente anno d' 1797 com Manoel Joze de Neiva boticario da frga e Conco de S Pedro de cerva comarca de va Real, e entrando se a falar nos progresos dos Francezes, proferio o do q no q elles obravavão parece, q Ds os ajudava, e talves apovaria tudo o q elles tem feito:
[4]
ao q respondi, q poderia ser; mas q certamte não hera do agrado de Ds o ultraje da religião e da sua ley:
[5]
replicou dizendo: quem sabe q ley será mais do agrado de Ds
[6]
respondi: aquella q elle deu a Moizés, e Cristo ensinou;
[7]
respondeu qm sabe o q Ds dice a Moizés,
[8]
este podia escrever o q quizese, e dizer q Ds lho dicera, q como não havia testas po-dia dizer o q quizese:
[9]
respondi, q era certeza de , e qm fose herege duvidaria diso, e q reparase bem o q dizia, q tinha duas testas prezentes, q erão Manoel Je de Carvo e seu fo Franco Xavier da caza do Mato do mmo Conco de Ribra de Penna q ahi se achavão pa ouvir misa na capella do do sargto Mor;
[10]
e me apartei delle e o deixei ficando a conversar com os dos:
[11]
depois ao jantar, por eu me mostrarar emfasteado do q lhe ouvira, me dice q aquillo q dicera, fora de graça: mas não pude comprihender, se esta satisfação era sincera, ou timorata:
[12]
fiquei perplexo mto tempo se a devia, ou não denunciar, e consultando pesoas pias, huns me dizião que sim outros, q não por parecer questão de argumto;
[13]
mas lembrando-me q o do se alargou em dogmas de Religião e dizer q tinha certos livros q me não lembra o nome, e q tinha lido outros prohividos, a que eu acudi, dizendo, q os não devia ler, nem ter, e me responder, que sabia escolher o bom, e deixar o mao, q não fazia cazo desas excomunhoens,
[14]
e acressendo dizerme o do sargto Mor, q o Vezitador q tinha andado pella sua frga no anno d' 1795 i elle tinha chamado Pedro Livre, pella liberde com q falava, e elle ser tido por instroido em Dog-mas, e dizer q não credito a couza de vizoens, ou revelaçoens e q a nosa Religião tem mtas couzas, q parecem superstiçoens, e que na vontade do Pontifice estava fazer q se venerase este, ou aquelle sto;
[15]
e na festa do S Braz q se fez no dia segte na Igra do Salva- Salvador do dito Conco de Ribra de Pena fazer nnota publicamte do Pregador, por contar certa vizão q tivera hum santo, dizendo: aquelle ainda cre em vizoens.
[16]
e tendo emformação q o espirito do tal não he mto catolico, antes bastantemte lebertino nas suas praticas, me diliberei a fazer esta deliga e a pola na sua determinação
[17]
por estar capacitado, q asim o devia fazer.
[18]
Ds gde a VMce como mto lhe dezeja quem he
[19]
de VMce mto venerador
[20]
O Pe Je Anto d Carvo e Almda Cabeceiras de Basto Caza de Piellas 12 de Junho d' 1797

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